16/05/2019
A Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chikungunya (Replick), uma iniciativa fruto da parceria entre o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), foi lançada na última sexta-feira (10/5), durante o Simpósio Desafios e Oportunidades na Pesquisa Clínica em Chikungunya: Produzindo Evidências para Saúde Pública. A Replick envolve profissionais de 25 instituições de pesquisa e ensino em nove estados brasileiros. A mesa de abertura do evento contou com as presenças de Valdiléa Gonçalves Veloso dos Santos, diretora do INI/Fiocruz; de Marco Aurélio Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz); Denizar Vianna, secretário da Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE/MS); Julio Croda, diretor do Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis (Devit/SVS/MS); Camile Sachetti, representante do Departamento de Ciência e Tecnologia (Decit/SCTIE/MS); Cristina Lemos, representante da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro; Carlois de Mello, representante da Organização Pan-americana de Saúde (Opas/OMS), e Sinval Brandão Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT).
A proposta da Rede Replick é acompanhar uma coorte de dois mil pacientes, do diagnóstico ao manejo clínico da chikungunya, consolidando dados e experiências implementadas com sucesso no SUS de forma melhorar protocolos, amenizando assim os impactos da doença na saúde da população (foto: INI/Fiocruz)
“Como pesquisadora sei como é difícil estruturar uma rede desse porte, por isso quero parabenizar a todos os envolvidos no INI nesse processo e agradecer ao Ministério da Saúde pela parceria, porque sem o apoio dos gestores nós não conseguiríamos implementá-la. É fundamental destacar a importância desse trabalho pois caracteriza bastante o papel do nosso Instituto, a nossa capacidade de responder às ameaças de Saúde Pública rapidamente. Nós atuamos ativamente em diversas epidemias ao longo dos anos e penso na importância de manter essa rede articulada, o grupo preparado, para responder o mais brevemente possível a outras epidemias que certamente virão”, destacou a diretora do INI/Fiocruz, Valdiléa Veloso.
“A Rede é apenas um dos exemplos de como o Brasil pode se organizar para dar respostas efetivas no combate às diferentes epidemias, neste caso em específico, para a chikungunya”, destacou Marco Krieger (VPPIS/Fiocruz). Ainda durante sua exposição, Krieger falou sobre o papel da Fiocruz no desenvolvimento tecnológico, nos ensaios e testes clínicos, aproveitando os hospitais e serviços ambulatoriais existentes nas suas unidades. Além disso, destacou a produção de insumos para o [Sistema Único de Saúde] SUS em uma instituição que tem a Saúde como promotora de cidadania e que emprega cerca de 10% da força de trabalho nacional na área.
Denizar Vianna (SCTIE/MS), Julio Croda, (Devit/MS) e Carlois de Mello (Opas/OMS) lembraram o desafio que gestores de todas as esferas enfrentam atualmente com as epidemias que assolam o país. No que se refere às arboviroses em particular, todos ressaltaram que a regionalidade é um dos fatores chaves para esse problema, pois esses agravos apresentam comportamentos diferentes. Segundo eles, o tratamento da população deve ser adaptado em cada local e foram unânimes ao afirmar que o envolvimento com a academia é fundamental para que isso seja possível.
A proposta da Rede Replick é acompanhar uma coorte de dois mil pacientes, do diagnóstico ao manejo clínico da chikungunya, consolidando dados e experiências implementadas com sucesso no SUS de forma melhorar protocolos, amenizando assim os impactos da doença na saúde da população. Ao envolver uma extensa e diversificada gama de profissionais, como médicos (infectologistas, reumatologistas e clínicos), enfermeiros, farmacêuticos, biólogos, economistas, cientistas sociais, entre outros, a Rede é um grupo articulado que pode servir de modelo para outras ações no país.
O coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030, Paulo Gadelha, falou sobre esse plano de ação universal, indivisível e integrado que agrega as dimensões econômica, social e ambiental em busca do desenvolvimento social a partir de 5Ps: Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias. Gadelha destacou que o Brasil teve um papel protagonista na construção da Agenda 2030 ao buscar dar mais visibilidade para questões sociais e incorporar o tema Saúde e o reconhecimento do papel central da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Rede Replick
O pesquisador principal da Replick e integrante da equipe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas do INI/Fiocruz, o médico infectologista André Siqueira apresentou a Rede de Pesquisa Clínica e Aplicada em Chikungunya. Composta por 25 instituições de pesquisa e ensino em nove estados, a Rede envolve cerca de 40 pesquisadores focados em investigar como a doença afeta a vida da população não apenas em termos clínicos, mas também econômicos, psicológicos e sociais. O trabalho será feito em conjunto com gestores municipais e estaduais e com Ministério da Saúde para discutir pontos importantes a serem investigados durante os próximos três anos em uma coorte de cerca de duas mil pessoas em todo o país. A Replick conta com financiamento do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis (Decit/SVS/MS) e teve como base para sua construção a experiência exitosa da Renezika, que integra gestores, pesquisadores e sociedade civil no enfrentamento do vírus zika e seus impactos.
O estudo está dividido em quatro eixos temáticos: clínico, translacional, terapêutico e epidemiológico. “O aspecto clínico define como medir o acometimento da chikungunya e avaliar a melhora ou piora dos pacientes. Na parte translacional vamos investigar marcadores e fatores associados com as manifestações clínicas, riscos de cronicidade e complicação da doença. Na terapêutica abordaremos os diferentes tipos de tratamento, sejam medicamentosos ou complementares como as chamadas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS). Por fim, na parte epidemiológica discutiremos outros estudos para entender a abrangência da doença de forma a incluir pesquisas que apresentem os impactos socioeconômicos e psíquicos causados pela doença nos pacientes”, ressaltou André.
“Nós estamos em busca de dados para entender melhor a doença e quais as formas de amenizar o sofrimento das pessoas. Tínhamos uma impressão de que a chikungunya causava dor e não óbito, mas essa visão está sendo revista. Nossos estudos avaliarão isso melhor, de forma a propor soluções para esse grave problema de saúde que se apresenta em nosso país”, disse.
Continue a leitura no site do INI/Fiocruz.