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02/05/2016

Especialistas da Fiocruz auxiliam Exército contra o Aedes

Lucas Rocha (IOC/Fiocrz)


No combate ao mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, a melhor arma é a informação. Virologistas e entomologistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) se aliaram a cerca de 150 gestores do Exército Brasileiro que atuam no combate ao Aedes aegypti em Organizações Militares (OMs). Durante a I Jornada Sobre Combate ao Aedes aegypti, promovida pelo Instituto de Biologia do Exército (IBEx), os especialistas do IOC/Fiocruz trocaram experiências com os militares sobre a importância das ações de prevenção, características dos vírus e o procedimento para o diagnóstico laboratorial destas doenças. O encontro foi realizado no dia 28/4, na Escola de Sargentos de Logística, no bairro de Deodoro, zona norte do Rio de Janeiro. “Reunimos pesquisadores de diferentes áreas de estudo com acesso às mais atualizadas informações sobre o comportamento do mosquito, a dinâmica dos vírus e a interação com a população. O objetivo é transformar os representantes de várias unidades militares em multiplicadores de conhecimento”, destacou o pesquisador José Bento Pereira Lima, chefe do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC/Fiocruz e um dos organizadores da iniciativa.

Prevenção

Sete a dez dias. Este é o tempo que o mosquito Aedes aegypti leva para se desenvolver de ovo à fase adulta, passando pelos estágios de larva e pupa. Estes e outros aspectos do inseto foram apresentados por Bento. O especialista, que colaborou para o desenvolvimento do conceito da campanha 10 Minutos Contra o Aedes, explicou em detalhes como funciona o processo e mostrou como é possível interromper este ciclo. “A prevenção é a estratégia ideal para evitar a proliferação do mosquito. Mas, para isso, é necessário o engajamento da população na vistoria semanal dos principais criadouros presentes no ambiente doméstico, como vasos de planta, ralos, pneus, bandejas de ar-condicionado, dentre outros objetos e espaços que possam acumular água. Dez minutos por semana é o suficiente”, ressaltou.

Diagnóstico

Febre, manchas vermelhas, dores no corpo: a semelhança entre os sintomas relatados pelos pacientes infectados por dengue, zika ou chikungunya dificulta a realização de um diagnóstico clínico preciso. Para explicar este contexto, a pesquisadora Flávia Barreto, do Laboratório de Flavivírus do IOC/Fiocruz, apresentou as características gerais dos vírus e ressaltou a importância do diagnóstico laboratorial. “Atualmente, não há uma vacina de larga escala que proteja a população contra estes agravos, além disso, controlar o vetor ainda é uma dificuldade. Nesse contexto, a identificação do tipo de vírus circulante, possível por meio do diagnóstico laboratorial é um diferencial”, destacou. Segundo a pesquisadora, diferentes técnicas são capazes de verificar a infecção por um patógeno, dentre elas, o isolamento viral, que pode ser realizado por meio do cultivo de células; os métodos moleculares, cujo reconhecimento depende da ampliação de trechos do DNA do vírus (técnica chamada de PCR); e a detecção de anticorpos – exames de sorologia que sinalizam a passagem do vírus pelo organismo. “Os dados adquiridos a partir destes tipos de diagnóstico permitem a prescrição do tratamento adequado, e ampliam o conhecimento da epidemiologia e da circulação dos vírus em uma localidade”, concluiu.

Alternativas

Além da prevenção e do conhecimento, o combate ao Aedes aegypti conta com estratégias alternativas de controle e monitoramento. A doutoranda do Programa de Pós-graduação Stricto sensu em Biologia Parasitária e do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do IOC/Fiocruz, Gabriela Azambuja, apresentou uma destas iniciativas: o Projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, trazido ao país pela Fiocruz, que estuda o uso da bactéria Wolbachia como forma de reduzir a transmissão dos vírus dengue e chikungunya. Recentemente, também foi demonstrado que a Wolbachia pode reduzir a transmissão do vírus zika. Gabriela explicou que, quando presente no Aedes, a Wolbachia reduz a capacidade do mosquito em transmitir o vírus. “É uma estratégia natural, por utilizar uma bactéria presente em cerca de 60% dos insetos e, ao mesmo tempo, segura - a Wolbachia permanece restrita ao interior das células, sendo encontrada apenas em invertebrados - e autossustentável, uma vez que a bactéria é transmitida da mãe para os filhotes, evitando a necessidade de solturas permanentes”, explicou.

Diante dos altos índices de infestação de Aedes no país, José Bento apontou para a necessidade de desenvolvimento de métodos de vigilância eficientes, baratos e facilmente aplicáveis por agentes de saúde. Segundo ele, o uso de armadilhas para capturar insetos é a melhor estratégia. “Fizemos um estudo em que foram avaliadas várias armadilhas disponíveis no mercado com potencial de estimar a população adulta de Aedes aegypti. Verificamos que todas apresentaram desempenho superior aos índices de larvas, conhecido como LIRAa”, explicou, ressaltando ainda a importância do trabalho dos agentes. “A adoção de qualquer armadilha na rotina da vigilância entomológica depende de capacitação prévia e avaliação continuada dos profissionais”, completou. Para Bento, a jornada abre espaço para novas iniciativas. “A ideia é criar, futuramente, brigadas nas Organizações Militares que poderão atuar no monitoramento e controle de focos do Aedes aegypti. Será necessário realizar um treinamento ampliado para estas ações e o conhecimento inicial adquirido aqui vai ser fundamental para essa ação”, concluiu.

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