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01/02/2018

Especialistas palestram sobre febre amarela no Museu do Amanhã

Gabriella Ponte (Bio-Manguinhos/Fiocruz)


O surto de febre amarela voltou a ser motivo de preocupação no país, gerando questionamentos na população. Para elucidar estas dúvidas, o Museu do Amanhã convidou as pesquisadoras Tatiana Noronha, médica responsável pela área de Epidemiologia Clínica do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), e Mariana Rocha David, do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) para ministrarem a palestra Febre Amarela: Mitos e Verdades.

Bio-Manguinhos/Fiocruz é o maior produtor internacional da vacina de febre amarela. Tatiana ressalta que o Instituto vem dando prioridade total no atendimento da demanda nacional. "Testes realizados nos últimos anos têm demonstrado que a nossa vacina de febre amarela (dose plena) tem apresentado uma potência, em média, 12 vezes maior que o mínimo preconizado pela OMS [Organização Mundial da Saúde]. Também segundo a OMS, apenas uma dose da vacina plena dura por toda a vida, recomendação que foi adotada pelo Ministério da Saúde em 2017. Estudos conduzidos pela Fiocruz estão em andamento para avaliação da duração da imunidade conferida pela dose plena. Quanto à dose fracionada, os dados disponíveis até o momento indicam proteção por pelo menos por 8 anos (tempo de seguimento dos participantes do estudo de dose resposta de 2009)”, afirmou Tatiana. 

A especialista explicou porque para alguns públicos é recomendada apenas a dose plena. “Como estes estudos foram realizados em adultos saudáveis, a dose fracionada não é recomendada para crianças abaixo de 2 anos, além de idosos, gestantes  e individuos com condições clinicas especiais, lembrando que nesses últimos casos é necessária indicação médica para a vacinação. Portanto, após liberação médica, são imunizados com a dose padrão”. Por falta de informações, muitas pessoas estão matando os macacos, que não transmitem a doença e são tão vítimas quanto os humanos. “Eles são nossos sentinelas e nos mostram onde o vírus está circulando. Só quem transmite a doença é o mosquito”, esclareceu Tatiana. 

Com relação às manifestações clínicas da doença, ela comentou que o período de incubação médio é de três a seis dias. “Nos casos graves, podem ocorrer febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia (especialmente a partir do trato gastrointestinal) e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. Cerca de 20% a 50% das pessoas que desenvolvem doença grave podem morrer. No entanto, 90% dos casos são formas leves e assintomáticas”, ressaltou. O tratamento é apenas sintomático, com cuidadosa assistência ao paciente, sob hospitalização. “Assim que aparecer esses sintomas, é necessário ter um atendimento médico. Por isso, quanto mais precoce e preciso for o diagnóstico, melhor”, recomendou.

Mariana Rocha David contou a história dos mosquitos transmissores das arboviroses, como dengue, zika, chikungunya e febre amarela, explicando sobre as diferenças entre os ciclos silvestre e urbano. “Os mosquitos dos gêneros haemagogus e sabethes transmitem a febre amarela nas matas e o Aedes aegypti nas cidades. O haemagogus e o sabethes costumam ficar nas copas das árvores, por isso as principais vítimas são os macacos. Não achando macacos, eles fazem o humano de vítima”.

A especialista frisou que o Aedes aegypti está muito bem adaptado ao ambiente urbano e acostumado com a rotina dos humanos. “Ele voa até 200 metros do seu criadouro. Seu ciclo de vida é de 7 a 10 dias. Seu hábito de circulação é durante o dia. A melhor maneira de preveni-lo é eliminando o acúmulo de água parada”, avisou Mariana. “Outro mosquito urbano e silvestre que tem potencial para transmitir a doença é o Aedes albopictus, que tem origem asiática. Ele voa até mil metros. No entanto, até hoje, não encontramos um que tenha sido infectado”, concluiu.

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