13/04/2020
Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)
111 anos depois do primeiro diagnóstico humano, a doença de Chagas ainda infecta cerca de 7 milhões de pessoas no mundo e entre 2 a 3 milhões no Brasil. Nesta terça-feira (14/4), será realizado pela primeira vez o Dia Mundial da Doença de Chagas. Instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a data, que contaria com diversas atividades no Brasil e no mundo, será lembrada pela Fiocruz apenas de forma virtual, tendo em vista a pandemia do novo coronavírus. A Fundação divulga depoimentos de autoridades sobre a importância da luta contra a doença, como o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom; a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima; a representante permanente do Brasil junto às Nações Unidas em Genebra, Maria Nazareth Azevedo; e a presidente da Associação Rio Chagas, Josefa de Oliveira Silva. Junto a essas intervenções, a Fiocruz também homenageia em vídeo quatro cientistas da instituição, que há décadas pesquisam a enfermidade e que deram grandes contribuições contra a doença de Chagas: José Rodrigues Coura (Instituto Oswaldo Cruz), João Carlos Pinto Dias (Fiocruz Minas), Zilton Andrade (Fiocruz Bahia) e Sonia Andrade (Fiocruz Bahia). Outro destaque será a iluminação em marrom e verde do Castelo Mourisco da Fundação em alusão à data.
Foi o pesquisador Carlos Chagas quem, em 1909, descobriu o protozoário 'Trypanosoma cruzi', transmitido pelo barbeiro (imagem: Acervo Fiocruz)
“Tudo será mais simples devido à Covid-19. Antes da pandemia tínhamos até a expectativa de que o diretor-geral da OMS pudesse comparecer à Fiocruz, mas isso se tornou inviável. Mas é muito importante salientar que este evento visa, primordialmente, dar visibilidade aos pacientes de doença de Chagas, que é uma das mais negligenciadas do mundo”, afirma o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Marco Aurelio Krieger. Segundo ele, a data foi proposta pelo Brasil à OMS e acatada em reunião ocorrida em 2019, à qual estava presente a presidente Nísia Trindade. “A sugestão contou com total apoio da diplomacia brasileira e do Ministério da Saúde e também aponta para o reconhecimento que a Fiocruz tem por conta de ter sido a casa de Carlos Chagas”, comenta o vice-presidente. Foi o pesquisador Carlos Chagas, do então Instituto Oswaldo Cruz (embrião da atual Fiocruz) quem, em 1909, descobriu o protozoário Trypanosoma cruzi e, em um feito único no mundo, descreveu completamente o ciclo da doença: o patógeno, o vetor, os hospedeiros, as manifestações clínicas e a epidemiologia.
Krieger acrescenta que este é também o momento de ressaltar iniciativas inovadoras da Fiocruz nesse campo, como o sistema de testagem rápida e novos protocolos de medicamentos, desenvolvido com a iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi), organização sem fins lucrativos de pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para doenças negligenciadas. Ele também citou o estudo clínico feito com a Novartis, que busca medir os efeitos de medicação para insuficiência cardíaca em pacientes com cardiopatia chagásica, a forma crônica da doença que afeta o coração de 30% dos infectados anos depois do primeiro contato com o parasita. Essa pesquisa visa chegar a uma nova droga que possa ser administrada em pacientes que tenham as formas cardíacas da doença de Chagas, de maneira a obter resultados mais eficazes. Krieger destaca ainda a liderança do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) nos novos estudos clínicos sobre a enfermidade que estão sendo elaborados na Fundação.
Para o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas da Fiocruz, Rodrigo Correa, é importante que datas como essa realcem a importancia de atuar no cuidado com os pacientes. “Precisamos monitorar casos em regiões remotas. É fundamental recordar e alertar que a doença de Chagas não acabou e continua fazendo vítimas. A doença permanece entre nós. E as novas áreas de transmissão afetam, sobretudo, as populações mais pobres”.
Um dos fundadores (e primeiro coordenador), nos anos 1990, do Programa de Pesquisa Translacional em Doença de Chagas (Fio-Chagas), Correa diz que a Fiocruz mantém um olhar para o todo: o diagnóstico, o vetor, o paciente, os medicamentos, a pesquisa, o tratamento. “O Fio-Chagas reúne pesquisadores e grupos de pesquisa que lidam com a doença. É uma rede nacional e muito atuante, que abrange cientistas do Rio e de unidades regionais da Fiocruz. Pode-se dizer que é uma rede única no mundo”, diz o vice-presidente, referindo-se às características singulares da Fundação e ao papel de protagonista que a Fiocruz tem no estudo da doença de Chagas.