03/06/2022
Cristiane Albuquerque (COC/Fiocruz)
No ano em que chega ao seu centenário, o Pavilhão Figueiredo de Vasconcelos, edifício histórico da Fiocruz no Rio de Janeiro conhecido como Quinino, está prestes a ganhar um presente: o uso de uma metodologia para desenvolvimento de projetos de intervenção que vai modernizar as ações de preservação do patrimônio histórico. O prédio, que abrigava os laboratórios responsáveis pela produção de quinina, substância utilizada no tratamento da malária no início do século 20, será o primeiro do Núcleo Arquitetônico Histórico de Manguinhos (Nahm) a utilizar a metodologia Historic Building Information Modeling (HBIM), capaz de criar modelos em 3D que simulam um edifício já existente, apresentando detalhes e características da forma mais realista possível.
Metodologia para desenvolvimento de projetos de intervenção vai modernizar as ações de preservação do patrimônio histórico (foto: Bruno Sá)A velocidade no processamento de modelos 3D, permitindo maior agilidade nos processos; a precisão nas tomadas de decisões relacionadas às intervenções, contribuindo para a redução de prazos para a realização das ações; a disponibilidade e compartilhamento de dados; o planejamento de intervenções de manutenção; a promoção e utilização do ativo de tecnologias avançadas, como o recurso de realidade virtual; e a compatibilização de projetos, são algumas vantagens atribuídas ao uso do HBIM.
A expectativa é que a técnica comece a ser utilizada no próximo ano. O Quinino foi inserido em área de preservação delimitada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1981. Desde então, vem sendo objeto de ações de conservação. Outro ganho importante para as estratégias de conservação do patrimônio da Fiocruz está no uso do laser scanner: como um aparelho similar a uma câmera capaz de registrar imagens em 360 graus.
No longo prazo, a expectativa é que todas as edificações nas quais o Departamento de Patrimônio Histórico da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) atua sejam contempladas com a metodologia HBIM. A pesquisa foi realizada no âmbito do Programa de Incentivo do desenvolvimento institucional e contou com a participação dos bolsista da Casa, Cristiane Canuto, Thaianni Ribeiro e Maurício Filho.
Tecnologia compatibiliza projetos de intervenção no patrimônio
Entre as diversas definições de uso possíveis para o HBIM, a modelagem das condições existentes, que permite o levantamento da situação atual do edifício, reproduzindo o modelo de como o edifício se configura atualmente, e a documentação patrimonial, que se refere aos desenhos que serão produzidos a partir desse modelo, com todas as informações construtivas importantes para o desenvolvimento de outras ações futuras, foram definidos como prioritários.
Arquiteto do Departamento de Patrimônio Histórico, Bruno Teixeira de Sá explica as vantagens do uso do HBIM, a facilidade de revisão dos projetos de intervenção é uma delas. “Ao mudar um elemento no modelo da arquitetura, como uma janela, por exemplo, todos os desenhos de plantas baixas e fachadas são atualizados automaticamente com a nova localização”, aponta.
Outro benefício do HBIM é a articulação de diferentes projetos: “Ao desenvolver o projeto estrutural de um espaço arquitetônico elaborado, o software identifica possíveis conflitos, como pilares e vigas que passam por janelas, portas ou outros elementos relevantes da arquitetura, permitido a adequação do projeto e diminuindo as chances de se identificar o erro apenas na obra”, salienta Sá.
Tecnologias garantem mais eficiência na gestão do patrimônio, diz Bruno (foto: Jeferson Mendonça, COC/Fiocruz)
Diferentemente dos outros prédios que integram o NAHM, o Quinino foi construído com dois pavimentos e apresenta espaços distribuídos ao redor de um pátio central. Na década de 1940, sua arquitetura original sofreu algumas alterações: no hall de entrada, a escada monumental foi substituída por um elevador e pela escada atual, e dois andares foram acrescentados.
“A escolha do Quinino está relacionada à necessidade de integrar vários projetos que têm sido elaborados para o edifício, como a modernização do sistema de ar-condicionado, a proposta de intervenção no telhado e diversas outras demandas identificadas para sua preservação”, explica Bruno Teixeira de Sá.
O HBIM também oferece a possibilidade de formar categorias de materiais e componentes arquitetônicos, definindo, por exemplo, que determinada parede é feita de tijolos, com revestimento de uma parte em argamassa e pintura e outra em azulejo. A partir disso, facilita extrair dados quantitativos que ajudam na elaboração de orçamentos.
“Todos esses atributos relacionado às informações construtivas têm grande utilidade no registro documental dos dados da edificação, que, para o patrimônio cultural, é fundamental”, afirma Sá.
Processos mais eficientes na gestão do patrimônio cultural
Outro ganho importante para as estratégias de conservação do patrimônio da Fiocruz está no uso do laser scanner (LS): com um aparelho similar a uma câmera capaz de registrar imagens em 360 graus, o equipamento – que permite realizar levantamentos geométricos com o registro das medidas das edificações – mapeia qualquer área do prédio, por meio da emissão de milhares de pulsos de laser por segundo.
A captura de imagens é realizada a partir de diferentes locais, todos definidos com base na sobreposição: cada captura deve registrar trechos que tenham sido gravados em, pelo menos, outra captura. No caso do Quinino, os registros por LS foram realizados a partir de diversos pontos no exterior do edifício: ao redor dele; na Praça Pasteur, para a captura das fachadas; e a partir do terraço do Castelo da Fiocruz (Pavilhão Mourisco), para a captura dos telhados. Já internamente, todos os ambientes tiveram, pelo menos, três cenas capturadas. O levantamento em laser scanner foi realizado gratuitamente por Ricardo Cardial, arquiteto da empresa Faro.
Obtendo o maior número possível de informações do espaço representado, as imagens geradas são transportadas a um software que une as capturas, formando uma nuvem de pontos a partir de todas as capturas feitas. Os dados resultantes do escaneamento 3D são utilizados para a construção de modelos tridimensionais digitais precisos.
Sá ressalta que, em função de suas características, as duas ferramentas têm grande potencial para serem utilizadas conjuntamente, de forma complementar. “Com o uso dessas tecnologias, é possível estabelecer processos mais eficientes e baseados em informações confiáveis, que contribuem para a realização de ações de maneira rápida, ampliando, assim, as estratégias de conservação do patrimônio da Fiocruz, explica Bruno Teixeira de Sá, arquiteto do Departamento de Patrimônio Histórico da COC/Fiocruz.