02/09/2020
Roberta Costa (estagiária/CCS/Fiocruz)
O Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz tem realizado uma série de encontros virtuais durante o atual período de isolamento social para discutir os impactos da pandemia de Covid-19 para os direitos humanos. O objetivo dos encontros é dar visibilidade para populações em situação de vulnerabilidade a partir das pautas do Comitê pela equidade de gênero e das relações étnico-raciais, em prol de políticas públicas e da igualdade de direitos.
Para a coordenadora da Seção de Formação do Serviço de Educação do Museu da Vida e integrante da coordenação colegiada do Comitê, Hilda Gomes, é importante manter o grupo mobilizado durante o momento delicado que o país está enfrentando. “Esse momento pegou a todos e a todas de surpresa, esses encontros são uma forma de manter os laços de afeto, de apoio e de cuidado. Por isso é tão importante reforçar os nossos princípios e valores”, afirma.
Entre os meses de março e julho desse ano, foram realizados cinco encontros virtuais, com as participações da psicóloga Luciene Lacerda (População negra: gênero e raça em tempos de Covid-19, em 28 de abril); da professora de psicologia do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) Jaqueline Gomes de Jesus (Desafios para a população LGBTQIA+ em tempos de pandemia, e m19 de maio); da epidemiologista Fernanda Lopes (Racismo estrutural: vidas negras importam, em 16 de junho); da líder comunitária e vice-presidente da Associação de Moradores do Parque Oswaldo Cruz, Simone Quintella (Impacto da Pandemia de Covid-19 nas favelas: relato de uma experiência, em 14 de julho); e da professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Dulce Maria Pereira (Mulheres negras movendo as estruturas; lutas, conquistas e desafios, em 28 de julho).
“A gente tem tido um retorno interessante do público. Toda essa mobilização que o Comitê tem feito gera uma diversidade de manifestações durante os eventos. E isso nos instiga a continuar planejando esses encontros no nosso cotidiano para fortalecer a agenda pela equidade de gênero e raça neste contexto de pandemia”, conta a editora do site PenseSUS do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) e também coordenadora colegiada do Comitê, Marina Maria.
Além dos encontros, foi organizado no dia 3 de julho um seminário virtual para celebrar o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, mobilizando a instituição, artistas e ativistas em torno do tema Desafios para a construção de políticas pela diversidade e reconhecimento da população LGBTQIA+. Durante o evento, resultado da articulação do grupo de trabalho sobre diversidade do Comitê, aconteceram três mesas virtuais, com participações de representantes de movimentos pelos direitos sexuais e reprodutivos no país.
“Esses encontros são fundamentais porque falam de populações que estão sendo invisibilizadas pela pandemia e que já eram discriminadas antes dela. Com a pandemia, o que se amplificou foi o preconceito e a desigualdade no país”, declara Andrea da Luz, coordenadora-geral de Gestão de Pessoas da Fiocruz e membro da coordenação colegiada do Comitê.
Segundo a coordenadora, as pautas que estão sendo debatidas reafirmam o compromisso e responsabilidade da Fiocruz com os grupos mais desprotegidos pelo Estado e a luta em defesa dos direitos humanos. “A Fiocruz tem projetos voltados para as populações socialmente vulnerabilizadas e os encontros são uma forma de chamar atenção tanto internamente quanto externamente para os desafios enfrentados por elas”, reitera.
Racismo estrutural e os números da pandemia
A assistente social do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) e coordenadora colegiada do Comitê, Roseli Rocha, afirma que o impacto da pandemia é muito mais forte para as populações negras, pobres e periféricas. Os determinantes sociais, econômicos e étnico-raciais são fatores decisivos no acesso aos serviços de saúde pública, o que evidencia a diferença nas taxas de letalidade e infecção da doença.
“O que a gente ouvia quando surgiu a pandemia foi o discurso de que a doença seria um fenômeno democrático, que atingiria todas as pessoas da mesma maneira, sem distinção de raça ou classe social. E nós sabíamos que isso não seria uma realidade”, declara. Para ela, mesmo que a pandemia seja uma ameaça humanitária global, o número de óbitos evidencia o quanto a desigualdade é gritante. O acesso à saúde, as condições de moradia, de alimentação e de mobilidade e a falta de políticas públicas voltadas para as populações mais atingidas pelo novo coronavírus influenciam na propagação da doença. Roseli explica que “o racismo estrutural acentua a precarização da vida”.
“As populações negras, pobres e faveladas são atingidas de uma forma muito violenta em relação ao restante da população. A contaminação pela Covid-19 não é nada democrática”, conclui Roseli Rocha.
O Comitê
O Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz foi criado em 2009, para consolidar uma agenda institucional pelo fortalecimento dos temas étnico-raciais e de gênero na Fundação, colaborando para uma constante atualização e reorientação de suas políticas, bem como de suas ações, seja nas relações de trabalho, seja no atendimento ao público e na produção e popularização do conhecimento. Em 2018, passou a ser gerido por uma coordenação colegiada, sendo a promoção da equidade de gênero, diversidade sexual e das relações étnico-raciais na Fiocruz, prioridade do Comitê, em alinhamento com o posicionamento da instituição em defesa dos direitos humanos, do reconhecimento e valorização da diversidade e combate às desigualdades.