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10/10/2024

Filme criado por projeto da Rocinha, com apoio da Fiocruz, estreia no Festival do Rio

Leonardo Sodré (Plano Integrado de Saúde nas Favelas RJ)


A sensível história de dona Lindacy, estudante da Educação Jovens Adultos (EJA) do Ciep Ayrton Senna, na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, inspirou os participantes do projeto Jovens Repórteres da Rocinha (JRR) a contarem sua história nas telas do cinema. O projeto é desenvolvido pelo Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), uma das organizações que fazem parte do Plano Integrado de Saúde nas Favelas do Rio de Janeiro, iniciativa capitaneada pela Fiocruz em conjunto com universidades e instituições de pesquisa que atua em 33 municípios do estado. O curta-metragem sobre a ilustre moradora da favela carioca e o fazer coletivo será exibido dentro da programação do Vídeo Fórum, no Festival de Cinema do Rio, nesta quinta-feira (10/10), a partir das 8h45, no Cine Odeon.

Dona Lindacy e os jovens que a entrevistaram e produziram o filme (Foto: Jovens Repórteres da Rocinha)

 

A ideia do filme Uma história de Lindacy começou ainda na escola onde estudam os jovens repórteres, quando conheceram a personagem que seria central para a história. Num evento de intercâmbio de atividades realizado no pátio, Lindacy conheceu a proposta do projeto e sentiu-se à vontade para falar sobre seus livros, instigando a curiosidade dos estudantes. Ao conversarem com ela, os jovens descobriram um potente enredo. No laboratório montado no Ciep, tiraram o plano do papel: dedicaram-se à criação do roteiro, à gravação, edição e finalização. O filme foi submetido ao processo classificatório e conseguiu entrar para a lista dos 50 escolhidos da mostra do Festival.

No documentário, Lindacy compartilha sua trajetória de vida, marcada pela ausência da memória da mãe. Desde cedo, ela aprendeu a lidar com a ausência, uma ferida que a acompanhou durante toda a vida, já que nunca conheceu sua genitora. Essa falta foi determinante para buscar na escrita uma forma de criar suas próprias memórias, de eternizar experiências e sentimentos que, de outra maneira, poderiam se perder no tempo. Por meio de sua narrativa, ela ensina sobre resiliência e a importância de não se esquecer do que se vive, e sobre a capacidade de transformar dor em arte.

Através do projeto Jovens Repórteres de Bairro da Rocinha, estudantes do primeiro e segundo anos do Ensino Médio do Ciep Ayrton Senna vêm trocando saberes desde 2023 em oficinas de comunicação comunitária, com enfoque em saúde. O objetivo é que eles sejam produtores e multiplicadores de informações na comunidade. O coordenador-executivo do Plano Integrado de Saúde nas Favelas do Rio de Janeiro, Richarlls Martins, considera a seleção do filme para o festival um reconhecimento do trabalho de comunicação comunitária desenvolvido na Rocinha.

"A seleção de um documentário dessa temática, que amplia a participação da juventude nas ações de saúde, difunde conteúdos de saúde a partir de uma estratégia promovida pelo Plano Integrado de Saúde nas Favelas, corrobora a importância de potencializar e apoiar a ampliação da participação social das periferias no interior das políticas públicas de saúde. Essa veiculação da saúde pública com o campo da arte e cultura é muito importante como uma forma de difusão de práticas de promoção  da saúde nas favelas”, aponta Martins. 

Segundo ele, "a inclusão do filme no Festival do Rio reconhece o empenho dos jovens repórteres da Rocinha, e a valorização de histórias cotidianas que, muitas vezes, permanecem à margem. É um momento de celebração para todos os envolvidos, uma oportunidade de mostrar, por meio deste festival, que as favelas do Brasil são carregadas de narrativas poderosas, capazes de tocar corações e provocar reflexões", afirma. 

Entre os Jovens Repórteres, o sentimento é de orgulho por ter um trabalho classificado para um evento de porte internacional. Thomas Santos Silva, de 17 anos, é um dos criadores do filme e destaca a evolução que percebeu no trabalho do grupo durante a experiência da gravação e edição. 

"É incrível participar pela primeira vez dessa experiência. A gente evoluiu e aprendeu junto fazendo esse documentário. É um orgulho ter o nosso filme como um dos escolhidos. Me sinto privilegiado por ter tido essa oportunidade", diz.

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