08/10/2024
Um encontro inédito reuniu a Rede de Plataformas Tecnológicas do Norte e Nordeste no auditório da Fiocruz Pernambuco. No evento, a coordenação da Rede e os integrantes dos núcleos de plataformas da Fiocruz nas unidades de Pernambuco, Amazonas, Rondônia, Bahia e Ceará apresentaram recursos tecnológicos voltados para a saúde e a inovação, como impressoras 3D que estão em uso na produção de medicamentos. Na abertura, os discursos foram unânimes em lembrar a importância do trabalho em ciência de forma colaborativa e compartilhada.
A diretora-presidente da Facepe, Maria Fernanda Pimentel; o diretor do Cetene, Marcelo Carneiro Leão; a reitora da UFRPE, Maria José Sena; o diretor da Fiocruz Pernambuco, Pedro Miguel Neto; o diretor de Pesquisa da PROPESQI/UFPE, Joaquim Ferreira Martins Filho; o diretor do Instituto Keizo Asami, José Luiz Lima Filho; o vice-diretor de Pesquisa da Fiocruz PE, Manoel Lima Junior; e a coordenadora da Rede de Plataformas Tecnológicas da Fiocruz, Cássia Pereira, na abertura do evento (Foto: Fiocruz Pernambuco)
Para o vice-diretor de Pesquisa da Fiocruz Pernambuco, Manoel Lima Júnior, é necessária uma mudança de cultura para que o cientista abandone a ideia de ser dono do laboratório e dos equipamentos, passando a utilizar um espaço em comum. “Quando a gente fala da rede de plataformas trata-se de algo impessoal, público e acessível. Algo que está fazendo com que a gente melhore a nossa produção, contando não apenas com técnicos altamente especializados na operação do equipamento, mas também com toda uma assessoria técnico-científica”, explicou. Lima Júnior apontou a vantagem do pesquisador não se preocupar com a manutenção dos equipamentos e outras questões administrativas, que acabam desviando a atenção e o tempo do profissional dos estudos em desenvolvimento. Tudo isso fica a cargo da equipe da plataforma.
A coordenadora executiva da Rede de Plataformas Tecnológicas (RPT) da Fiocruz, Cássia Pereira, fez uma exposição sobre a Rede, mostrando sua missão, valores e a linha do tempo desde sua criação pela Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas (VPPCB) da Fundação. Nesse contexto, Pereira ressaltou um aspecto da evolução na forma de gerir a RPT. “Hoje a gente não está pensando apenas em adquirir equipamentos, mas sim tecnologia. Não é só uma questão de qual equipamento precisamos ter na Fiocruz, mas a que tecnologia os nossos pesquisadores precisam ter acesso e como a gente faz para fornecer esse acesso. Muitas vezes isso não passa pela aquisição do equipamento em si, mas por fazer um acordo com um parceiro da universidade ou de outra instituição de pesquisa”, declarou, mostrando que as parcerias podem ser viabilizadas ou fortalecidas a partir de contatos e trocas de experiência como os realizados neste encontro.
A gestora mostrou detalhes da infraestrutura da RPT Fiocruz, que conta com 81 plataformas, distribuídas em nove estados brasileiros, com mais de 500 serviços disponíveis. Elas reúnem um conjunto de tecnologias e equipamentos destinados à pesquisa, desenvolvimento tecnológico, inovação, vigilância e assistência. Pereira destacou que esses recursos encontram-se disponíveis para atender demandas de instituições públicas e privadas.
Por meio do site podem ser acessados os serviços das plataformas das unidades da Fiocruz em cada estado. O Núcleo de Plataformas Tecnológicas (NPT) da Fiocruz PE é uma delas e, como anfitrião do encontro, teve um espaço especial na programação de abertura do evento. O NPT foi apresentado por sua coordenadora, Cássia Docena, que ressaltou os diferenciais oferecidos pela plataforma, entre eles o de ter profissionais qualificados e sempre treinados. Docena mostrou também os indicadores de qualidade e os Procedimentos Operacionais Padrão adotados pelo NPT, enfatizando a Gestão da Qualidade do setor. A coordenadora abordou também as perspectivas futuras de inclusão de novos equipamentos ao parque tecnológico local, com o devido planejamento, a busca por novas cooperações técnicas e o aprimoramento dos minicursos ofertados.
Inovação em 3D
Ficou a cargo de Janine Boniatti, integrante da Coordenação Científica da RPT/Fiocruz falar sobre o tema Novas tecnologias e inovações. Ela abordou a complexidade de montar projetos para o financiamento da Rede, diante do desafio de manter o parque de equipamentos atualizado e com a manutenção em dia – um aspecto onde a RPT tem indicadores muito positivos, com os equipamentos em atividade mais de 90% do tempo. “Não temos que fazer apenas manutenção, mas pensar mais à frente, incorporar novas tecnologias, buscando acompanhar a evolução tecnológica”, afirmou. Ela comemorou a aprovação em dois editais da Finep – Fio-Nano e Centros Temáticos – com aportes que fortalecerão as plataformas nessa direção.
Boniatti chamou a atenção de todos para uma nova oportunidade para o SUS trazida pelas impressoras 3D: a impressão de medicamentos personalizados. Para idosos, por exemplo, a técnica permite inserir os diversos medicamentos que a pessoa necessite tomar durante o dia numa só dose do “imprimido” (nesse caso deixa de se chamar “comprimido”), onde é possível realizar uma segregação para que cada substância seja absorvida sem interações indesejadas. Para pacientes com câncer se torna possível, a partir do desenvolvimento de novos estudos, dosar o medicamento à necessidade específica de um paciente, minimizando os efeitos colaterais que costumam ser tão intensos nas dosagens hoje utilizadas. “E quando se fala de bioimpressão 3D o céu é o limite na produção de tecidos e miniórgãos”, pontuou.
Outra vantagem apontada pela pesquisadora é a facilidade de transporte dessa ferramenta para locais de difícil acesso ou em situações como a que ocorreu na pandemia, onde os mercados se fecharam para o fornecimento de insumos que estavam concentrados em poucos países. Embora possa parecer uma visão futurista, muitas dessas ideias já estão sendo aplicadas, utilizando recursos da RPT/Fiocruz.
À tarde o coral percussivo Elza Soares animou a chegada dos participantes para a programação que incluiu palestras sobre a gigilância genômica de patógenos, ministrada pelo coordenador do Núcleo de Bioinformática, Túlio Campos e sobre o Projeto Genoma SUS, pela pesquisadora Norma Lucena, ambos da Fiocruz PE. A plataforma de pesquisa do Instituto Keizo Asami foi tema da exposição feita pelo diretor do iLika/UFPE, José Luiz de Lima Filho, enquanto o Sistema de Laboratórios Multiusuários de Pesquisa da UFPE foi apresentado pelo diretor de Pesquisa da Propesqui, Joaquim Ferreira Martins Filho. O dia de apresentações e discussões foi encerrado com um debate em torno das apresentações.
O coordenador científico da Rede de Plataformas da Fiocruz, Wim Degrave, disse que o encontro foi uma oportunidade para refletir sobre a ampliação do escopo de atuação da RPT, para além da prestação de serviços e atendimento das demandas dos usuários. Ele convidou a pensar de forma criativa sobre como podem ser utilizadas as infraestruturas de equipamentos e de pessoal das plataformas para desenvolver projetos maiores ao lado de parceiros. “Onde as plataformas sejam utilizadas em projetos de pesquisa mais sofisticados, integrados, envolvendo vários grupos”, sinalizou.
A expectativa do coordenador é que as apresentações possibilitem avaliar e discutir as atividades, dificuldades, conquistas e oportunidades das diferentes plataformas que compõe rede Norte e Nordeste de Plataformas Tecnológicas da Fiocruz. Representantes das unidades de Pernambuco, Amazonas, Rondônia, Bahia e Ceará fizeram apresentações sobre as principais técnicas disponíveis em cada núcleo de plataformas. Veja mais detalhes na programação disponível aqui.
O encontro foi encerrado com homenagens prestadas pela Fiocruz PE a Cássia Dias Pereira (RPT/Fiocruz) e às integrantes do NPT/IAM Cássia Docena, Karina Lidiane Alcântara Saraiva e Viviane do Carmo Vasconcelos de Carvalho. Todas receberam placas em reconhecimento pela “dedicação, contribuição e excelência no desempenho de suas funções e no compromisso com as Plataformas Tecnológicas e a pesquisa científica”.