05/05/2023
Karine Rodrigues (COC/Fiocruz)
Tapumes coloridos estão surgindo no campus da Fiocruz em Manguinhos, na zona Norte do Rio de Janeiro, anunciando uma boa nova: um conjunto arquitetônico construído em 1904, para abrigar a criação de pequenos animais usados na nascente produção de soros e vacinas no Brasil, será restaurado pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) da instituição e incorporado ao circuito de visitação do Museu da Vida Fiocruz.
Em andamento, a intervenção no antigo biotério, mais conhecido como Pombal, constitui a segunda e última fase do contrato assinado em 2018 entre a Fiocruz e o BNDES (foto: Peter Ilicciev)
O projeto integra o Plano de Requalificação do Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos, que busca preservar e valorizar o patrimônio cultural da instituição – testemunho de importantes momentos da história nacional – e ampliar o diálogo com a população e a cidade, por meio de maior oferta de atividades socioculturais, de divulgação científica e de educação em ciência, tecnologia e saúde. A proposta é consolidar Manguinhos como um campus-parque, aberto ao público.
Já em andamento, a intervenção no antigo biotério, mais conhecido como Pombal, constitui a segunda e última fase do contrato assinado em 2018 entre a Fiocruz e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 10,4 milhões. Parte dos recursos foram destinados à Cavalariça, prédio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1981, onde foi inaugurada, em maio do ano passado, uma exposição de longa duração com recursos interativos, intitulada Vida e saúde: relações (in)visíveis.
Como o campus da Fiocruz é registrado no Iphan como Sítio Arqueológico de Manguinhos, por terem sido identificados no local registros de ocupação pré-históricas, a obra exige um monitoramento arqueológico, obrigatório quando há escavações.
Espaço expositivo e lugar de convívio
Formado por oito construções circulares, divididas em gaiolas, agrupadas em dois pátios simetricamente dispostos ao redor de uma Torre Central, o Pombal é cercado por um muro vazado e sinuoso, com elementos cerâmicos, que acompanha o desenho dos pequenos pavilhões. Destaque no conjunto são os elementos decorativos em argamassa da Torre Central, entre os quais, o corrimão da escada, que traz a técnica de rocaille, um revestimento que representa elementos da natureza, como folhas e galhos de árvores.
O Pombal foi pensado para abrigar o biotério de pequenos animais utilizados nas pesquisas realizadas pelo então Instituto Soroterápico Federal (foto: Acervo Casa de Oswaldo Cruz)
Os pavilhões e áreas do entorno da edificação serão ocupadas com uma nova exposição do Museu da Vida Fiocruz, que enfoca o tema Saúde, Ambiente e Sustentabilidade. Além de destacar o valor histórico do Pombal, a mostra visa estimular reflexões sobre a complexidade das questões ambientais e de saúde, bem como a busca por futuros sustentáveis para a promoção da vida. Aparatos interativos e atividades artísticas buscarão criar um ambiente lúdico e propício ao diálogo sobre os tópicos abordados. A trilha histórico-ecológica, realizada pelo museu, também será uma das atividades da exposição, com roteiros novos e variados.
A implementação de um projeto paisagístico também faz parte das intervenções planejadas. A substituição de parte das áreas pavimentadas por espaços gramados, o plantio de novas árvores e a criação de pequenos jardins, associados a elementos funcionais, pontos de iluminação estratégicos e rotas com rampas e calçadas acessíveis visam proporcionar espaços confortáveis e seguros voltados para a convivência e o lazer dos visitantes.
No projeto, cursos de qualificação durante a obra
O próprio Pombal vai se tornar objeto de prática para capacitar profissionais da área. Serão realizados três cursos de qualificação, que integram o Programa de Educação Patrimonial vinculado à obra. Eles vão abordar a arqueologia em sua relação com sítios e jardins históricos; a conservação e a restauração de alvenarias e argamassas históricas; e técnicas de conservação e restauração de elementos construtivos e ornamentais em cerâmicas.
Também estão incluídas oficinas de capacitação sobre a mitigação de riscos para as equipes da obra e sobre sítios históricos/arqueológicos para mediadores de visitas guiadas no campus; um ciclo de palestras sobre conservação e restauração; e a visitação ao canteiro de obras. As atividades de educação patrimonial fazem parte de uma proposta educativa continuada realizada pelo Serviço de Educação Patrimonial da instituição.
Para sensibilizar diferentes públicos sobre a importância da conservação do Pombal e do núcleo histórico da Fundação, há uma série de ações previstas, incluindo vídeos, painéis informativos e dois livros para a série Guias do Patrimônio Cultural da Fiocruz.
A restauração do Pombal, a nova exposição e o Programa de Educação Patrimonial são uma realização do Ministério da Cultura e do Governo Federal, em conjunto com o Museu da Vida Fiocruz, com gestão cultural da Sociedade de Promoção da Casa de Oswaldo Cruz (SPCOC). Conta ainda com o apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e patrocínio de Instituto Vale, BASF, Enauta e Bayer, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.