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13/10/2015

Desastres naturais marcam a história das Américas, diz Héctor Alimonda

César Guerra Chevrand


Terremotos, grandes chuvas ou longos períodos de seca, furacões. De acordo com o cientista político Héctor Alimonda, o continente americano é uma das áreas do planeta mais sujeitas a catástrofes naturais. Situação que, segundo ele, é agravada pelas desigualdades sociais.

Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e pesquisador da Universidade de Buenos Aires (UBA) e do CNPq, Héctor Alimonda é um dos convidados do seminário internacional Desnaturalização dos desastres e mobilização comunitária: novo regime de produção de saber, que acontecerá nos dias 15 e 16 de outubro, no Museu da Vida, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.

Especialista em ecologia política, desenvolvimento rural e América Latina, Héctor Alimonda participará da mesa redonda “Formações sócio-históricas e ambientais”, na quinta-feira (15/10), às 10h. Confira abaixo a  entrevista.

De que maneira os desastres naturais marcam a história da América Latina?

Héctor Alimonda: O território que veio a ser chamado de América se caracteriza por uma grande instabilidade geológica, com ocorrência frequente de terremotos. Temos regiões e períodos com grandes chuvas ou secas marcadas, que influem, por sua vez, no curso e volume dos rios. Do Equador para o norte, especialmente na região do Caribe, temos as temporadas de furacões. Em conjunto, me parece que América deve ser uma das áreas do planeta mais sujeitas a catástrofes naturais.

Depois da Conquista, foi formado o tecido urbano, com cidades que se instalaram onde convinha aos efeitos do controle territorial e a exploração de riquezas, sem levar em conta essas instabilidades geológicas e climáticas. Muitas cidades sofreram catástrofes e tiveram que ser abandonadas ou, melhor, mudadas de lugar.

Como a desigualdade social no continente afeta o meio ambiente?

Héctor Alimonda: No jornal desses dias tem uma foto que expressa isso muito bem. Trata-se de uma catástrofe acontecida na Guatemala, um deslizamento de uma encosta que caiu sobre uma aldeia, causando uma estimativa de 600 desaparecidos. Bom, a foto mostra a catástrofe, uma aldeia soterrada no meio de encostas muito escarpadas. Só que no fundo da foto se avistam os prédios da capital, a cidade de Guatemala. Isto é, o núcleo habitacional soterrado forma parte da área metropolitana. É, sem dúvida, o lugar onde moram os pobres que não têm acesso a moradias na grande cidade, mesmo que sobrevivam em empregos precários que a vizinhança com a metrópole oferece. Não surpreende que se trate de uma área de risco, que provoca a vulnerabilidade da população.

Buenos Aires foi afetada em agosto passado por chuvas fortes, mas não excepcionais, que provocaram enchentes inesperadas, com danos desmedidos sobre população carenciada. Ao que parece, a expansão de bairros residenciais no conurbano diminuiu a capacidade do solo para absorber a água da chuva.

O acontecido em New Orleans quando o furacão Katrina, em 2005, mostra que, lamentavelmente, esses problemas e falhas não são apenas atributos da América dita Latina.

Os países latino-americanos estão mais preparados hoje para enfrentar uma situação de emergência?

Héctor Alimonda: Não quero opinar sobre isso sem ser especialista, mas me parece que estamos sempre na mesma situação, que não se resolve apenas com a melhora do equipamento tecnológico. Orientei a tese de Francine Pinheiro sobre a "solução" para os desabrigados em Petrópolis pelas enxurradas, e o panorama é lamentável. E olha que foi um caso de impacto nacional, com a presidente sobrevoando a área de helicóptero, todos os níveis do poder público fazendo declarações, a população do Rio de Janeiro comovida e querendo colaborar. E em Niterói temos casos equivalentes.

Qual a importância da mobilização comunitária na resolução dos problemas ambientais?

Héctor Alimonda: Bom, sem dúvida que a organização comunitária é uma componente fundamental para a prevenção de desastres, mas não é possível carregar sobre as costas de uma população que já tem uma vida muito difícil essa responsabilidade a mais. Aí tem uma responsabilidade social que deve ser assumida pelas diferentes instâncias e escalas dos poderes públicos, que depois de tudo estão aí para isso.

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