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11/10/2011

Cooperação social da Fiocruz investe em projeto político pedagógico

Renata Melo


Eles são trabalhadores, mães, pais, migrantes. Pessoas destituídas do direito à educação formal que depois de anos voltam a ocupar os bancos escolares. Atenta à necessidade desses indivíduos, a Cooperação Social da Presidência da Fiocruz apoia e fomenta o Programa de Educação de Jovens e adultos (Peja), fruto de uma parceria entre a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e a Secretaria de Educação. Atualmente, existem dois pólos: o pólo I dentro da comunidade de Manguinhos, nascido a partir da parceria entre a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) Redeccap e a Fiocruz –chamado de Peja-Manguinhos. Há também o Peja pólo II, que acontece na EPSJV.


 A Cooperação Social da Presidência da Fiocruz apoia e fomenta o Programa de Educação de Jovens e adultos (Peja), fruto de uma parceria entre a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e a Secretaria de Educação.

 A Cooperação Social da Presidência da Fiocruz apoia e fomenta o Programa de Educação de Jovens e adultos (Peja), fruto de uma parceria entre a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e a Secretaria de Educação.





Apesar de estar em espaços físicos diferentes, o Peja adquire unidade através do trabalho coletivo. Ambos os pólos se propõem a uma educação transformadora, territorializada e crítica.  Mas, o que muita gente não sabe é que são amparados por um projeto político pedagógico, conhecido como PPP. Trata-se de um documento em que constam as concepções, a metodologia, o modelo de educação almejado. “O projeto diz qual é a ‘cara’ do trabalho, a identidade do que o que a gente defende como educação”, diz Michele Santos, pedagoga e integrante da equipe de coordenação do Pólo II. Karine Bastos, professora de português e também coordenadora do Pólo II, completa: “o projeto político pedagógico é um norte, é onde a gente quer chegar. A todo momento, buscamos nos reconhecer no PPP”.



Depois de sete anos de existência do Peja, a equipe do projeto sentiu a necessidade de revisitar o PPP. Durante o primeiro semestre de 2011, o grupo se reunia frequentemente a fim de pensar o papel do Programa de Jovens e Adultos e assim construir coletivamente um documento. “Ele explicita não só o que o Peja é agora, como também o que ele quer se tornar amanhã”, explica Felipe Eugênio, coordenador do Polo I.



No entanto a construção do PPP se dá diariamente e não se limita à escola. Segundo Eugênio, “um plano de educação e um projeto de sociedade não estão separados”. O Peja possui uma forte relação com o território de Manguinhos e trabalha numa perspectiva transformadora, de modo que escola e movimento social se confundem e se completam. Para Michele, o próprio trabalho do Peja é de movimento social na medida em que ele se propõe a transformar a realidade de Manguinhos e lutar pela garantia de direitos da população.

 

Por uma educação emancipatória, crítica e territorializada

 

O conteúdo do projeto político pedagógico do Peja se caracteriza principalmente pela busca por uma educação emancipatória, crítica e territorializada. “Educação territorializada é aquela que reflete questões do território em que os estudantes estão inseridos”, define Michele.

"Educação territorializada não é falar só do local. É reconhecer que aquele território é composto por inúmeras forças e contradições que fazem ele estar naquela condição. No Peja, discutimos Manguinhos a partir das suas inúmeras contradições e conflitos", explica Felipe Eugênio.


Luís Antônio Saleh, psicólogo e assessor da vice direção do pólo II, conta que uma das características desse PPP é a preocupação de trabalhar com a noção de currículo integrado. “Estamos acostumados com a compartimentalização das disciplinas entre português, matemática, biologia, por exemplo. No momento, estamos repensando se separar as disciplinas é a melhor forma de ensinar”, afirma Saleh.



No Peja, as disciplinas são arquitetadas como agrupamentos temáticos. Busca-se um trabalho integrado através troca e interação entre os professores. Outro questionamento evidenciado no PPP diz respeito aos modelos de avaliação. Estão sendo pensados outros métodos além da nota e das provas individuais. “O aluno não pode ser traduzido por uma nota”, afirma Saleh. Por isso, estão sendo desenvolvidas avaliações que estimulam o trabalho em grupo, além de novos critérios para avaliar o aluno como a participação e o interesse.



"A avaliação coletiva com participação ativa dos estudantes a todo momento é muito mais interessante do que uma nota", diz Leonardo Bueno, professor de geografia do Peja.

Ao final de cada semestre é possível conferir um pouco do trabalho realizado no Peja através dos Laboratórios do Livre Saber, no Pólo I e da Feira de Cultura e Arte, no Pólo II. Durante uma semana, os alunos apresentam trabalhos de forma criativa e divertida. “Há uma construção coletiva dessas apresentações ao longo do semestre, é o reflexo do que a gente propõe como ensino”, afirma Karine sobre os trabalhos de fim de período.


Publicado em 10/10/2011.

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