Início do conteúdo

15/04/2019

Evento debate força e resistência dos povos indígenas

Thamiris Carvalho (Informe Ensp)*


A defesa dos povos mais vulneráveis do Brasil foi o tema da aula inaugural de 2019 do Curso de Especialização em Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), que contou com a primeira deputada federal indígena eleita no país, Joênia Wapichana. A palesrante trouxe para o debate pautas a respeito da saúde e resistência dos índios. Um delas é a municipalização da saúde indígena, que intenciona transferir os cuidados com essa população para as mãos da atenção básica municipal, aumentando, ainda mais, as filas do Sistema Único de Saúde (SUS). O novo projeto do governo federal despertou manifestações por todo o país e gerou críticas da deputada. Ela lembrou a todos que "os direitos dos índios não são ideologias; são direitos respaldados em Constituição, sendo dever do povo brasileiro consultar os povos indígenas em tudo o que lhes afetam".

Durante a apresentação, a deputada federal Joênia Wapichana comentou a importância da identidade indígena (foto: Informe Ensp)

 

A coordenadora do curso, Tatiana Wargas, abriu a mesa ressaltando a relevância da discussão. "Os povos originários são um tema fundamental para o debate de saúde hoje em dia". Já Rafael Arouca, pesquisador da Ensp/Fiocruz, representando a Vice-Direção de Ensino, falou sobre a importância dessa formação: “Estamos em um momento em que formar sanitaristas é fundamental, ainda mais no atual cenário que vivemos e precisamos enfrentar”.

Já durante a apresentação, a deputada federal Joênia Wapichana comentou a importância da identidade indígena. Ela citou o processo de colonização que trouxe estradas e  tecnologias, além de fazer com que os índios criassem a relação intercultural, e não a perda da sua cultura. “O fato de ser deputada, usar laptop e fazer mestrado não tira minha identidade. Eu sou indígena.” Criar políticas públicas iguais para todos também gerou comentários da deputada. "Apesar de todos serem índios, a realidade é diferente, já que esse processo de colonização atingiu cada um de uma forma distinta", disse ela. 

A importância da Lei n. 9.836/99, mais conhecida como Lei Arouca, ganhou observação da convidada. Tal lei criou um subsistema de atenção à saúde indígena que previa as participações dos índios nos Conselhos de Saúde Municipal, Estadual e Federal. Joênia salientou o descaso com o cumprimento das leis, mesmo com todo o avanço conquistados por essa minoria, e lembrou, mais uma vez, que a consulta aos povos indígenas é fundamental para que eles possam entender o que irá afeta-los. 
 
Força e resistência

Com um tom de protesto, a deputada ressaltou a importância de lutar contra qualquer tipo de atraso, lembrando a necessidade do conhecimento mais amplo sobre essas causas na intenção de maior engajamento nas resistências. “Não podemos deixar reescreverem a história do Brasil com falsas histórias. Mesmo com toda a repressão e perseguição, os povos indígenas resistiram. Aprendemos com nossas falhas para não cometer mais crimes”, comenta Joênia, lembrando ainda que, quando os índios resistem, eles resistem para todos, e não apenas por eles. 

Confira a palestra da deputada Joênia Wapichana: 

*O texto da estagiária Thamiris Carvalho foi produzido sob supervisão da jornalista Isabela Schincariol. 

Voltar ao topo Voltar