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23/11/2021

Fiocruz Mata Atlântica lança vídeo sobre mulheres e agroecologia

Elisandra Galvão (Fiocruz Mata Atlântica)


São várias mulheres juntas. Algumas vêm de famílias de agricultores, outras não. Elas estão unidas pelo cultivo agroecológico em seus quintais, no setor 1 da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Elas produzem alimentos sem agrotóxicos que servem para sua alimentação e de seus familiares enquanto o excedente é comercializado em circuitos curtos em Jacarepaguá e outros bairros do Rio de Janeiro. Um pouco de suas histórias estão registradas no vídeo Experiências agroecológicas dos quintais produtivos da Colônia Juliano Moreira (2021). O registro documental foi produzido pelo coletivo Quintais Produtivos da Colônia e a Fiocruz Mata Atlântica (FMA), que lançam oficialmente o vídeo neste mês de novembro. 

 

A ideia de resgatar o trabalho, as experiências e a memória das mulheres, que plantam e adotaram uma alimentação mais saudável, foi de Andrea Vanini e Valdirene Militão, ambas da FMA, ao participaram do curso Diplomado Internacional en Agroecología para la Sustentabilidad, da Universidade Autônoma de Querétaro - México. Elas coletaram os depoimentos de Sumaya Bezerra, Sandra Maria dos Santos, Fátima Maria da Silva, e de Gilson Antunes, coordenador executivo da FMA, e outros profissionais do programa envolvidos em ações voltadas para a segurança alimentar, a agricultura urbana, a agroecologia e a economia solidária para promoção da saúde. 

Plantar no quintal tem contribuído para melhorar a saúde, tanto física como mental. Este é um depoimento comum a uma parte das mulheres. Elas tiveram acesso a cursos por meio do projeto da FMA, voltado para o setor 1, e de parcerias – como a com a Rede Carioca de Agricultura Urbana. A formação,  além de tornar os espaços mais produtivos, permitiu uma melhor gestão do lar e as capacitou para tratar resíduos da casa e cultivar hortaliças, temperos e ervas. “Para mim foi uma experiência que começou em vasos e evoluiu para o próprio quintal”, conta Brenda Azevedo, moradora do setor 1 da Colônia Juliano Moreira e bolsista de extensão da FMA. Ela pôde estudar a produção agrícola, o que permitiu valorizar e se interessar pelo cultivo de orgânicos em quintais, em plena área urbana da cidade do Rio de Janeiro. 

Embora o vídeo seja esteticamente simples, aborda com a síntese necessária as relações entre saúde e agroecologia, e coletividade, autonomia feminina e conservação ambiental, com base num trabalho promovido pela Fiocruz Mata Atlântica desde 2011 no setor 1 e que, segundo depoimento de Robson Patrocínio, da FMA, recupera a tradição de plantar e reconecta as mulheres com suas origens e a história e as práticas agrícolas dos seus pais e avós. 

“Fizemos canteiros com alface e chicória. Deu muito certo, relata Fátima Maria, que não esconde como surgiu o amor pela terra e pela produção agroecológica. “Estamos mais orgulhosas porque podemos fazer delivery. Isso ocorreu por causa da pandemia. Para mim, o maior benefício foi a saúde, porque a gente comia, mas era a comida de mercado, né. E, através dessa mudança, minha saúde melhorou muito. Tenho ervas medicinais que não tinha, coisas que eu não conhecia e hoje faço uso”.

Já Sandra dos Santos, que vem de uma família de agricultores, revela que no seu quintal não tem quantidade, mas há uma variedade de plantas medicinais, chás e hortaliças. O que a ajuda a não ter que comprar vários produtos do mercado com agrotóxicos. Ela acrescenta que a pandemia afetou seu trabalho porque passou a ter dificuldade para vender sua produção. Por outro lado, teve mais tempo para tratar da horta, plantar e colher mais. 

Enquanto Sumaya Bezerra, especializada na produção de bolos e pães com ingredientes orgânicos, narra que com os quintais produtivos sabe que está consumindo alimento de verdade e que conheceu a agroecologia em um curso na FMA. Ela também teve dificuldades similares as de Sandra dos Santos. Antes da pandemia participava de cinco feiras, depois ficou apenas em uma feira, na Freguesia. 

Vídeo aborda as relações entre saúde e agroecologia, e coletividade, autonomia feminina e conservação ambiental, com base num trabalho promovido pela Fiocruz Mata Atlântica desde 2011 (foto: Divulgação)

 

As realizadoras do vídeo ressaltam que o objetivo é demonstrar que, com pequenas ações em pequenos espaços, é possível contribuir para uma mudança social, espacial, financeira, ambiental, na saúde e na descoberta de direitos. O trabalho em coletivos pode tornar a caminhada para os objetivos mais leve. Além disso, é possível trazer alimentação da plantação para o prato. “Você plantar e comer é soberania alimentar. Soberania é quando você pode escolher aquilo que quer comer. É comer sem veneno, sem agrotóxico. Quando falamos em alimentação saudável também estamos falando de saúde”, reforça Valdirene Militão. 

Os relatos e a memória do trabalho de cada mulher que participa dos Quintais Produtivos demostram que as instituições públicas têm um papel no desenvolvimento de territórios sustentáveis e saudáveis, e nas diversas formas de cuidar da saúde integralmente. “Também evidenciam que a parceira com a comunidade é essencial para trazer o desenvolvimento econômico, social, sustentável e saudável ao território”, conclui Andrea Vanini. 

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