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14/04/2020

'Falamos de Chagas': roda de conversa online debate enfermidade

Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)


Enquanto o mundo se mobiliza contra a pandemia de Covid-19, causada pelo coronavírus Sars-CoV-2, detectado na China há pouco mais de cem dias, o calendário mundial da saúde chama atenção, pela primeira vez, para uma doença descrita há mais de cem anos, que permanece negligenciada. O Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado em 14 de abril, destaca a necessidade de esforços contra a invisibilidade de uma agravo que afeta mais de sete milhões de pessoas no mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 65 milhões de pessoas vivem em risco de contrair a enfermidade. Apenas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, são estimados entre 1,9 milhões e 4,6 milhões de portadores.

No contexto da pandemia, muitos afetados pela doença de Chagas encontram-se vulneráveis. Problemas cardíacos, que afetam 30% dos portadores da forma crônica do agravo, são um fator de risco para casos graves e mortes na Covid-19. Para discutir essas e outras questões importantes, a Associação Rio Chagas realiza nesta terça-feira, 14 de abril, a roda de conversa online Falamos de Chagas 2020 durante a pandemia de Covid-19. A atividade ocorrerá no canal Falamos de Chagas no YouTube, às 15h. O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) é um dos parceiros da iniciativa.

Também visando contribuir para o esclarecimento de profissionais de saúde e pessoas afetadas, o Portal da Doença de Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publica um conjunto de perguntas e respostas sobre a Covid-19 e o agravo. O material elaborado por especialistas do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC/Fiocruz, em parceria com a organização internacional Coalizão Chagas, aborda sintomas da infecção pelo novo coronavírus, riscos para os portadores e orientações para quem realiza tratamento para doença de Chagas na fase aguda e crônica, entre outras questões.

Luta por visibilidade

A criação do Dia Mundial da Doença de Chagas foi aprovada, em maio do ano passado, pela 72ª Assembleia Mundial da Saúde, encontro que reúne delegações de todos os estados-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS). A mobilização pela visibilidade do agravo partiu dos pacientes, sendo liderada pela Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (Findechagas). O movimento teve intenso apoio da comunidade científica e da saúde, inclusive no IOC e na Fiocruz.

A doença de Chagas é causada pelo parasito Trypanosoma cruzi, que pode ser transmitido pela picada de insetos triatomíneos, popularmente conhecidos como barbeiros, e pela contaminação de alimentos, seja pela presença do vetor ou de suas fezes. Se a mãe infectada não for tratada, o T. cruzi também passa da gestante para o filho durante a gravidez. Transfusões de sangue e transplantes de órgãos são outras vias possíveis de infecção, quando não são adotadas medidas adequadas de prevenção.

Logo após o contágio, medicamentos podem eliminar o parasito e levar à cura. Porém, a enfermidade frequentemente não apresenta sintomas na fase inicial e as pessoas afetadas têm baixo acesso aos serviços de saúde. Estimativas apontam que menos de 10% dos casos são diagnosticados oportunamente e apenas 1% recebe o tratamento adequado. Como resultado, após décadas de infecção, cerca de 30% dos indivíduos desenvolvem problemas cardíacos e 10% têm distúrbios digestivos, neurológicos ou mistos. As lesões prejudicam de forma significativa a qualidade de vida e podem levar à morte.

Dados da Findechagas apontam que, todos os anos, cerca de 9 mil crianças nascem infectadas pelo T. cruzi e mais de 12 mil pessoas morrem pela doença. No primeiro Dia Mundial da Doença de Chagas, a entidade ressalta a necessidade de esforços para controlar a transmissão; aprimorar e desenvolver novos métodos de diagnóstico e tratamento e expandir a cobertura de assistência para todas as pessoas com a doença ou em risco de contraí-la.

Descoberta no Brasil

Escolhido como Dia Mundial, o 14 de abril lembra a data de 1909 em que Carlos Chagas, pesquisador do IOC, identificou, pela primeira vez, o T. cruzi em uma paciente. Publicada na revista científica Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, a descrição do ciclo da doença, incluindo caracterização do agente causador, do inseto transmissor e do conjunto de sintomas, foi um dos feitos mais emblemáticos da ciência brasileira.

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