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05/08/2019

Evento aborda refugiados, comensalidade e produção social

Tatiana Clébicar (Icict/Fiocruz)


Que gosto tem a saudade? Para a venezuelana Maria Gabriela Moreno, de 33 anos, tem sabor de patacónes. À base de banana frita, frango e vegetais, o prato lembra o país que deixou há quase dois anos e é sua receita para o recomeço. Como para muitos refugiados acolhidos no Brasil, a gastronomia tem sido, mais do que um aspecto de integração cultural e econômica, fator de produção social de saúde para sua família. É dessa perspectiva que parte o seminário Acolhimento à mesa: comensalidade e produção social de saúde entre refugiados, marcado para o dia 14 de agosto, das 9h às 12h30, no Salão de Conferência do Centro de Documentação em História da Saúde (CDHS), no campus de Manguinhos (RJ). Com o objetivo de debater a presença de refugiados no Brasil e seus desdobramentos para o Sistema Único de Saúde (SUS), o evento científico é organizado pela turma de doutorado de 2018 do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Icict/Fiocruz) e integra a jornada que comemora dez anos do programa. Veja a programação completa.

Com números que indicam que pedidos de refúgio quintuplicaram em três anos, saltando de 16 mil, em 2013, para 79 mil, no ano passado, os alunos pretendem tratar de um tema oportuno pela via do afeto. Segundo eles, a disposição em conceder refúgio implica desafios e oportunidades, inclusive para o SUS. O ato de comer e as representações simbólicas relacionadas aos alimentos são mencionados como fatores de sociabilidade ligados ao processo saúde-doença. “Essas questões são recorrentes nas missões de interiorização de refugiados”, destaca o doutorando Luiz Marques Campelo, representante do Ministério da Saúde em ações organizadas em parceira com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Projeto Chega Junto

O seminário terá a participação do especialista em migrações transnacionais e comunicação intercultural Mohammed Elhajji, professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) nos programas de pós-graduação em Comunicação e Cultura e em Psicologia Social e coordenador local do Máster Erasmus Mundus em Migrações Internacionais e do Fórum Anual de Migrações Transnacionais; do antropólogo Vilson Caetano de Sousa Júnior, professor da Escola de Nutrição e do Programa de Pós-graduação em Antropologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA); e da estudante de Relações Internacionais e atriz Mariama Bah. Natural da Gâmbia, ela está há quatro anos refugiada no Brasil, onde fundou a marca Sabaly que trabalha com o empoderamento de mulheres imigrantes e refugiadas. A mediação será feira pelo jornalista Rogério Lannes Rocha, coordenador e editor-chefe do Programa Radis de Comunicação e Saúde, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz) e integrante da turma.

Além de propor a reflexão científica, os discentes, com o apoio da pesquisadora e professora Maria Cristina Soares Guimarães, pretendem colaborar com o intercâmbio cultural entre refugiados acolhidos no Rio e a comunidade Fiocruz. “Nosso desejo é mostrar a potência que a presença de refugiados e de suas tradições culturais em território nacional oferece para a produção social de saúde e o aprimoramento do SUS”, enfatiza a doutoranda Ana Carolina Gonzalez, chefe do Serviço de Itinerância do Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), uma das idealizadoras da mostra Hope: refúgio e esperança, com fotografias de Lucas Neves. A exposição tem apoio do Sindicato dos Servidores de Ciência, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública (Asfoc-SN).

Uma parceria com o projeto Chega Junto e com a Cooperação Social da Presidência também vai trazer sabores latinos, africanos e sírios para o campus. No mesmo dia do seminário, refugiados vão vender produtos gastronômicos e artesanato étnico na Feira do Talento, que ocorre mensalmente nos jardins da Biblioteca de Manguinhos. É a oportunidade para experimentar os coloridos adornos de Mariama Bah, conhecer os patacónes de Gabriela Moreno e provar o sabor do acolhimento.

Serviço:
Seminário: Acolhimento à mesa - comensalidade e produção social de saúde entre refugiados 
Data: 14 de agosto 
Horário: 9h às 12h30 
Local: Salão de Conferência do Centro de Documentação em História da Saúde (CDHS), no campus Fiocruz (Manguinhos)
Vagas limitadas: inscreva-se aqui

Exposição Hope: refúgio e esperança
Fotografias de Lucas Neves, no Solarium do CDHS

Refugiados na Feira de Talentos:
Andres Gomez – Artesanato da Colômbia
Louise Nya – Culinária do Togo e Camarões
Maria Gabriela Moreno – Culinária da Venezuela
Mariama Bah – Moda africana (Gâmbia)
Mohammad Sharbaji – Culinária da Síria
Nyimpini Khosa – Artesanato de Moçambique

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