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09/03/2016

Avaliação da produção científica é tema da Cadernos

Informe Ensp


Lançado em março, o volume 32 número 1 da revista Cadernos de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) debate inovação, qualidade e quantidade na avaliação da produção científica de pesquisadores, grupos de pesquisa e programas de pós-graduação. Na opinião das editoras da publicação Cláudia Medina Coeli, Marilia Sá Carvalho, Luciana Dias de Lima, alcançar excelência simultaneamente nas três dimensões é impraticável. “Uma produção científica inovadora e de qualidade não será volumosa, uma vez que novas ideias demandam tempo para serem adequadamente testadas. Por outro lado, é possível manter uma produção volumosa e de qualidade por meio da aplicação repetida de protocolos padronizados, mas ela não será inovadora, uma vez que protocolos rígidos são adequados apenas a poucos tipos de perguntas de investigação”, destacam. Por fim, acrescentam elas, testar muitas hipóteses inovadoras em curto espaço de tempo inviabiliza a execução de pesquisas com o rigor metodológico necessário, e, em alguns casos extremos, estimula a adoção de práticas indesejadas, como a fraude e a fabricação de dados.

O editorial critica os processos de avaliação que priorizam a publicação de grandes volumes de artigos em revistas de elevado fator de impacto que têm induzido pesquisadores a escolherem os trinômios alto volume/alta inovação/baixa qualidade, e alto volume/alta qualidade/baixa inovação. Segundo as editoras, a insatisfação com o sistema atual de avaliação da produção científica e suas consequências indesejadas têm sido explicitadas por meio de uma série de manifestos, como The San Francisco Declaration on Research Assessment (Dora), The Leiden Manifesto for Research Metrics, e The Lancet REWARD (REduce research Waste And Reward Diligence). “Em todas as iniciativas apontadas, uma série de ações são propostas visando modificar a forma como a avaliação da produção científica deve ser conduzida. Na área de Saúde Coletiva no Brasil, o debate sobre a necessidade de se adotar novos modelos de avaliação de pesquisadores e programas de pós-graduação vem ganhando destaque no contexto recente”, afirmam.

Em uma série de artigos publicados no Lancet ligados a REWARD, informa o editorial, estimou-se que 85% dos recursos aplicados em pesquisa podem ser considerados desperdício, em função de estudos mal desenvolvidos, desde a etapa de desenho até a análise dos dados. Outras preocupações apontadas são as revisões sistemáticas, que deveriam sintetizar as evidências, mas com frequência não cumprem esse papel adequadamente porque fazem a síntese de pesquisas de baixa qualidade, além da qualidade do texto submetido à publicação.

Em 2015, a Cadernos de Saúde Pública alcançou a marca de mais de 2 mil artigos submetidos; entretanto, dizem as editoras, preocupa o fato de recusar, sem encaminhar para revisão por pares, cerca de 70% dos artigos submetidos. “Baixa relevância, pouca originalidade e inadequação metodológica constituem os principais motivos dessa recusa inicial. Em parte dos casos, recursos aplicados com o financiamento de pesquisa podem estar sendo desperdiçados. Os custos envolvidos na publicação representam apenas uma fração dos recursos destinados ao financiamento de pesquisas”, apontam. A Cadernos preserva a gratuidade da publicação para autores, mas todo artigo processado, seja ele aceito ou recusado, tem um custo e um gasto público associados. 

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