06/08/2024
Leonardo Sodré (Plano Integrado de Saúde nas Favelas RJ)
Com objetivo de ampliar ações integrais de saúde em territórios onde vive a população mais vulnerabilizada do Rio de Janeiro, a Fiocruz deu início a 56 novos projetos em parceria com instituições da sociedade civil de 33 cidades do estado. Nos próximos meses, a Fundação vai realizar ações de treinamento profissional em saúde, atividades ligadas à saúde mental, projetos para o desenvolvimento da agroecologia, iniciativas de comunicação e informação com foco em arte e cultura, além da produção de diagnósticos sociais das políticas e dos serviços de saúde em favelas. As atividades fazem parte do Plano Integrado de Saúde nas Favelas RJ - Fiocruz/UFRJ/Uerj/PUC-Rio/Uenf/IFF/Abrasco/SBPC/Alerj.
O aumento de atividades propostas pelos 56 projetos selecionados em algumas cidades chamou atenção: 15 vão desenvolver ações de saúde nas favelas de Niterói, oito nas favelas de São Gonçalo, sete nas favelas de Duque de Caxias, cinco nas favelas de Mesquita e quatro em Itaguaí e Belford Roxo (Foto: Plano Integrado de Saúde nas Favelas RJ)
O evento Saúde, parcerias e redes - 146 X Favela, que ocorreu no Museu da Vida Fiocruz, na última sexta-feira (2/8), marcou o início dos trabalhos das 56 organizações que tiveram as propostas contempladas no edital da Fiocruz. O plano teve origem em 2021 apoiando 41 projetos, em seis cidades. Com a ampliação do investimento o número de projetos apoiados chegou a 146. O presidente da Fiocruz Mário Moreira agradeceu a parceria das organizações sociais durante o encontro no Museu da Vida, onde todos receberam orientações sobre cronogramas e processos para execução dos novos projetos.
“O mais importante é estarmos preparados e juntos para atender a população na ponta. A Fiocruz está na favela com muita honra e muita alegria, por isso batizamos o Campus de expansão de Campus Maré, para marcarmos esta posição. Estou aqui para dizer a essas organizações que nós estamos juntos no desenvolvimento dessa rede. Nesta oportunidade, reafirmamos nosso apoio e acreditamos que esse é o caminho para o país superar esse abismo social que é uma chaga da sociedade e temos que trabalhar de baixo para cima, nos mantendo mobilizados para mudar essa realidade”, ressaltou Moreira.
Dentre as propostas, 55% foram elaboradas por organizações sociais que ainda não haviam efetuado ações no âmbito do primeiro edital realizado pelo Plano Integrado de Saúde nas Favelas do Rio de Janeiro em 2021. Com a execução das novas ações, a abrangência territorial do Plano será ampliada dos atuais 18 municípios (Angra dos Reis, Campos dos Goytacazes, Duque de Caxias, Itaperuna, Magé, Mangaratiba, Maricá, Mesquita, Niterói, Nova Iguaçu, Paraty, Petrópolis, Queimados, Rio de Janeiro, Seropédica, São Gonçalo, São João de Meriti e Volta Redonda) para 33, com a atuação de organizações sociais em Barra Mansa, Belford Roxo, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Japeri, Nilópolis, Paracambi, Rio Bonito, Rio Claro, São Pedro da Aldeia, Tanguá e Teresópolis.
O aumento de atividades propostas pelos 56 projetos selecionados em algumas cidades chamou atenção: 15 vão desenvolver ações de saúde nas favelas de Niterói, oito nas favelas de São Gonçalo, sete nas favelas de Duque de Caxias, cinco nas favelas de Mesquita e quatro em Itaguaí e Belford Roxo. Na cidade do Rio de Janeiro, serão apoiadas 25 estratégias nas favelas da zona Norte, 15 nas favelas da zona Oeste, nove nas favelas da zona Sul e cinco nas favelas da região central.
Richarlls Martins, coordenador-executivo do Plano Integrado de Saúde nas Favelas RJ - Fiocruz/UFRJ/Uerj/PUC-Rio/Uenf/IFF/Abrasco/SBPC/Alerj, destaca a articulação conjunta de diferentes atores sociais para o êxito na execução das ações. “Nós iniciamos as ações em 2021 apoiando 41 projetos, em apenas seis municípios. Após três anos, chegamos a 33 cidades do estado. Ou seja: um terço do estado do Rio de Janeiro. Isso impactou na vida de 385 mil pessoas que moram nas favelas e contribuiu diretamente com a construção de uma agenda de saúde integral nas favelas. Essa articulação só foi possível porque é pensada a partir da participação direta das instituições que atuam nesses territórios, de universidades e instituições de pesquisa. Nesse sentido, a gente tem a perspectiva de ampliar essas ações a partir do início dos novos projetos”, ressalta.
Experiências bem sucedidas inspiram ações concretas
O Plano Integrado de Saúde nas Favelas RJ - Fiocruz/UFRJ/Uerj/PUC-Rio/Uenf/IFF/Abrasco/SBPC/Alerj já impactou diretamente e indiretamente aproximadamente 385 mil pessoas, em favelas de 18 cidades com apoio a segurança alimentar, saúde mental, comunicação em saúde, educação popular em saúde e geração de renda. Os projetos possuem centralidade de atuação no enfrentamento à fome e no direito à alimentação adequada, foco na saúde mental, produção de conteúdo sobre prevenção, vacinação e enfrentamento às notícias falsas.
A coordenadora do projeto de segurança alimentar do Redes da Maré, Patrícia Ramalho, conta que a seleção da proposta apresentada no primeiro edital do Plano Integrado de Saúde nas Favelas do Rio de Janeiro permitiu o fortalecimento nutricional de famílias que vivem no território atendido pela organização. "Através do financiamento do Plano, conseguimos manter a distribuição de cestas básicas para as famílias em situação de vulnerabilidade, que a gente acompanha desde a pandemia. Também estamos implantando na Maré uma cozinha comunitária que está em construção. Nesta cozinha, vamos desenvolver projetos focados na alimentação saudável, soberania alimentar, além da entrega de alimentos. Nosso objetivo com esse novo equipamento é garantir a entrega de 500 quentinhas diárias para as famílias em situação de insegurança alimentar e para a população em situação de rua", explica. "Neste novo edital, o nosso projeto do Plantão da Saúde, também foi selecionado. Neste, vamos construir hortas com plantas medicinais nas seis unidades de saúde da Maré, com parcerias firmadas com essas unidades de saúde. Também vamos desenvolver outros projetos em parcerias com organizações que atuam na Maré e fazem parte do plano, ampliando mais nossa rede. Para esse segundo edital, nosso foco é fortalecer ainda mais as parcerias".
Nos próximos meses, a Fundação vai realizar ações de treinamento profissional em saúde, atividades ligadas à saúde mental, projetos para o desenvolvimento da agroecologia, iniciativas de comunicação e informação com foco em arte e cultura (Foto: Plano Integrado de Saúde nas Favelas RJ)
A participação do projeto Semear é Vital no primeiro edital do Plano Integrado de Saúde nas Favelas do Rio de Janeiro, segundo a coordenadora da organização Bianca Oliver Sarmento, fez com que a instituição ficasse mais conhecida no território em que atua, em Niterói. O foco nesta segunda jornada será ampliar as ações de promoção da alimentação saudável.
"O primeiro edital nos permitiu atingir bastante gente da nossa comunidade, no Vital Brazil. Conquistamos muita visibilidade dentro da comunidade e fora da comunidade também, porque a Fiocruz é uma instituição que dá pra gente essa possibilidade. Com isso, ganhamos o prêmio Globo de Sustentabilidade, a partir do projeto que teve o fomento da Fiocruz. Agora, buscamos atingir as comunidades do entorno e levarmos para mais pessoas cursos de formação em saúde, agroecologia e meio ambiente, para impulsionar a formação de um coletivo de agricultores urbanos nas favelas de Niterói, certificados para fornecer alimentos aos mercados municipais da cidade", almeja.
Coordenadora do Rocinha Resiste, Magda Gomes participou de um dos painéis do evento Saúde, parcerias e redes - 146 X Favela, que aconteceu no Museu da Vida, na última sexta-feira (2/8). Ela diz que o aporte do edital vai contribuir com articulações para ações em saúde no território da Rocinha e de Rio das Pedras.
"Nosso objetivo pensar a favela nutrida junto com outras instituições. Será que a favela realmente está nutrida? Quais são as falhas e acertos do processo de nutrição? O objetivo é partirmos dessas reflexões para pensarmos a segurança alimentar, sobretudo para a população preta. Isso é mais uma oportunidade, mais uma ferramenta que temos para pensarmos além da dimensão da distribuição do território, mas também da pesquisa, a incidência, a ciência, a academia, com e para os favelados. Eu acho que um grande marco desse Plano foi de fato ter sido pensado, criado e construído com os movimentos sociais, porque é nesse lugar, nessa sensibilidade que a gente fortalece as ações de território", defende.