18/05/2023
Elisandra Galvão (VPPCB/Fiocruz)
O projeto de pesquisa Catálogo da Vida: construindo as bases de uso e conservação da biodiversidade brasileira foi, recentemente, contemplado com um edital de fomento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). O trabalho, iniciado há 15 anos, é coordenado pela botânica Rafaela Campostrini Forzza, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e conta a participação de profissionais da Fiocruz. Zoólogos da Fundação estiveram envolvidos nas diferentes fases do projeto e, no estágio atual, ingressaram especialistas que trabalham com bactérias e microfungos.
Catálogo será adotado como a única lista oficial do Brasil para fauna, flora, funga, microrganismos e fósseis (foto: Mycena sp. / Catálogo da Vida)
O Catálogo da Vida do Brasil reunirá quatro diferentes áreas e funcionará como um dicionário para todos os sistemas que tratam de seres vivos. Seus dados são de acesso aberto e o Catálogo será reconhecido e adotado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) como a única lista oficial do Brasil para fauna, flora e funga (denominação recente para designar o reino dos fungos), microrganismos e fósseis. Rafaela Forzza esclarece que, no Catálogo, os fungos estão junto com as plantas, pois o código de nomenclatura que os rege é o mesmo das plantas e, historicamente, os micólogos (estudiosos dos fungos) trabalham junto com os botânicos. “Na etapa atual, estamos melhorando a qualidade dos dados de fauna, flora e funga. E iniciando o desenvolvimento dos catálogos de microrganismos e fósseis, que ainda não temos, para, no final do projeto, daqui a três anos, ter uma interface única de busca para todos os catálogos juntos”.
O recurso concedido pela Faperj para essa pesquisa é voltado para a produção dos catálogos que faltam, para criar uma rede de colaboradores e um arcabouço de sistema similar aos que já foram feitos com o apoio do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, a Coppe da UFRJ, para os dois primeiros catálogos. Até o momento, como resultado da pesquisa se tem catálogos em estágios diferentes de criação porque os materiais têm um tempo de vida diferentes. “O da flora e funga, iniciado em 2008, tem muito mais informações do que o da fauna, que começou por volta de 2015. Hoje somos quase 1.500 taxonomistas trabalhando no projeto”, diz Rafaela Forzza.
O objetivo é que o Catálogo tenha seus dados usados pelo Conselho de Gestão de Patrimônio Genético, do MMA, que a política pública sobre conhecimentos da biodiversidade brasileira seja melhorada e que o mesmo seja a referência oficial do país para toda a biodiversidade. “O resultado final desejado é entregar ao Estado brasileiro um material científico confiável, feito por cientistas que são os melhores para gerar as informações e colocá-las on-line para todo mundo”, complementa.
Nova etapa com microrganismos
Manuela da Silva, gerente do Biobanco Covid-19 da Fiocruz, lembra de sua integração ao projeto em 2021. “Eu fui convidada pelo subgrupo de microrganismos para contribuir na estruturação do projeto que seria submetido às agências financiadoras. A proposta do projeto é complementar ao que já existe para fauna, flora e funga. Faltava, portanto, o grupo dos microrganismos. Como este grupo é grande, a proposta foi iniciar com as bactérias e arqueas (seres unicelulares semelhantes às bactérias, mas genética e bioquimicamente distintos), e reforçar a presença dos fungos microscópicos, incluindo leveduras que não estariam contempladas na lista da flora e funga”. Ela informa que, entre as profissionais envolvidas com as coleções de bactérias da Fiocruz, participam do Catálogo da Vida Deyse Christina Vallim da Silva, Ilana Teruszkin Balassiano e Sheila da Silva Duque. Além delas está Manoel Marques, especialista em leveduras, Luciana Trilles, Luis Caetano Martha Antunes e Viviane Zahner.
À frente da etapa de catalogação de bactérias e arqueas está Marinella Silva Laport, do Instituto de Microbiologia Paulo Goés, da UFRJ. Ela trabalha junto com pesquisadores de diversas instituições públicas (UFRJ, UFF, Fiocruz, Unicamp, UnB e UFRGS) que atuam em diferentes áreas da microbiologia (domínios Bactéria e Archaea): microbiologia médica, oral, veterinária, zoonoses, ambiental (marinha, solo, agrícola, petróleo) e archaea.
“Cada pesquisador do comitê gestor do grupo de catálogo dos microrganismos ficará responsável por montar uma rede de pesquisadores que irá 'alimentar' o nosso catálogo com dados de bactérias e arqueas. A troca de experiências e informações entre os pesquisadores é constante. É importante deixar claro que o objetivo do catálogo não é criar coleções de culturas, isto várias instituições, inclusive a Fiocruz, o fazem muito bem. A nossa proposta é catalogar os microrganismos isolados em território nacional”, conclui Marinella Laport.