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06/10/2015

Fiocruz promove Encontro de Inovação na Gestão

Claudia Lima e Danielle Monteiro


Começou na manhã desta segunda-feira (5/10) o Encontro de Inovação na Gestão Fiocruz, que se estende até quinta-feira (8/10) no auditório do Museu da Vida, no campus de Manguinhos. Voltado para profissionais da área de gestão, o evento teve como conferencista o professor da McGill University, no Canadá, Henry Mintzberg. Renomado acadêmico e autor de diversos livros na área de administração, como a obra Reequilibrando a sociedade: renovação radical além da esquerda, direita e centro, Mintzberg falou logo depois da abertura para os trabalhadores da Fundação, que lotaram o auditório.

Mintzberg destacou que é preciso que a sociedade perceba que o mundo está em desequilíbrio, sendo necessário fazer algo contra isso e recomeçar (foto: Peter Ilicciev)

 

O professor deu início à palestra com um panorama sobre o atual contexto político e econômico mundial. Segundo ele, há dez anos, ou seja, não muito tempo atrás, a democracia estava proliferando no mundo e mais e mais países se tornavam democráticos. Porém, atualmente, para Mintzberg, esse contexto se configurou em outro completamente diferente. “Hoje há conflitos no Oriente Médio, bandidos em palácios presidenciais, racismo na Europa e paralisia política nos Estados Unidos, entre outros graves problemas na democracia em todo o mundo”, alertou. Para o professor, o motivo do surgimento desse novo contexto foi a queda do Muro de Berlim, em 1989. A conclusão, na época, foi que o capitalismo havia vencido o socialismo, deixando assim de ser um modelo de mercado para se tornar toda a sociedade. No entanto, para Mintzberg, essa ideia está equivocada. “O que ocorreu não foi o triunfo do capitalismo, mas sim do desequilíbrio. O Leste Europeu, por exemplo, estava completamente em desequilíbrio. Dispunha de um fraco setor privado, praticamente nenhum setor plural e setores públicos muito fortes. Já nos Estados Unidos, antes dos anos 1980, havia um fantástico crescimento econômico e boa distribuição de renda. Hoje, no entanto, naquele país, há uma distribuição desigual de renda, altas taxas de impostos, fraca mobilização social, entre outros graves problemas”, destacou. 

Ao invés de explicar a crise social através do pêndulo político esquerda versus direita, Mintzberg sugere que a sociedade deve ser analisada sob três pilares diferentes: o setor público, o setor privado e o que ele chama de setor plural. Este, segundo ele, é constituído por movimentos e iniciativas sociais, comunidades e instituições geridas ou não por seus membros, o Terceiro Setor, entre diversas outras organizações do tipo. Segundo o professor, para vencer o atual desequilíbrio mundial, são necessários setores privados responsáveis, setores públicos respeitáveis e setores plurais fortes. Mintzberg acredita que é o setor plural que pode devolver ao mundo o seu equilíbrio. “É preciso olharmos para esse setor. Ele está invisível diante da sociedade, pois não há lugar para ele nessa visão dualista esquerda versus direita”, defendeu. Como exemplo do papel importante que o setor plural pode ter no reequilíbrio mundial, Mintzberg citou o Programa Anti-Aids do Brasil, apontado hoje como modelo para outros países. “Esse tipo de ação mostra que não precisamos somente das empresas farmacêuticas para produzir nossos medicamentos e que podemos contar com a ajuda do setor plural na busca por soluções estratégicas”, disse. 

Mintzberg destacou que é preciso que a sociedade perceba que o mundo está em desequilíbrio, sendo necessário fazer algo contra isso e recomeçar. Nesse contexto, segundo o professor, a inovação é muito importante. “Inovar não é pensar primeiro, mas sim enxergar primeiro ou fazer primeiro. Em nosso ‘fazer’ inovador, precisamos enxergar primeiro a fim de entender ou agir”, disse. Diante do desequilíbrio vivenciado hoje em todo o mundo, Mintzberg propõe uma reorganização na gestão das organizações. As instituições, segundo ele, estão embasadas em um modelo heroico de liderança, no qual os dirigentes estão longe daqueles que de fato produzem o produto. Ele sugere, então, que esse tipo de liderança seja substituído por uma gestão engajada. “Nesse modelo de gestão, a organização é uma rede interativa, constituída por pessoas engajadas que resolvem pequenos problemas e encontram soluções que se tornam grandes estratégias de liderança. Nesse tipo de gestão, a liderança passa a ser uma confiança sagrada conquistada por meio do respeito de outras pessoas”, defendeu.  

O professor citou a Fiocruz como exemplo de instituição que valoriza a inovação e o modelo de gerenciamento engajado. E o Brasil, para ele, é um bom exemplo de país que dispõe de um equilíbrio entre os setores privado, público e plural. “O Brasil tem um setor plural muito forte e seria uma pena se isso se perdesse por conta da atual crise pela qual o país está passando”, concluiu. 

Gestores da Fiocruz participam da abertura do evento

A vice-presidente de Ensino, Informação e Comunicação (VPEIC), Nísia Trindade de Lima, saudou os participantes e discursou em nome de todos os vice-presidentes presentes à mesa de abertura – Pedro Barbosa (Gestão e Desenvolvimento Institucional), Valcler Rangel (Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde) e Rodrigo Stabeli (Pesquisa e Laboratórios de Referência). Ela ressaltou a importância do encontro. “Os três eixos que estruturam essa atividade apontam para algo muito importante, que é o trabalho coletivo para pensar o futuro de nossa instituição, e nos permite, a nós que vivemos o dia a dia da gestão, um momento de mergulho de imersão, não só a partir de nossas experiências, que são múltiplas, mas também ouvindo palestrantes que podem contribuir com uma visão enriquecedora desses processos”, afirmou. “Temos um mote importante para refletir: desenvolvimento social com inclusão para a cidadania.”

Coordenador do evento, Pedro Barbosa falou em seguida. “Esse é um espaço de balanço e de identificação e motivação para novos desafios. É muito oportuno que isso seja com a conferência e debate com o professor Henry Mintzberg”, disse. “Seria dispensável sua apresentação, porquanto ele já é nosso professor de tanto tempo. Ainda que não estivesse presente conosco, não há quem, no campo da gestão, não tenha passado pelos livros, pelos debates e pelas contribuições do professor”, afirmou.

Barbosa salientou o papel do conferencista como pensador do campo da estratégia, da gestão empresarial e das instituições. “O professor tem tratado, mais recentemente, do quanto esse campo da gestão, que olha para dentro das organizações, não está imune ao campo mais geral do desenvolvimento da sociedade e do desenvolvimento dos modelos - que submetem muitas sociedades a crises, em particular modelos que não priorizam a produção, o desenvolvimento e, muitas vezes, muito auto referido às lógicas financistas”, detalhou.

“Esse seminário é um momento de reflexão, tanto dos desafios, dos passos que nós já demos nessa instituição, enquanto instituição estratégica do Estado, não apenas na perspectiva da sua eficiência e da sua eficácia, mas de seu posicionamento nessa sociedade e nesse Estado, contribuindo para que esse Estado e essa sociedade sejam mais democráticos, mais inclusivos e que seu modelo de desenvolvimento esteja centrado no desenvolvimento, na perspectiva da justiça, da superação da desigualdade, e no desenvolvimento das nossas forças produtivas, superando aqueles modelos que só tenham o sentido da concentração de renda e do ganho financeiro”, discursou o vice-presidente.

O Encontro de Inovação na Gestão Fiocruz faz parte de um conjunto de estratégias adotadas pela Presidência, como o Programa de Desenvolvimento Gerencial (PDG), que tem como proposta oferecer ações de educação formal e não formal, em um ciclo contínuo e permanente para o desenvolvimento das competências gerenciais requeridas pela Instituição. O curso de Desenvolvimento de Competências Gerenciais (Fundação Dom Cabral), o Mestrado em Política e Gestão de C&T em Saúde (Ensp), a Especialização em Gestão em Organizações de C&T em Saúde (Ensp) e o Mestrado em Administração Pública (FGV) são outras ações em curso.

Informações sobre a programação estão disponíveis no site encontrodeinovacao.fiocruz.br

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