14/10/2020
Julia Dias (Agência Fiocruz de Notícias)
No próximo verão antártico, em razão da pandemia de Covid-19, os pesquisadores não irão realizar suas atividades de coleta e pesquisa no continente. Ainda assim, diversas ações do Programa Antártico Brasileiro devem continuar durante esse período. A 39ª Operação Antártica Brasileira de 2020/2021 será integrada apenas por militares da Marinha que compõem a tripulação dos dois navios polares brasileiros e o Grupo Base (GB), que irá substituir os 16 militares que estão no momento na Estação Antártica Comandante Ferraz. A Fiocruz está colaborando para a redução de risco dos militares que embarcam para esta Operantar, em outubro.
Antes do embarque, cerca de 200 tripulantes dos dois navios também foram testados, com testes moleculares que foram processados na Fiocruz (foto: Pedro Paulo)
As ações realizadas pela Fiocruz junto à Marinha foram a testagem, com exames sorológicos e moleculares, de profissionais envolvidos no Treinamento Pré-Antártico (TPA), nos voos de apoio da Força Aérea Brasileira (FAB) à Antártica e a doação de kits de teste diagnóstico por detecção de antígeno para atender, durante a 39ª Operantar, aos profissionais que embarcarão nos dois navios – Almirante Maximiano e Ary Rongel – e também os que deverão permanecer por um ano na estação. O teste fornecido é um teste de fácil realização e com resultado rápido que revela a presença de antígenos do vírus da Covid-19. “Este tipo de teste tem uma alta sensibilidade. A vantagem está em sua portabilidade e manuseio mais simples, que não exige estrutura laboratorial. Os resultados ficam prontos em 15 minutos”, explica a assessora da Vice-Presidência de Produção e Inovação em Saúde e integrante do FioAntar, Sanda Soares, que entregou (9/10) os kits para o Subsecretário do Proantar da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Secirm), capitão de Mar e Guerra Marcelo Gomes.
Além dos testes, oito profissionais do corpo de saúde da Marinha que farão parte da Operação Antártica receberam treinamento para manuseio dos kits. Quatro deles também visitaram o Laboratório de Vírus Respiratório e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC-Fiocruz), onde receberam treinamento para coleta de amostra clínica com SWAB para Covid-19. Antes do embarque, cerca de 200 tripulantes dos dois navios também foram testados, com testes moleculares que foram processados na Fiocruz.
“A Antártica é o único continente livre de Covid-19 até o momento. O apoio da Fiocruz à Marinha busca ajudar a preservar esse ambiente e a saúde dos integrantes da Operantar, em consonância com a ideia integrada de saúde única. Esta é também a premissa do projeto de pesquisa da Fiocruz na região, o FioAntar, que considera a saúde ambiental, de animais e humana como indissociáveis”, afirma a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima.
Continuidade da pesquisa
Mesmo sem realizar o trabalho de campo durante o próximo verão, as atividades do projeto FioAntar não param. Os pesquisadores já receberam as amostras coletadas nas últimas expedições e estão conduzindo as análises em seus respectivos laboratórios.
“São oito laboratórios envolvidos, que estudam diferentes microrganismos presentes nas amostras de solo, líquen, água e fezes que coletamos no ambiente antártico. Estamos aproveitando este intervalo maior para nos dedicar a essas análises e avançar no conhecimento sobre o tema. Pretendemos voltar a campo no final de 2021 com segurança”, afirma o coordenador do projeto, Wim Degrave.
FioAntar
A Fiocruz se lançou às pesquisas na Antártica como resultado de um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTIC) para o desenvolvimento de pesquisas na região. O FioAntar foi aprovado em dezembro de 2018 para integrar o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), conduzido pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (Cirm), da Marinha do Brasil. A equipe da Fiocruz passou quase um ano se preparando para sua primeira expedição, que aconteceu em dezembro de 2019. Uma segunda equipe de pesquisadores esteve em campo em janeiro de 2020.
Ao longo dos quatro anos de duração do projeto, os pesquisadores se dedicam a estudar vírus, bactérias, fungos, líquens, microbactérias e helmintos, que podem estar presentes nos animais que vivem ou circulam pela região, nas águas, nos solos, nas rochas e ainda no permafrost - um tipo de solo encontrado nas regiões polares e formado por terra, gelo e rochas que estão permanentemente congelados. A pesquisa irá auxiliar na vigilância epidemiológica do Sistema Único de Saúde (SUS), identificando possíveis riscos à saúde pública que podem chegar à América do Sul e, em outra linha, o potencial uso dos microrganismos identificados para desenvolvimento de novas tecnologias e produtos em saúde, como medicamentos e insumos.