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26/02/2013

Campus Fiocruz da Mata Atlântica lança projeto ecológico com o apoio do BNDES

Ricardo Valverde


O Campus Fiocruz da Mata Atlântica (CFMA), em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, deu início ao Projeto de Recuperação e Restauração Ecológica em seu território. Orçado em R$ 2,5 milhões, obtidos junto ao BNDES, o projeto teve origem a partir do diagnóstico do uso e ocupação do solo da região da antiga Colônia Juliano Moreira e na verificação do risco que a forte pressão antrópica exerce sobre a Mata Atlântica na vertente sudeste do Maciço da Pedra Branca, onde está o CFMA. Segundo uma das coordenadoras do projeto, a bióloga e doutora em biologia vegetal Andrea Vanini, a proposta é gerar modelos sustentáveis para a restauração florestal e conservação dos serviços ambientais do maciço e têm como foco a revitalização das microbacias dos rios Pavuninha e Engenho Novo ambos, localizados em Jacarepaguá. O projeto também busca o enriquecimento e a proteção da faixa marginal e de áreas de APPs, além da organização de cursos de capacitação em agente de restauração florestal e viveirista, em convênio com o Laboratório de Responsabilidade Sócio-Ambiental do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, coordenado pelo pesquisador João Silva.


 Para a equipe envolvida no projeto de recuperação, a relevância da questão ambiental está expressa nas diretrizes do Plano Diretor do CFMA, dentre as quais estão a garantia da preservação da biodiversidade, a criação de corredores ecológicos e a valorização e preservação dos elementos do patrimônio ambiental

Para a equipe envolvida no projeto de recuperação, a relevância da questão ambiental está expressa nas diretrizes do Plano Diretor do CFMA, dentre as quais estão a garantia da preservação da biodiversidade, a criação de corredores ecológicos e a valorização e preservação dos elementos do patrimônio ambiental


“Vamos trabalhar abaixo da cota 100, que é a área de preservação situada até o limite de 100 metros de altitude em relação ao nível do mar. Toda esta região do CFMA, que no passado sediou fazendas de cana de açúcar e café, passou por séculos de devastação. Em geral, em 1 hectare de Mata Atlântica encontram-se cerca de 400 espécies de árvores. Aqui, no entanto, estamos encontrando uma média de apenas 50 espécies”, afirma Andrea. Outro problema observado pela bióloga e equipe é a expressiva quantidade de espécies exóticas, como pés de jaqueira e de Jamelão, que serão gradativa e corretamente retirados e substituídos por plantas nativas da Mata Atlântica. “Isso tem que ser feito de maneira equilibrada, porque a fauna da região já está acostumada com essas árvores e delas extraem seus alimentos”, diz Andrea, acrescentando que o enriquecimento ambiental é uma das tarefas do projeto. O processo de licenciamento ambiental para a retirada de árvores exóticas está sendo apresentado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, órgão responsável pelo procedimento. Junto com Andrea, no projeto Junto com Andrea, no projeto estão também a bióloga e coordenadora Ivonne San Martin Gajardo, os engenheiros florestais Renata Moysés Carrione e Thiago Souza e o engenheiro agrônomo Marcelo Stumbo.


A sustentabilidade dos projetos de recuperação e restauração ecológica está diretamente relacionada à origem das sementes e à produção de mudas de boa qualidade e alta variabilidade genética. Andrea diz que a coleta de sementes para a produção de mudas será realizada nas áreas no entorno do Parque Estadual da Pedra Branca. As coletas serão restritas as áreas abaixo da cota de 100. As sementes serão catalogadas, armazenadas e semeadas no viveiro do Horto-Escola do CFMA, que está em reforma para abrigar essa atividade, com a utilização de mão de obra local, capacitada nos cursos que são organizados pela equipe técnica do projeto.



Outra parceria, com pesquisadores do Laboratório de Sementes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, prevê o desenvolvimento de estudos relacionados ao potencial de germinação de sementes de espécies de alto potencial de uso em projetos de restauração florestal. A cooperação, além de oferecer o conhecimento científico por meio de orientação técnica, disponibiliza a estrutura do laboratório de sementes da instituição. Os dados complementarão as informações sobre as espécies presentes no CFMA, sua importância ecológica e grau de ameaça e auxiliarão a definir estratégias de preservação.


Andrea adianta que o Horto-Escola, que será instalado no CFMA, garantirá não somente a produção de mudas para a restauração florestal, mas também o desenvolvimento de atividades pedagógicas para preparação de mão-de-obra qualificada para um mercado de trabalho promissor, que tem crescido bastante na região. Assim, o projeto também pretende constituir uma intervenção social direcionada à população do entorno do CFMA que seja capaz de elevar o nível de formação básica e profissional das comunidades, possibilitando a geração de oportunidades de emprego pela oferta de cursos nas áreas de meio ambiente.


Para a equipe envolvida no projeto de recuperação, a relevância da questão ambiental está expressa nas diretrizes do Plano Diretor do Campus Fiocruz da Mata Atlântica, dentre as quais podem ser citadas a garantia da preservação da biodiversidade; a criação de corredores ecológicos integrando fragmentos vegetais, de forma a facilitar o fluxo de espécies vegetais e animais; e a valorização e preservação dos elementos do patrimônio ambiental. O projeto quer restaurar  o ecossistema onde o campus está inserido para que volte a propiciar os serviços naturais, melhore a qualidade de água, previna problemas de abastecimento e reduza a erosão. “Além disso, vamos proteger a flora e fauna da Mata Atlântica, um bioma considerado como um dos hotspots mundiais, ou seja, uma das prioridades para a conservação de biodiversidade no planeta”, resume Andrea.


Histórico e localização


A região de Jacarepaguá, onde está o Campus Fiocruz da Mata Atlântica, foi desde o inicio da colonização portuguesa ocupada por engenhos de cana-de-açúcar. A partir da década de 1830 transformou seus antigos engenhos de açúcar em fazendas de lavoura de café. Na segunda metade do século 19 os núcleos de ocupação territorial, que se desenvolveram principalmente da confluência dos caminhos e em volta das fazendas, começando feiçoes urbanas com grandes residências, estradas e um movimentado comércio.


Na área encontra-se o Maciço da Pedra Branca, que circunda os bairros de Guaratiba a oeste, Bangu e Realengo ao norte, Jacarepaguá a leste, Barra da Tijuca a sudoeste, Recreio dos Bandeirantes e Grumari ao sul e Campo Grande a noroeste. No maciço está um dos maiores parques urbanos do mundo, o Parque Estadual da Pedra Branca, que tem cerca de 12,5 mil hectares de área coberta por vegetação típica de Mata Atlântica. O parque tem uma importante rede hidrográfica, já que parte dela contribui para o abastecimento de água da região circunvizinha, destacando-se as represas do Pau da Fome e do Camorim, das Taxas e do Engenho Novo.


Na área situam-se oito bacias principais e 53 microbacias, os principais divisores das grandes bacias do município do Rio de Janeiro. Três grandes bacias dividem o maciço em suas vertentes: Baía de Guanabara (norte), Lagoas Costeiras (leste) e Baía de Sepetiba (oeste). As divisões da rede hidrográfica apresentam-se segundo as diferentes serras que constituem o maciço, como a Serra do Quilombo, que separa a bacia do Rio Camorim, que deságua na Lagoa de Jacarepaguá, dos rios Grande e Engenho Novo, que desaguam na Baixada de Jacarepaguá, bem como dos rios Paineiras, Morto e Taxas, que desaguam na Baixada de Guaratiba.


Publicado em 25/2/2013.

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