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17/07/2020

Estudos avaliam resposta imunológica ao veneno de serpentes

José Gadelha (Fiocruz Rondônia)


Dois importantes estudos do Laboratório de Imunologia Celular Aplicada à Saúde da Fiocruz Rondônia tiveram reconhecimento da comunidade científica internacional com publicações de resultados em revistas científicas especializadas. Os dois trabalhos têm em comum o interesse em investigar os mecanismos envolvidos na resposta imunológica aos processos inflamatórios provocados por envenenamento por serpentes. 

Os dois trabalhos têm em comum o interesse em investigar os mecanismos envolvidos na resposta imunológica aos processos inflamatórios provocados por envenenamento por serpentes (foto: Carlos Carvalho, Fiocruz Rondônia)

 

Um dos estudos foi publicado no periódico Scientific Reports, pertencente ao grupo Nature, e baseou-se nos efeitos da enzima L-aminoácido oxidase (Cr-LAAO) em processos inflamatórios decorrentes de acidentes ofídicos. Pela primeira vez, foi mostrada a expressão gênica de vários mediadores pró-inflamatórios que são ativados mediante a ação dessa enzima. “Os efeitos da Cr-LAAO já vêm sendo estudados há bastante tempo, mas, de forma inédita, evidenciamos a participação de uma enzima intracelular importante em processos inflamatórios, complementando os estudos sobre a resposta do sistema imune frente ao envenenamento por serpentes”, explica Mauro Paloschi, pesquisador da Fiocruz Rondônia, autor da pesquisa e doutorando em Biologia Experimental pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Experimental (PPGBIOEXP) da Universidade Federal de Rondônia (Unir).

O estudo também identificou que a enzima Cr-LAAO atua na formação de corpúsculos lipídicos, que são organelas recém-descobertas responsáveis por significativos eventos moleculares durante a inflamação, inclusive para liberação de prostaglandina E2 (uma das moléculas essenciais no processo de dor). As prostaglandinas estão envolvidas em diferentes processos fisiológicos e patológicos, incluindo vasodilatação ou vasoconstrição (contração ou relaxamento da musculatura), além de mediar a resposta do sistema imunológico frente a um agente agressor. 

Uma das principais funções das prostaglandinas é a hiperalgesia, ou seja, uma sensibilidade à dor exacerbada, porque elas aumentam a sensibilização de receptores da dor. “Quando a sua produção é aumentada, ocorre maior sensibilidade à dor e à febre, além de incrementar a resposta inflamatória, como acontece no envenenamento por serpentes, portanto esse mecanismo que leva ao aumento da liberação de prostaglandinas é uma chave para entender todo o complexo da resposta imune ao envenenamento”, pontua o pesquisador, que teve o projeto aprovado em editais de financiamento da Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa (Fapero/Capes/CNPq), nos anos de 2016 e 2019. 

Em outro estudo, também realizado pelo Laboratório de Imunologia Celular Aplicada à Saúde, e publicado no periódico Toxins, buscou-se compreender como ocorre o mecanismo de envenenamento no tecido muscular. Por meio da técnica de Western Blot, foi possível chegar à detecção das proteínas formadoras do inflamassoma, um complexo proteico existente no interior das células de defesa, que atua diretamente na produção de moléculas pró-inflamatórias, em casos de infecção por microorganismos e, também, nos envenenamentos ofídicos. 

Além disso, a técnica utilizada no estudo identificou a liberação de interleucina 1-Beta, uma importante molécula resultante da ativação do complexo proteico. As imagens processadas em microscopia intravital (imagens de animais ainda vivos) mostram a presença de células imunológicas no local afetado pelo envenenamento e que podem estar relacionadas com a ativação do inflamassoma.

Charles Nunes Boeno, doutorando pelo PPGBIOEXP e autor da pesquisa, esclarece que “embora o estudo tenha sido realizado com modelos experimentais de camundongos, pode-se dizer que os dados obtidos com a pesquisa apresentam-se como um grande avanço na investigação de processos inflamatórios observados no envenenamento por serpentes”. O estudo foi realizado por meio de financiamento do Programa Pró-Rondônia (Fapero/Capes).  

Os dois trabalhos foram coordenados pela pesquisadora em Saúde Pública, Juliana Pavan Zuliani, chefe do Laboratório de Imunologia Celular Aplicada à Saúde. De acordo com a pesquisadora “os resultados apresentados, até agora, são extremamente relevantes para o entendimento dos efeitos provocados à saúde, em condições de envenenamento por serpentes, “uma vez que acidentes ofídicos afetam, anualmente, milhares de pessoas em todo o mundo, e estão inseridos dentro do quadro de doenças negligenciadas da Organização Mundial da Saúde (OMS)”.

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