12/09/2017
Mais que promover saúde em uma área deflagrada, ser a zona de troca entre as teorias do campo da Saúde Pública e a prática cotidiana do cuidado. Essa é a missão, há cinquenta anos, encarada pelos profissionais do Centro de Saúde Germano Sinval Faria, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Na celebração de seu aniversário, estiveram reunidos, na Ensp, autoridades da Fiocruz, representantes do Conselho Nacional de Saúde e também da população que vive nas comunidades de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Uma ocasião festiva, mas também de profunda reflexão sobre os rumos do país, sobretudo no tocante às decisões políticas que retiram direitos, aumentam a exploração dos trabalhadores, promovem a mortande de jovens pobres e negros e contra as quais a Saúde Pública se torna uma trincheira de combate.
Autoridades da Fiocruz e representantes do Conselho Nacional de Saúde celebraram o aniversário do Centro de Saúde (foto: Informe Ensp)
Primeira a falar, Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz, comentou a importante relação do Centro de Saúde com o território de Manguinhos. "Para nós, a grande questão colocada sempre é a defesa do SUS, de um modelo de atenção pautado pela integralidade e pelo empoderamento do território; e o Centro de Saúde é um espaço históricamente importante para pensarmos nisso", afirmou.
Maria Laura Carvalho Bica, do Conselho Nacional de Saúde, lembrou dos atuais desafios que se colocam para o Sistema Único de Saúde. "Foram muitos anos de luta para a construção desse sistema, que hoje se vê sob ameaça, mas vamos seguir lutando", comentou.
Representando a Associação dos Servidores da Fiocruz (Ascof-SN), Paulo Garrido parabenizou o Centro de Saúde, que tem importância singular em sua trajetória na Fundação. "Além da importância do centro para a população do entorno da Fiocruz, quero lembrar que foi lá que fiz um tratamento há alhum tempo", disse.
Falando em nome do Conselho Gestor Intersetorial de Manguinhos, José Bezerra, um dos moradores mais antigos do território, mencionou a histórica relação da Fundação com as comunidades ao redor e trouxe um olhar de esperança com relação aos desafios do presente. "Eu me lembro de Sergio Arouca, e acho que muito do que vemos hoje, aqui, são sementes que ele plantou. Eu quero acreditar que nós vamos conseguir fazer uma curva e tomar a reta certa. Eu acredito nas pessoas que estão aqui e em muitas outras Brasil afora. Quero agradecer aos que nos oferecem o melhor atendimento possível e lembrar que precisamos lutar contra as reformas que estão sendo aprovadas no atual governo. Reforma tem que vir para melhor, nunca para pior", destacou.
Hermano Castro, diretor da Ensp/Fiocruz, lembrou o fato de que a relação da Fiocruz com a população que vive próxima e transita pela Fundação nem sempre foi como hoje, e o Centro de Saúde teve papel fundamental para estabelecer vínculos. "Eu me lembro que esse sentimento de territorialidade não existia. As pessoas vinham para cá para trabalhar, pesquisar e voltavam para as suas casas. É no Centro de Saúde que nasce essa relação. Foi também lá que discutimos e praticamos conceitos que, somente muito depois, foram assimilados como políticas públicas, como é o caso da Saúde da Família", explicou.
Marco Menezes, vice-diretor de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, lembrou dos conflitos que recentemente vêm se agravando em Manguinhos e têm impacto direto nas atividades do Centro de Saúde. "Em uma manifestação recente contra essas violências, eu vi um cartaz que dizia "a vida nas favelas importa". Esse é um momento crítico, em que temos que pensar como vamos nos comportar como uma instituição pública. Temos que nos posicionar contra a violência do estado, que vitima sempre os mais pobres", enfatizou.
Fechando a mesa de abertura, Eliane Chaves, chefe do Centro de Saúde, agradeceu a presença da integrante do Conselho Nacional de Saúde, que recentemente se reuniu na Fiocruz e saudou os representantes dos moradores de Manguinhos. "Em primeiro lugar, quero agradecer ao CNS e dizer que a vinda de vocês revigorou nosso trabalho aqui, no Centro de Saúde, que, em seu cotidiano, sofre com a violência que fecha os postos de saúde, interrompe a ação dos ACS etc. E quero, principalmente, agradecer ao apoio que recebemos da comunidade. Vocês são a razão do nosso trabalho", concluiu.