Mulheres são valiosas: saúde, diversidade e democracia na Fiocruz foi o tema do evento promovido pelo coletivo de mulheres da Fundação para marcar o Dia Internacional das Mulheres deste ano. O debate aconteceu nesta quarta-feira, na data instituída (8/3) para reforçar a reflexão sobre a luta das mulheres por direitos iguais. Antes do início, às 9h, trabalhadoras de diversas unidades se reuniram para a tradicional foto da comunidade feminina Fiocruz, em frente ao Castelo Mourisco, no campus Manguinhos-Maré, no Rio de Janeiro. As unidades de outros estados enviaram suas fotos, projetadas durante o evento (confira a galeria de fotos).
Trabalhadoras de diversas unidades da Fiocruz se reuniram para foto da comunidade feminina na frente do Castelo Mourisco, no Rio de Janeiro (foto: Peter Ilicciev)
As organizadoras do evento fizeram a leitura de uma carta intitulada Mulheres na Fiocruz 8M 2023: em defesa da vida, da ciência, da democracia e do SUS. O objetivo é reafirmar o compromisso da Fundação em defesa da vida e da dignidade humana, por meio do fortalecimento da luta de mulheres e de todas as pessoas invisibilizadas pelos sistemas de opressão existentes na sociedade. O documento propõe medidas efetivas para a construção de um ambiente mais igualitário para as mulheres na Fiocruz. As ações permeiam assuntos como equidade salarial, licença maternidade, entre outros temas.
Como um ato afirmativo simbólico, a carta foi entregue ao presidente em exercício Mario Moreira, candidato à eleição para cumprir o restante do mandato 2020/2024, vago com a saída da atual ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima. “A Fiocruz é reconhecida hoje como um espaço de luta pelos direitos, mas internamente há um espaço de avanço, tanto das nossas políticas internas quanto em nossas políticas de gestão”, afirmou. Ele destacou que a Presidência, em parceria com o Comitê de Pró-Equidade, tem discutido ações concretas para garantir um ambiente mais democrático para todas as mulheres.
Violência
Ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima enviou um recado especial para a comunidade Fiocruz em vídeo exibido na abertura do evento. “A cada quatro horas, uma mulher é vítima de violência em nosso país. A cada dia, uma mulher morre por violência cometida contra ela, por ser mulher. Esses dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram os desafios a serem enfrentados não apenas pelo Ministério da Saúde, mas pelo conjunto dos ministérios do governo federal liderados pelo presidente Lula”, disse.
“Combater o feminicídio, combater a violência sexual, preservar a equidade de gênero e o respeito à diversidade de gênero são pilares de nossa atuação e creio que sejam também pilares de atuação do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz”, discursou. Nísia reafirmou o compromisso do Ministério da Saúde com pautas fundamentais, como a equidade salarial de homens e mulheres, e anunciou o lançamento de um programa de Valorização das Trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS), composto de mais de dois milhões de mulheres.
Roda de conversa
Seguindo a programação, às 10h, no auditório da Escola Politécnica Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), foi aberta a mesa de debate Mulheres são valiosas: saúde, diversidade e democracia na Fiocruz. A roda teve a mediação da educadora e integrante do Comitê Fiocruz pela Acessibilidade e Inclusão das Pessoas com Deficiência e do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, Hilda Gomes. Contribuíram para a discussão mulheres de diversos grupos minoritários, que partilharam suas experiências como símbolo de autoafirmação para provocar a reflexão de possíveis caminhos para um cenário mais igualitário para todos.
Assista na íntegra a transmissão do evento no canal da Asfoc-SN.
Participaram da mesa de abertura Hilda Gomes; a coordenadora-geral de Gestão de Pessoas (Cogepe/Fiocruz) e integrante do Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça da Fiocruz, Andréa da Luz; a vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, Cristiani Machado; a presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz (Asfoc-SN), pesquisadora e chefe do Laboratório de Medicamentos, Cosméticos e Saneantes do INCQS/Fiocruz, Mychelle Alves; e o presidente em exercício da Fiocruz, Mario Moreira.
Cristiani Machado destacou a importância da luta contra a desigualdade e lembrou a discussão em torno das mulheres na ciência. “As desigualdades que existem na sociedade se expressam fortemente no campo científico. Já somos quase a metade dos cientistas no país e aqui na Fundação somos quase a metade das trabalhadoras. Porém, as mulheres não ocupam as altas posições de reconhecimento acadêmico e nem de gestão, é uma desigualdade muito marcante. Esse é o debate que a gente tem que trazer”, afirmou.
A roda de conversa contou com as falas da historiadora, escritora e ilustradora, idealizadora da Pachamama Editora de Aline Rochedo Pachamama, mulher indígena do Povo Puri da Mantiqueira, RJ; da assistente social e jornalista Bruna Catalan; da psicóloga Céu Silva Cavalcanti, integrante da Associação Brasileira de Estudos da Trans-homocultura e Articulação Nacional de Psicólogues Trans. Participaram também a cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade Jaque Kuña Aranduhá, indígena do Povo Kaiowá (MS); e a fotógrafa Jéssica Mendes.
Contribuindo para a diversidade do debate, participaram da roda de conversa a assistente social Liliane Santos, coordenadora do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça das Redes de Desenvolvimento da Maré; a jornalista Lucília Machado, integrante da Frente Nacional de Mulheres e diretora da Acessar - Comunicação, Diversidade e Inclusão; a neuropsicopedagoga Norma Souza, diretora do Instituto Kevyn - Projeto Marias em Manguinhos; a atriz Rebecca Gotto; e a auxiliar administrativa Tatiane Fonseca dos Santos Gomes.
Durante a roda de conversa, uma das convidadas, a psicóloga Céu Silva Cavalcanti, integrante da Associação Brasileira de Estudos da Trans-homocultura, relatou parte de sua história pessoal e enfatizou a importância das lutas de outras mulheres para garantir os avanços atuais. “A gente deve muito aos feminismos negros, que nos 1970 pautaram a complexificação do que é ser mulher, das nossas pautas, quais são nossas lutas”, afirmou. “Essa complexificação foi fundamental para a gente entender que as nossas estratégias também precisam ser complexas”, disse. Ela também falou sobre o dilema enfrentado por ser primeira mulher trans a ocupar determinados espaços.
O Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) também realizou uma roda de conversa com o tema Mulheres são valiosas: Saude, Diversidade e Democracia e homenageou as trabalhadoras da unidade que já faleceram, com destaque para a pesquisadora Léa Camillo-Coura.