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27/07/2017

Editor da Fiocruz aponta desafios dos periódicos brasileiros

Marina Lemle (Blog de HCS-Manguinhos)


Profissionalização, sustentabilidade financeira e internacionalização são os principais desafios dos periódicos brasileiros, principalmente na área de história da ciência e da saúde, na visão do editor científico da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos Marcos Cueto. Ele traçou um panorama da publicação científica na área no Brasil para uma plateia de editores de periódicos científicos de diferentes nacionalidades reunidos no Rio de Janeiro para o simpósio Os desafios do século 21 para revistas de história da ciência e da medicina, realizado na última segunda-feira (24/7). Organizado por Cueto e pelo editor de Medical History Sanjoy Bhattacharya, o simpósio integra a programação do 25º Congresso Internacional de História da Ciência e da Tecnologia, que acontece até 29 de julho de 2017 e tem como tema central Ciência, tecnologia e medicina entre o global e o local.

Cueto foi o primeiro orador do dia, com a conferência Realizações e desafios de revistas da história da ciência no Brasil; internacionalização. O editor de HCS-Manguinhos apresentou a revista, que completará 25 anos em 2019, tem nível A1 (o máximo) na avaliação da Capes (agência federal de fomento) e é uma das sete revistas acadêmicas publicadas pela Fundação Oswaldo Cruz, todas de acesso aberto.

Ele explicou que a maioria das revistas de história brasileiras são financiadas por universidades públicas e integram o portal de acesso aberto Scientific Electronic Library Online (SciELO), criado em 1998. Entre os critérios do SciELO para a inclusão de revistas na sua base de dados estão a publicação de pesquisas originais, revisão por pares, formato, pontualidade, modernização da gestão, uso da plataforma digital e aumento da taxa de rejeição.

O editor destacou que as revistas diferem na maneira de lidar com os desafios de profissionalização, sustentabilidade e internacionalização. Segundo ele, desde os anos 1990, o número de revistas e artigos cresceu significativamente. No entanto, citações em revistas internacionais são baixas em comparação com revistas mainstream, mas altas em países em desenvolvimento, principalmente entre revistas de história.

Os objetivos das revistas são, portanto, aumentar sua visibilidade e impacto internacional, explicou Cueto. Para isso, projeta-se uma meta de 15 e 30% de estrangeiros em conselhos editoriais, como revisores e autores, e de artigos em inglês. A aposta é que a maioria dos artigos em inglês virá de países de língua inglesa e que os brasileiros enviarão artigos em inglês, o que levará a mais downloads e citações internacionais. Cueto citou como referência o artigo Publicar (em inglês) ou perecer: o efeito na taxa de citação de usar outras línguas que não o inglês em publicações científicas, de M.S. Nitetti & J.A. Ferreras (Ambio, 2016).

Segundo Cueto, os artigos bilíngues ainda são poucos no SciELO, mas aumentaram de 13% em 2011 para 17% em 2015. “Pesquisadores jovens dos EUA e Europa não submetem artigos para países em desenvolvimento, a não ser os países periféricos, como Portugal e Espanha, e pesquisadores que trabalham temas sobre países como o Brasil”, disse.

De acordo com Cueto, as metas esbarram em tradições acadêmicas locais resistentes à modernização, tais como: a falta de orçamentos e equipe profissional; a existência de muitas e novas revistas com poucos recursos financeiros; o ressentimento de autores com revisões críticas; a falta de contato dos professores com pesquisadores estrangeiros; o não encorajamento da habilidade linguística nos programas de pós-graduação; e a preferência dos historiadores que dominam o inglês em publicar no exterior.

Já para publicar no exterior, observou Cueto, o autor latino-americano se defronta com as tradições acadêmicas internacionais: seus manuscritos são submetidos a um processo de revisão mais severo; quando o artigo é publicado geralmente tem poucas citações; é preciso entender práticas de citação e critérios de relevância, argumento, prestígio da revista e do autor e as relações profissionais e pessoais.

O editor lembrou que no Brasil não há financiamentos de longo prazo. Os apoios do CNPq e da Capes são anuais e estão ameaçados com a crise de 2015. “A maioria das revistas depende de financiamento público através das universidades às quais estão ligadas”, contou. Ele defendeu que as agências de financiamento criem formas de fornecer apoio de longo prazo às publicações.

Cueto encerrou sua apresentação propondo uma política editorial mais flexível, com mais artigos com publicação simultânea em português e inglês, e mudanças na educação de pós-graduação, com mais ênfase no trabalho de escrita científica na língua inglesa em nível de pós-graduação. “Como fazer os pesquisadores pensarem em inglês?”, questionou. Ele estimulou também alianças com vizinhos, a “periferia” da Europa Ocidental e latino-americanistas em todos os lugares e enfatizou a importância de se aumentar a solidariedade e promover uma discussão mundial sobre publicação científica global.

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