Após um ano do surgimento da Covid-19, vacinas contra o novo coronavírus foram desenvolvidas e, com isso, veio o desafio da vacinação e da garantia de equidade de acesso. A Fiocruz, por meio do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris), promoveu, na última quinta-feira (18/2), um debate online com o tema Vacinas e vacinação: desafios da equidade. Mais de 500 pessoas assistiram à sessão, que faz parte do ciclo de Seminários Avançados do Cris em Saúde Global e Diplomacia da Saúde 2021. Na ocasião, especialistas e pesquisadores apresentaram um panorama das etapas da vacinação no Brasil e no mundo, além de dados sobre a produção das vacinas, as plataformas tecnológicas e o acesso à vacinação no país.
O vice-diretor da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS), Jarbas Barbosa, apresentou um painel técnico das vacinas em desenvolvimento no mundo e seus estudos clínicos, bem como um panorama da entrega das vacinas da Covax, uma iniciativa global que visa garantir acesso rápido e equitativo às vacinas contra a Covid-19 para todos os países, independentemente de seu nível de renda.
Barbosa comentou também o atual cenário da vacinação mundial, após 73 dias desde a aplicação da primeira dose, no Reino Unido. Segundo o representante da Opas, nesse período, já foram administradas mais de 183 milhões de doses, provenientes de dez laboratórios distintos e três plataformas diferentes. Dos 193 países do mundo, 74 já iniciaram a vacinação. Diante do quadro de limitações na disponibilidade de vacinas, Barbosa advertiu que um fator preocupante é a iniquidade do acesso ao imunizante nos países mais pobres. “A iniquidade no acesso é um problema moral, ético e sanitário. Sem acesso equitativo, solidariedade é uma palavra vazia”, finalizou.
Já se somam mais de 110 milhões de casos de Covid-19 e 2,4 milhões de mortes no mundo, sendo cerca de 10% no Brasil. “A pandemia é um desastre de saúde pública”, lamentou Akira Homma, ex-presidente da Fiocruz e assessor científico sênior do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz). Segundo Homma, nunca houve tanto investimento em pesquisas, publicações e informações sobre uma doença em prol do desenvolvimento de uma vacina, destacando-se também todo o trabalho realizado até agora para imunizar a população. “Para o controle da pandemia, é necessário a vacinação de todos”, enfatizou.
Sobre a produção da vacina no Brasil, o vice-presidente de Produção e Inovação da Fiocruz, Marco Krieger, ressaltou a importância da plataforma de produção do imunizante no país, além de traçar um breve panorama de todo o trabalho realizado pela Fundação em pesquisa e desenvolvimento tecnológico para o enfrentamento da doença. “É fundamental assegurar o acesso equitativo da vacina de maneira sustentável à sociedade brasileira”, disse.
Para o ex-ministro da Saúde e assessor da Fiocruz Brasília, José Agenor Álvares, é preciso uma vigilância constante para assegurar a equidade do acesso às vacinas, além do fortalecimento do Programa Nacional de Imunizações (PNI). “A equidade é um dos princípios que norteiam as políticas públicas do SUS. Devemos garantir o acesso, tendo como foco condições de justiça que priorizem quem tem maior risco”, defendeu. Agenor fez um breve histórico das diversas campanhas de vacinação já ocorridas no Brasil – contra meningite, poliomielite, rubéola, influenza, febre amarela e sarampo, por exemplo. A característica de todas essas campanhas, conforme ressaltou o ex-ministro, foi a equidade no acesso à vacinação. Agenor enfatizou também a importância da vacinação contra outras doenças que, no momento, encontram-se com uma cobertura vacinal baixa, o que tem preocupado os profissionais de saúde.
Participaram do debate, como mediadores, a médica e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo; e o ex-presidente da Fundação e coordenador do Cris/Fiocruz, Paulo Buss.