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22/03/2022

Encontro celebra parceria vitoriosa que conquistou prêmio internacional

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A Fiocruz sediou na segunda-feira (21/3) um encontro que celebrou uma vitoriosa parceria na área de vigilância em saúde. Em novembro, a cidade paranaense de São José dos Pinhais recebeu, junto com outras nove cidades de todo o mundo, o Prêmio Guangzhou, que seleciona abordagens inovadoras adotadas por governos locais e regionais para atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e assim avançar na qualidade de vida dos seus cidadãos. Na reunião desta segunda-feira, que contou com a presença do embaixador Frederico Duque Estrada Meyer, diplomata do Consulado do Brasil em Guangzhou, na China, foi possível compartilhar o prêmio, entregue na forma de medalha de honra, entre os parceiros vencedores. Dutra participou da cerimônia, no final de 2021, que concedeu o prêmio a São José dos Pinhais. Segundo a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, “a experiência mostrou que a sociedade e os profissionais de saúde locais podem gerar dados estratégicos para a identificação de áreas prioritárias para a vigilância e a vacinação, feita com dois meses de antecedência, salvando vidas. O esforço integrado entre as diferentes instituições parceiras foi também fundamental para o alcance dos resultados. As ações em nível local são cruciais para que se atenda aos objetivos da Agenda 2030”.

A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, compartilha o Prêmio Guangzhou, entregue na forma de medalha de honra (foto: Peter Ilicciev)

 

O projeto Tecnologia digital e participação social na vigilância e definição de áreas e ações prioritárias para o controle da febre amarela no Brasil é fruto da parceria entre a Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz, a Coordenação-Geral de Vigilância das Arboviroses da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, a Secretaria de Saúde do Paraná e a Unidade de Vigilância de Zoonoses da Secretaria de Saúde de São José dos Pinhais. O encontro também contou com as presenças do coordenador-Geral de Vigilância de Arboviroses do Ministério da Saúde, Cássio Peterka, da diretora de Atenção e Vigilância em Saúde da Secretaria de Saúde do Paraná, Maria Goretti Lopes, do médico veterinário Haroldo Greca Júnior, responsável pela implantação do projeto em São José dos Pinhais e coordenador da Unidade de Vigilância de Zoonoses do município, e da coordenadora da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz, Marcia Chame, além de outros membros da equipe. 

No período sazonal da febre amarela de julho de 2018 a junho de 2019, ocorreram epizootias em primatas não humanos em 73 municípios do Paraná, o que levou a Secretaria de Saúde do estado a recomendar que a população notificasse imediatamente as secretarias municipais de Saúde e o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs/PR) sobre a morte de macacos. Em 2019 a notificação passou a ser feita pelos moradores e pelos profissionais de saúde em campo, utilizando o aplicativo Siss-Geo, desenvolvido pela Fiocruz. O Siss-Geo é uma ferramenta tecnológica operacional e participativa, utilizada pela vigilância para monitoramento de primatas não humanos, sentinelas do vírus amarílico que circula na área silvestre, não só por técnicos da saúde, mas também pela própria população, por meio de qualquer smartphone.

O município de São José dos Pinhais foi o primeiro a usar o Siss-Geo como ferramenta de notificação da febre amarela, antes mesmo de toda a estratégia de controle e prevenção ter sido implantada no Estado. A atuação da equipe, coordenada por Haroldo Greca Júnior na Unidade de Vigilância de Zoonoses do município, se tornou exemplo e incentivo para que o Siss-Geo fosse apresentado como política de vigilância na região, e hoje para todo o Brasil, e obter reconhecimento internacional pelo Prêmio Guangzhou.

A estratégia de sucesso implantada pelo Paraná e hoje replicada para todo o país se iniciou com as diversas oficinas regionais promovidas pelo Ministério da Saúde em 2017, quando o Siss-Geo foi apresentado aos estados. Com a dispersão do vírus para o Paraná, a ação conjunta entre a Coordenação-Geral de Arboviroses do Ministério da Saúde e o Cievs reuniu a experiência dos corredores de transmissão elaborada pela Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) de São Paulo com os modelos computacionais de favorabilidade para a ocorrência de febre amarela desenvolvidos pela Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz.

Assim houve a implementação do Siss-Geo, com o treinamento in loco dos técnicos de vigilância ambiental da regionais de saúde do Paraná. O treinamento para o uso do Siss-Geo consistiu em duas etapas: uma teórica, abordando a vigilância de epizootias e a utilização da plataforma e seu aplicativo, com o cadastramento dos logins institucionais para os municípios receberem alertas automáticos em tempo real, e a etapa prática, na qual ocorreu a coleta de amostras e o treinamento dos técnicos para gerar notificações de epizootias georreferenciadas. A integração dos diversos conhecimentos aportados e o uso do Siss-Geo permitiu a identificação das áreas prioritárias, onde foram intensificadas as ações de vacinação, orientação e mobilização das equipes de atenção à saúde nos municípios do Paraná.

Encontro celebrou vitoriosa parceria na área de vigilância em saúde (foto: Peter Ilicciev)

 

A adesão da população e dos gestores ao Siss-Geo trouxe benefícios para prevenção e controle da febre amarela no Paraná. O sistema alcançou grande parte da população paranaense, já que os profissionais da área foram orientados a difundir seu uso. Com o Siss-Geo foi possível às equipes técnicas validar o desenho dos corredores ecológicos (rotas de possível circulação e amplificação do vírus amarílico), o que possibilitou a antecipação da tomada de decisões, tais como intensificação de vacinação da população em geral como também das áreas de maior risco.

A coordenadora Marcia Chame ressaltou que a ferramenta possibilita que a sociedade conheça a relação entre a saúde silvestre e a saúde das pessoas e repensem a forma de viver. “A conservação da biodiversidade pode trazer melhorias para a saúde e modificar o processo de transmissão de doenças e mitigar os impactos da degradação ambiental, que fazem com que algumas doenças reapareçam. As informações inseridas no aplicativo são analisadas por pesquisadores, que relacionam as ocorrências com diversos dados de infraestrutura socioambiental, modificações ambientais, mudanças climáticas e do uso da terra”.

A experiência paranaense mostrou que a sociedade e os profissionais de saúde locais podem gerar dados estratégicos para a identificação de áreas prioritárias para a vigilância e a vacinação, realizada com dois meses de antecedência, salvando vidas na região. O esforço integrado entre as diferentes instituições parceiras foi fundamental para o alcance dos resultados. A iniciativa de São José dos Pinhais passou então a ser replicada para outros estados e o objetivo é que continue se ampliando a todo o país.

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