Fiocruz vai produzir IFA para fabricação nacional da insulina glargina

Publicado em
Lidiane Nobrega (Agência Fiocruz de Notícias)
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O Ministério da Saúde anunciou, nesta terça-feira (25/2), que a Fiocruz e a empresa Biomm vão realizar uma parceria de desenvolvimento produtivo para a fabricação totalmente nacional da insulina glargina. Com distribuição prevista ao Sistema Único de Saúde (SUS) no  segundo semestre de 2025, a medida faz parte do Programa de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDP) e envolve a produção do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) pelo Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) no Complexo Tecnológico em Insumos Estratégicos (CTIE), planta produtiva que será construída no município do Eusébio, no Ceará.

Governo assina parcerias para produção nacional.

Evento realizado no Palácio do Planalto também divulgou acordos para a produção de vacinas e outros insumos que buscam fortalecer a produção nacional para o SUS (foto: Divulgação)

 

Com registro do medicamento na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), atualmente a Biomm realiza as etapas de formulação, envase, rotulagem e embalagem do medicamento com o IFA da empresa chinesa Gan & Lee. Esse arranjo produtivo de importação e distribuição continua até que a produção do insumo na biofábrica do Ceará passe a ser realizada conforme as etapas da transferência de tecnologia forem avançando.

“O IFA será produzido na nossa regional que fica no município do Eusébio, a Fiocruz Ceará, o que irá fortalecer o Complexo Econômico-Industrial da Saúde e incentivar o desenvolvimento regional. Estamos trabalhando em várias frentes pelo fortalecimento do SUS e em prol da população brasileira, que vai se beneficiar diretamente com esta PDP que irá permitir a produção 100% nacional da insulina”, comemora o presidente da Fiocruz, Mario Moreira.

Mario Moreira.

Presidente da Fiocruz, Mario Moreira esteve no evento no Palácio do Planalto (foto: Divulgação)

 

A farmacêutica Gan & Lee produz a insulina glargina desde 2005 e é detentora e responsável pela transferência da tecnologia para produção em escala industrial do IFA e do medicamento formulado. As documentações, os treinamentos e o suporte para a implementação de todos os processos serão feitos pela entidade chinesa. A PDP inicia com redução de 5% no preço praticado na última compra pelo Ministério da Saúde e terá uma redução de 1% ao ano.

A parceria público-privada, que pode atingir 70 milhões de unidades anuais ao final do projeto, garante que essa seja a primeira planta produtiva de IFA de insulina da América Latina e terá papel estratégico para reduzir a dependência de importação. A implementação assegura ao Brasil, portanto, uma cadeia produtiva completa para o abastecimento do SUS e maior segurança no abastecimento do produto.

Diretor de Bio-Manguinhos/Fiocruz, Mauricio Zuma explica que o Brasil possui a quinta maior população diabética do mundo (faixa de 20 a 70 anos) e as projeções indicam que tal posição se manterá nos próximos 20 anos. “A PDP da insulina glargina é um importante marco para a saúde pública brasileira, pois Bio-Manguinhos e Biomm serão os únicos produtores nacionais desse medicamento. A parceria visa ampliar o acesso de pacientes hoje não são tratados pelo SUS, oferecendo um produto que traz a vantagem de ter uma liberação estável e sustentada da insulina, durante um período prolongado, o que ajuda a controlar a glicemia e reduzir a frequência das injeções em comparação com as insulinas de ação curta”, reforça.

“Diabetes é um dos principais problemas de saúde pública quando pensamos em doenças crônicas e esse anúncio é um benefício para a população brasileira […] A parceria une uma empresa privada inovadora e de expressão à Fiocruz, ao Ministério da Saúde e ao laboratório da China que tem essa tecnologia, o Gan & Lee”, comentou a ministra da Saúde, Nísia Trindade Lima, durante a cerimônia. “O arranjo é muito importante porque ele nos dá o caminho do futuro: a insulina hoje é um grande desafio no mundo, com riscos frequentes de desabastecimento”, completou.

O evento realizado no Palácio do Planalto também divulgou acordos para a produção de vacinas e outros insumos que buscam fortalecer a produção nacional para o SUS por meio do Complexo Econômico-Industrial da Saúde brasileiro. Além de Moreira, a cerimônia aconteceu com a presença de autoridades como o presidente Lula e o diretor presidente da Biomm, Heraldo Carvalho Marchezini.

 

Complexo Tecnológico em Insumos Estratégicos

Parceria entre a Fiocruz e o estado do Ceará, o Complexo Tecnológico em Insumos Estratégicos está inserido na estratégia do Ministério da Saúde de fortalecimento do Complexo Econômico-Industrial da Saúde e receberá cerca de RS 1 bilhão de investimento do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do Governo Federal. A biofábrica irá atuar na produção de ingredientes farmacêuticos ativos (IFAs) de diversos biofármacos, incluindo medicações para tratamento de alguns tipos de câncer, doenças crônicas, doenças inflamatórias (como artrite reumatóide e doença de Chron) e hormônio do crescimento.

Insulina glargina

Alcançar e manter o controle glicêmico ideal é crucial no controle do diabetes para prevenir complicações. Com a crescente prevalência global da doença, o uso da insulina glargina é um fator significativo e os avanços contínuos no tratamento contribuem para a popularidade e facilidade na administração da insulina.

Atualmente, o SUS possui estabelecido e incorporado o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Diabetes Mellitus tipo 1 e tipo 2, que traz as recomendações para o uso das insulinas análogas de ação prolongada. A insulina glargina, assim como a insulina basal, desempenha um papel fundamental no controle dos níveis de glicemia em jejum, contribuindo para o controle glicêmico geral. Ela traz a vantagem de proporcionar uma liberação estável e sustentada da insulina durante um período prolongado. Isso ajuda a controlar a glicemia e reduzir a frequência das injeções em comparação com as insulinas de ação curta.