16/04/2020
Nathállia Gameiro (Fiocruz Brasília)
Um dos principais desafios dos profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate à Covid-19 é o impacto na sua saúde mental. Seja pelo intenso trabalho, os riscos de contaminação durante um atendimento ou mesmo a contaminação da família ao retornar para casa, a falta de equipamentos e outras condições de trabalho, além de ansiedade, estresse e sofrimento psíquico que podem surgir durante o período.
Preocupados com a saúde mental desses trabalhadores, a Fiocruz Brasília e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em parceria com o Conselho Regional de Psicologia do DF e a Universidade de Brasília, criaram projeto de acolhimento que vai conectar os profissionais de saúde com psicólogos voluntários, recrutados em edital que segue aberto até o dia 30 de abril. Ao todo, mais de 380 profissionais já se inscreveram.
O pesquisador da Fiocruz Brasília e psicólogo sanitarista, Marcelo Pedra, é um dos responsáveis pelo projeto e destaca que o objetivo é manter o trabalhador da saúde disponível e bem para atender as pessoas. “Para garantir o trabalho junto à população brasileira, precisamos cuidar do profissional de saúde, dando apoio e suporte emocional. Eles precisam de cuidados como todos nós”, afirmou.
O serviço funcionará por telefone ou por videoconferência, todos os dias da semana, 16 horas por dia, com duração de dois meses. Inicialmente 140 psicólogos realizarão os atendimentos, organizados em quatro turnos, seguindo todos os protocolos e notas técnicas. Eles serão supervisionados por um profissional da Universidade de Brasília com experiência na área de desastres, grandes epidemias e catástrofes, e que será referência para o psicólogo que está em atendimento. Os que não forem convocados inicialmente vão compor um banco de cadastro reserva.
Na tarde desta quinta-feira (16), todos participarão do curso online Saúde Mental e Atenção Psicossocial em situação da pandemia de Covid-19, que ficará disponível no YouTube da Fiocruz Brasília para capacitação de outros voluntários. De acordo com Marcelo, a experiência será sistematizada para que possa ser compartilhada com o Sistema Único de Saúde (SUS) e replicada por outros estados e municípios, junto com os protocolos e prontuário específicos criados, oportunizando o atendimento a outros trabalhadores.
A Fiocruz Brasília é responsável pela concepção, operacionalização, execução, monitoramento e avaliação do projeto. Pedra ressalta as parcerias realizadas e que permitiram que o projeto fosse concebido de forma institucional e estruturalmente organizado com a dimensão da formação, monitoramento e avaliação, para dar suporte ao trabalhador da ponta e ao voluntário, utilizando fontes científicas.
“São instituições de gestão do trabalhador, de ensino, pesquisa e extensão comprometidas historicamente com a formação de trabalhadores para o SUS e uma instituição que faz toda a regulação da força de trabalho do psicólogo. É uma iniciativa pública”, afirmou.