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27/07/2022

Coletânea evidencia o protagonismo dos povos indígenas no direito à saúde diferenciada

Editora Fiocruz


Evidenciar o protagonismo indígena na formulação, na estruturação e na implementação da atual política de saúde indígena no Brasil. É com esse objetivo que a Editora Fiocruz e a plataforma editorial PISEAGRAMA lançam, em coedição, o livro Vozes indígenas na saúde: trajetórias, memórias e protagonismos, que estará disponível para aquisição a partir de 29 de julho, exclusivamente em formato impresso – via Livraria Virtual da Editora.  

Organizada por Ana Lúcia de Moura Pontes, Vanessa Hacon, Luiz Eloy Terena e Ricardo Ventura Santos, a coletânea compila relatos de 13 lideranças acerca de suas trajetórias de vida e de atuação no movimento indígena, com ênfase no campo da saúde. A obra foi produzida no âmbito do projeto de pesquisa Saúde dos povos indígenas no Brasil: perspectivas históricas, socioculturais e políticas, coordenado por Pontes e Ventura Santos, ambos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz).

A equipe do projeto conduziu, em 2018 e 2019, entrevistas com diversas lideranças das regiões Norte e Nordeste, que participaram de eventos e espaços estruturantes da saúde indígena, como as conferências nacionais de Saúde Indígena e a Comissão Intersetorial de Saúde Indígena, além da implementação dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) e dos Conselhos Distritais de Saúde Indígena (Condisis). "A coletânea mostra os desafios enfrentados pelos povos indígenas, tanto na criação de espaços de representação política quanto na ocupação desses espaços", afirma Ana Lúcia. 

A sanitarista enfatiza que as narrativas apresentadas ao longo da obra mostram o surgimento do movimento indígena contemporâneo no Brasil, problematizando as relações com o Estado nacional e ampliando as discussões sobre as noções de territorialidade, identidade, cidadania, educação e saúde. As lideranças que compõem os depoimentos presentes no projeto são: Ailton Krenak; Zezinho Kaxarari; Chico Apurinã; Letícia Yawanawá; Carmem Pankararu; Lourenço Krikatí; Ivani Gomes Pankararu; Davi Kopenawa Yanomami; Álvaro Tukano; Iolanda Pereira Macuxi; Clóvis Ambrósio Wapichana; Jacir de Souza Macuxi e Megaron Txucarramãe Mebêngôkre. 

Já o último texto da coletânea apresenta uma conversa com duas jovens e proeminentes lideranças da atualidade: Célia Xakriabá e Luiz Eloy Terena (um dos organizadores), que refletem sobre as narrativas históricas a partir de uma perspectiva contemporânea. Além disso, uma série de desenhos do artista visual Wapichana Gustavo Caboco atravessa as páginas do livro. As imagens de Caboco foram inspiradas pelas práticas de mulheres do povo Wapichana, que trafegam entre os mundos da medicina indígena e da biomedicina ocidental. Quem assina a orelha é Joenia Wapichana, advogada formada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e mestre em Direito pela Universidade do Arizona (Estados Unidos).   

Relatos individuais, memórias coletivas
Para Terena, os relatos e registros presentes no volume são fundamentais para o público entender como vem sendo o desenvolvimento do movimento indígena no Brasil. "Muitas pessoas têm um olhar viciado de entender o movimento indígena como algo que começou nas décadas de 70 ou 80, quando, na verdade, a percepção que temos é de que esse movimento é de resistência e aconteceu desde o primeiro cacique que se opôs ao processo colonial. E, com a Constituição de 1988, a gente passa a ter uma nova forma de o movimento se organizar e se apropriar de novos símbolos, novos instrumentos, novos discursos. E essa coletânea traz justamente esse resgate, porque traz as falas dessas lideranças", destaca o advogado e doutor em Antropologia.   

De acordo com ele, a obra pode servir como um "material de formação para o próprio movimento indígena". O autor e organizador chama atenção para o aspecto da questão científica presente no livro, que tira esses atores sociais do papel tradicional de objeto de pesquisa e os coloca como protagonistas. "É muito importante porque essas lideranças trazem esse resgate da trajetória individual e essas trajetórias individuais expressam também trajetórias coletivas", ressalta Eloy Terena. 

Ana Lúcia reforça a ideia de que as narrativas dos próprios indígenas fortalecem a ampliação da memória coletiva sobre a luta pelo direito à saúde diferenciada. "Esperamos que essa obra fortaleça a produção acadêmica alicerçada sobre biografias indígenas, explorando outras perspectivas e experiências baseadas em vozes silenciadas historicamente. O livro apresenta um panorama diversificado de narrativas individuais, que percorrem experiências pessoais e memórias coletivas sobre a construção da política de saúde indígena no Brasil", finaliza. 

As organizadoras e os organizadores

Médica sanitarista, Ana Lúcia de Moura Pontes é doutora em Saúde Pública pela Ensp/Fiocruz, onde é também pesquisadora. É coautora de Atenção diferenciada: a formação técnica de agentes indígenas de saúde do Alto Rio Negro (2019) e Políticas antes da Política de Saúde Indígena (2021), livros que integram, respectivamente, as coleções Fazer Saúde e Saúde dos Povos Indígenas, da Editora Fiocruz. Atualmente coordena o Grupo Temático (GT) de Saúde Indígena da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).  

Professora e pesquisadora, Vanessa Hacon é doutora em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Atualmente encontra-se em estágio pós-doutoral no Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB).

Advogado indígena do povo Terena, Luiz Eloy Terena é doutor em Antropologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ), com pós-doutorado em Antropologia na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), Paris (França). Atua presentemente como Coordenador do Departamento Jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). 
 
Graduado em Ciências Biológicas, Ricardo Ventura Santos é pesquisador titular da Ensp/Fiocruz e professor titular no Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ). É doutor em Antropologia pela Universidade de Indiana (EUA). É membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), tendo sido o primeiro pesquisador da Fiocruz a ser eleito para a área das Ciências Sociais do órgão. É autor e organizador de diversos livros pela Editora Fiocruz, sendo Políticas antes da Política de Saúde Indígena (2021) e Entre demografia e antropologia: povos indígenas no Brasil (2019) os mais recentes. É membro do GT de Saúde Indígena da Abrasco.  

Livro | Vozes Indígenas na Saúde: trajetórias, memórias e protagonismos
Editora Fiocruz | PISEAGRAMA
Primeira edição: 2022
382 páginas
Preço de capa (versão impressa): R$ 35

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