Com a presença de representantes ministeriais e pesquisadores de diversas instituições, foi lançado no Museu da Vida, na Fiocruz, o Centro de Informação em Saúde Silvestre (CISS). O centro é um espaço virtual projetado para consolidar informações sobre a circulação, na fauna silvestre, de patógenos que possam vir a acometer humanos, e buscar sua interface com mudanças ambientais, avaliando os impactos da perda da biodiversidade sobre a saúde. Este conhecimento poderá subsidiar o desenvolvimento de modelos de previsão de emergência de doenças e disponibilizar dados confiáveis para tomadores de decisão. Concebido pela bióloga da Fiocruz Marcia Chame, o projeto contou com a participação de pesquisadores do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), que ajudaram a desenvolver o Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS), uma plataforma computacional que agrega bases de dados de diferentes instituições e informações que serão fornecidas por pesquisadores e por cidadãos em geral. Uma rede de laboratórios vai apoiar os trabalhos do centro, validando as informações geradas pelo sistema.
Aparelhos móveis enviarão informações
Por meio de um aplicativo, inicialmente em sistema Android, que pode ser baixado e instalado gratuitamente em aparelhos móveis (smartphones e tablets), qualquer pessoa poderá enviar registros georreferenciados e fotos de animais e incluir informações adicionais sobre problemas de saúde ou comportamentos atípicos que tenha observado. Um sistema de modelagem matemática irá correlacionar a distância e a frequência dos registros com as anormalidades informadas, o tipo de animal envolvido e outras informações para a construção de modelos de alertas. Quando o sistema gerar um alerta, a informação estará disponível para os setores responsáveis e especialistas que deverão tomar as medidas de cabíveis. Para apoiar estes setores e validar o alerta, os laboratórios da Rede de Laboratórios em Saúde Silvestre se colocam como pontos focais para recebimento de amostras coletadas no campo e das informações geradas para o dignóstico que voltam a alimentar o sistema. Quando um alerta for validado, ele proverá dados para a geração de um modelo de previsão de agravos de oportunidades ecológicas para ocorrência de doenças.
Integrado ao Projeto de Nacional de Ações Público-Privada para a Biodiversidade (Probio 2), coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e financiado pelo Global Environmental Facility (GEF) e pelo Banco Mundial, em parceria com o Fundo Brasileiro da Biodiversidade e a Caixa Econômica Federal, o centro deverá subsidiar, com informação qualificada, ações e políticas para fortalecer a conservação da biodiversidade e a melhoria da saúde humana e dos animais, além de apresentar boas práticas para o desenvolvimento sustentável. O CISS conta com a colaboração de diversas unidades da Fiocruz, como Bio-Manguinhos, Icict e ICC. Também são parceiros no projeto a Embrapa, o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro e os ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
Marcia Chame abriu a mesa com agradecimentos e disse que o presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, foi o parceiro número 1 do projeto. A professora explicou que mudanças antropogênicas e demográficas estão relacionadas ao aumento das doenças. “É a questão da emergência das doenças que nos traz aqui. A biodiversidade é enorme e boa parte não conhecemos. Há uma alta complexidade na ecologia de doenças. Nosso trabalho começa agora, que é manipular os dados”, afirmou. Para Marcia, o Probio 2 trouxe um determinante de inovação no projeto que visa preencher uma lacuna entre saúde humana, produção animal e saúde silvestre. Uma questão central, segundo ela, é de diagnóstico: “Buscamos quem faz diagnóstico da fauna silvestre no Brasil e desafiamos equipes a produzir kits de diagnósticos para o campo, porque sabendo com antecedência o que está circulando pode-se promover prevenção e economizar esforço e dinheiro.”
Representando Gadelha, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel, parabenizou Marcia pela capacidade de empreender e articular projetos, principalmente aqueles em rede, com instâncias da Fiocruz e externas. Rangel contou que Gadelha lamentou profundamente não poder estar presente no lançamento do centro porque viu a ideia nascer e hoje ela representa uma etapa diferenciada do trabalho da Fiocruz na interface saúde e ambiente. O vice-presidente também destacou que a Organização Panamericana de Saúde vê com bons olhos a Fiocruz assumir um tema emergente, que ultrapassa as fronteiras do setor saúde, para articulação institucional.
“Este é um dos temas estratégicos para trabalharmos de forma integrada, levando em conta o processo de desenvolvimento no mundo e especialmente no Brasil, a circulação de pessoas, a produção de alimentos, os animais e vetores de doenças. A movimentação da humanidade na Terra nos coloca desafios imensos e é fundamental que a saúde reconheça a importância desse tema”, disse. Rangel elogiou o sistema participativo do Centro: “Tem um pouco o gene da Fiocruz nesse pensamento”. Também integraram a mesa de abertura Eduardo Batista, chefe do Serviço de Inspeção e Saúde Animal da Superintendência Federal de Agricultura no Rio de Janeiro do Mapa, Daniela Oliveira, coordenadora geral do Probio 2/MMA, e Ronaldo Morato, do ICMBio.
Morato ressaltou que a biodiversidade não se restringe à fauna mostrada na TV, incluindo também organismos ocultos que têm papel importante no sistema de saúde e na vida silvestre. “As ferramentas de análise responderão perguntas sobre ecologias de espécies que a gente não vê e que causam impacto profundo na agropecuária e na saúde”, disse. Daniela Ocontou que o MMA negociou com o Banco Mundial R$ 22 milhões do fundo GEF com a ideia de promover a transversalização da biodiversidade numa parceria envolvendo vários ministérios. “Os resultados do Probio 2 vão sensibilizar setores privados e do governo sobre a relevância da conservação da biodiversidade. Estou ansiosa para ver os resultados e como elas vão ajudar nas tomadas de decisão do ministério”, afirmou.
Marcia Chame explicou a logo do centro – um tamanduá-folha contendo diversas espécies que representam a fauna do Brasil – e apresentou o site do projeto, que pode ser acessado aqui. Em seguida, os técnicos Maira Poltosi, Eduardo Krempser e Lázaro Oliveira apresentaram o SISS – o sistema por trás do site, considerado o “coração” do centro. Eles mostraram os mapas que apresentarão os resultados e a versão do aplicativo para aparelhos móveis, já disponível para download.