26/04/2016
Segundo a Organização Mundial da Saúde, 70% das doenças que infectam os humanos são transmitidas por animais, as chamadas zoonoses. A gripe provocada pelo vírus influenza A, que atualmente tem feito milhares de vítimas no Brasil – inclusive algumas fatais – é uma delas. Só este ano já foram registrados 1.012 casos no país, dos quais 153 foram a óbito. São Paulo lidera as mortes por influenza com 91 mortes.
Diante desse quadro, a Fiocruz Pernambuco deu início, em fevereiro de 2016, a um estudo denominado Vigilância molecular do vírus da influenza suína e desenvolvimento de vacinas recombinantes. Liderada pelo pesquisador do departamento de Virologia e Terapia Experimental, Lindomar Pena – especialista no estudo do vírus influenza, tendo inclusive o investigado, nos Estados Unidos, durante a pandemia ocorrida em 2009/2010 – a pesquisa terá duração de 36 meses e recolherá material em porcos encontrados em abatedouros e criadouros em todo o estado de Pernambuco.
Diversas espécies de animais incluindo aves, mamíferos aquáticos, terrestres e voadores são capazes de se infectar pelo vírus influenza. No entanto, os porcos ocupam um lugar de destaque nesse processo de transmissão uma vez que eles constituem um importante reservatório animal de novos vírus dessa doença, com uma grande capacidade de provocar adoecimento e transmissão entre humanos. A já citada pandemia ocorrida em 2009/2010 foi causada pelo vírus influenza de origem suína (pH1N1). “Desde então, cientistas e autoridades de saúde pública de todo mundo vêm alertando sobre a possibilidade da geração, em suínos, de novos vírus com maior agressividade e/ou com maior capacidade de transmissão entre humanos”, explicou Pena.
“Em relação ao Brasil, pouco se sabe sobre os vírus da influenza circulantes em porcos no país, sobretudo na região nordestina, onde a criação de porcos é realizada de maneira precária, a suinocultura é de baixa tecnologia e apresenta falhas severas de biossegurança”, alerta o pesquisador. Daí a necessidade de um estudo como esse dedicado ao diagnóstico das características moleculares e antigênicas (capazes de produzir anticorpos) de várias cepas do vírus da influenza suína circulante em Pernambuco. “Com esse diagnóstico poderemos dizer o potencial dessas cepas causarem doenças e o nível de ameaça que elas representam à saúde pública”, disse Pena.
Outro objetivo da pesquisa da Fiocruz Pernambuco é desenvolver uma plataforma vacinal inovadora para prevenção e controle da doença em todo território nacional. Hoje, no Brasil, não existe nenhuma vacina eficaz contra as diversas cepas circulantes da influenza suína - nem mesmo as vacinas norte-americanas têm se mostrado eficazes, tendo muitas delas inclusive, em alguns casos, agravado a doença invés de preveni-la - o que torna o rebanho nacional susceptível à gênese e disseminação de novos vírus capazes de infectar humanos. “Alcançados os objetivos do estudo iremos contribuir para detecção precoce e prevenção da gripe suína no Brasil”, concluiu o pesquisador.