26/10/2016
Lucas Rocha, Cristiane Albuquerque e Vinicius Ferreira (IOC/Fiocruz)
Construir um acervo científico de reconhecimento internacional demanda persistência, dedicação e determinação. A história da Coleção Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz (CEIOC/Fiocruz), uma das mais ricas e valiosas da América Latina não é diferente. Data de 1901, o depósito do primeiro exemplar, quando o próprio Oswaldo Cruz descreveu o mosquito Anopheles lutzi, transmissor da malária, primeira espécie descoberta pelos cientistas do IOC, conhecido como Instituto de Manguinhos. Ainda no início do século 20, o acervo recebeu contribuições de renomados pesquisadores, como Carlos Chagas e Arthur Neiva.
A modernização do acervo garantiu melhorias no acondicionamento dos espécimes (foto: Divulgação)
De lá para cá, a Coleção resistiu a episódios como o ‘Massacre de Manguinhos’ que, em 1970, atingiu o acervo de insetos e desmantelou integralmente a estrutura física. Na época, numa tentativa de resguardar o tesouro científico abrigado pela CEIOC, alguns exemplares foram enviados por empréstimo para guarda de outras instituições. Somente 35 anos depois, parte do valioso material retornou integralmente à Fiocruz e foi reincorporada ao acervo original. Anos depois, a Coleção passou por um processo de modernização, com a expansão do espaço e melhor acondicionamento do acervo.
Após 115 anos, a Coleção Entomológica está em plena atividade científica. Além de contar com cerca de cinco milhões de exemplares de insetos da fauna brasileira e de diversas regiões do mundo, esta vitrine da biodiversidade está disponível para cientistas nacionais e internacionais que podem acessar os dados do acervo por meio de consultas online.
Para lembrar a história do acervo e os desafios e perspectivas para o futuro, o Centro de Estudos do IOC promoveu, no dia 21 de outubro, uma sessão comemorativa. “Aos 115 anos, a CEIOC é um testemunho da ciência e da história. A preservação do acervo garante que as novas gerações conheçam esse tesouro da biodiversidade. Além disso, sua importância para a realização de pesquisas em âmbito nacional e internacional é de valor incomensurável”, ressaltou a vice-diretora de Serviços de Referência e Coleções Biológicas, Eliane Veiga da Costa. “As coleções biológicas representam instrumentos extremamente relevantes para o desenvolvimento científico e tecnológico do país. A Coleção Entomológica, em especial, desperta a atenção pelo seu valor único, por suas belezas e curiosidades”, acrescentou a vice-diretora de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Elisa Cupolillo.
A atual curadora, Jane Costa, chefe do Laboratório de Biodiversidade Entomológica do IOC, destacou a trajetória de modernização do acervo. “A CEIOC pode ser definida hoje como uma espiral crescente e ascendente, resultado de um trabalho colaborativo de inúmeros pesquisadores, curadores e profissionais e do investimento em políticas institucionais que beneficiam a preservação e divulgação do acervo”, salientou a curadora.
Passado, presente e futuro
Abrigada no Castelo Mourisco, sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro, a Coleção Entomológica é a mais antiga coleção biológica da Fiocruz. No Centro de Estudos, a pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) Magali Romero Sá abordou a perspectiva histórica do acervo, que ainda no século 20, recebeu espécies de carrapatos, mosquitos e moscas coletadas durante a realização de expedições científicas. “Havia pouquíssimos trabalhos sobre insetos, a descoberta da possibilidade de transmissão de doenças a partir de insetos vetores alavancou o interesse de pesquisadores sobre esse grupo, principalmente mosquitos”, explicou Magali, destacando o crescimento de coleções biológicas no início do século passado.
Atualmente, a Coleção colabora para a realização de estudos científicos por meio de serviços de consulta, empréstimo e depósito de espécimes, permuta com instituições de pesquisa, e atividades de divulgação científica (leia mais na página de serviços da Coleção). O investimento em políticas institucionais contribui para a modernização e preservação da CEIOC e de outros acervos, permitindo a ampliação da oferta de serviços. No encontro, a coordenadora de Coleções Biológicas da Fiocruz, Manuela da Silva, apresentou iniciativas como a modernização das páginas dos acervos na internet, visando a ampliação do acesso, e o projeto Preservo, parceria entre diferentes unidades da Fiocruz e o BNDES que garante financiamento para melhorias na organização dos espaços. Ela lembrou, ainda, a importância da adequação das atividades das Coleções às legislações nacionais e internacionais de acesso ao patrimônio genético. “As coleções têm um papel fundamental para a conservação da biodiversidade, por isso temos um papel fundamental de garantir que o uso desse material por diferentes pesquisadores seja feito de forma adequada, responsável e que garanta os direitos da nossa soberania sobre a biodiversidade brasileira”, afirmou Manuela.
Centenária, porém moderna
Os dados dos espécimes depositados na Coleção podem ser consultados online, por meio da rede ‘SpeciesLink’, sistema que disponibiliza informações sobre diversas coleções científicas de forma gratuita. O acervo, que representa quase todas as ordens conhecidas, inclui atualmente insetos como besouros e escaravelhos, abelhas e vespas, borboletas e mariposas. A maior parte das espécies está preservada em ambiente seco, fixas por meio de alfinetes entomológicos. Há também insetos conservados em álcool a 70% e expostos em lâminas. Exemplares didáticos da Coleção estão disponíveis para apreciação na Sala de Exposição Costa Lima, no Castelo Mourisco. As visitas são gratuitas e organizadas pelo Museu da Vida, por meio do telefone (21) 2590-6747.
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