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25/02/2019

Evento aborda desafios e contextos da saúde mental

Nathállia Gameiro (Fiocruz Brasília)


“Nosso objetivo não tem que ser a cura, tem que ser a autonomia e o autocuidado do usuário”, destacou o sociólogo Paulo Delgado durante a abertura da 2° Jornada Acadêmica de Saúde Mental Interdisciplinar, em que participaram profissionais de saúde, residentes, usuários da Saúde Mental e familiares. O evento foi realizado nos dias 21 e 22 de fevereiro na Universidade de Brasília (UnB) campus Ceilândia, por estudantes da Residência Multidisciplinar em Saúde Mental da Escola Superior de Ciências da Saúde (Escs). Pesquisadores do Núcleo de Saúde Mental Álcool e Outras Drogas, da Fiocruz Brasília, integraram mesas de debate e a comissão científica do evento.

Da política ao cuidado pela família. Esses foram alguns pontos destacados por Delgado, ex-deputado federal e autor da Lei 10.216/2001, conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, que redireciona o modelo de atenção em saúde mental, afastando-se das internações psiquiátricas para o cuidado em liberdade e garantindo proteção e direitos aos pacientes portadores de sofrimento mental. Paulo lembrou que foram mais de 30 anos de debate até a formulação da lei, que passou por diferentes governos em seus 18 anos de existência. 

O sociólogo lembra que as pessoas com transtorno mental ainda sofrem com o julgamento da sociedade, e por isso muitos defendem o tratamento com internações. Para ele, antes de falar é preciso conhecer primeiro o hospício, pois sem conhecer, não é possível entender o grau de aniquilamento pelo qual o interno passa. “O doente mental é parte da sociedade e nenhuma autoridade médica, judiciária ou policial pode estar instituído do poder de tirar dele a cidadania. A doença não interdita a cidadania de ninguém”, ressaltou. Ele defende que o tratamento é mais efetivo perto da família do que dentro de uma instituição fechada e lembrou que os profissionais de saúde precisam oferecer cuidado e acolhimento também aos familiares.

O tratamento feito apenas com medicamentos foi outro ponto criticado por Delgado. “Água com açúcar dado com amor às vezes faz mais efeito que remédio dado com desprezo”, disse. Para ele, a sociedade está adoecendo sem perceber por causa da pressão da vida. “Há a ideia de que um problema mental corresponde ao circuito: doença, bactéria, droga, leito, cama e isolamento. Esse roteiro é equivocado no tratamento de doença mental porque ela não é contagiosa. A medicina quando é de mercado, é de matar”, completou.

Durante as mesas de debate, dois nomes importantes da Reforma Psiquiátrica foram lembrados: Franco Basaglia e David Capistrano por sua coragem e ousadia de liderar uma mudança na abordagem do sistema de saúde mental.

Franco, um psiquiatra italiano, dirigiu um hospital psiquiátrico e foi precursor do movimento de reforma psiquiátrica italiano conhecido como Psiquiatria Democrática, para  transformar os estabelecimentos de internações em comunidade terapêutica. A Lei nº 180, de 1978, conhecida como Lei Basaglia, estabeleceu a abolição dos hospitais psiquiátricos na Itália e está vigente atualmente.

Os resultados na Itália influenciaram uma geração de profissionais da saúde mental no Brasil. O político e médico David Capistrano, foi um dos mais ativos participantes na luta por um novo modelo assistencial em Saúde Mental e defensor da política pública que estabelecia o usuário como protagonista. Em 1989, ele fechou o primeiro hospital psiquiátrico do Brasil, a Casa de Saúde Anchieta, hospital de 200 leitos cadastrados e quase 500 internos.

Conitnue a leitura sobre o evento no site da Fiocruz Bahia.

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