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23/12/2020

InfoGripe: 9 capitais têm sinal de crescimento de casos de SRAG

Regina Castro (CCS/Fiocruz)


Referente à semana epidemiológica 51, de 13 a 19 de dezembro, o novo Boletim InfoGripe, publicado pela Fiocruz, aponta que 9 capitais brasileiras apresentam sinal moderado (probabilidade > 75%) ou forte (probabilidade > 95%) de crescimento de casos de SRAG na tendência de longo prazo até a semana 51. A análise tem como base os dados inseridos no Sivep-gripe até 20 de dezembro. O Boletim pode ser acessado aqui.

 

Todas as regiões do país encontram-se na zona de risco e com ocorrência de caos muito alta. Em nível nacional, o cenário atual sugere que os casos de SRAG, independentemente de presença de febre, apresentam tendência de queda. Porém, o dado semanal se mantém na zona de risco, com ocorrência muito alta de casos semanais.  

Foram reportados este ano 629.386 casos, sendo 347.007 (55,1%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 192.895 (30,6%) negativos, e ao menos 51.959 (8,3%) aguardando resultado laboratorial. Dentre os positivos, 0,4% influenza A, 0,2% Influenza B, 0,3% vírus sincicial respiratório (VSR), e 97,8% Sars-CoV-2 (Covid-19). Em 2009, durante a pandemia de H1N1, foram 90.465 casos notificados com o mesmo critério em todo o ano. 

O total de registros de hospitalizações ou óbitos no Sivep-gripe, independentemente de sintomas, é de 1.031.739 casos, com estimativa atual de 1.084.761 [1.066.161 – 1.108.661], de acordo com os mesmos critérios. “A presente atualização dos dados indica queda, porém mantendo valores acima do mínimo observado ao final de outubro (cerca de 15 mil novos casos semanais atualmente, contra cerca de 10mil nas últimas semanas de outubro). Como sinalizado nos boletins anteriores, a situação nas regiões e estados do país é bastante heterogênea. Portanto, o dado nacional não é um bom indicador para definição de ações locas”, afirmou o pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.

Capitais

Maceió e Salvador apresentaram sinal forte (prob. > 95%) de crescimento na tendência de longo prazo. Aracaju, Cuiabá, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Região de Saúde Central do DF (Plano Piloto de Brasília e arredores) e Teresina apresentaram sinal moderado (prob. > 75%) de crescimento na tendência de longo prazo. Campo Grande tem sinal de estabilização na tendência de longo prazo e queda no curto prazo. Como a capital sul-mato-grossense encontra-se em situação de superlotação da rede hospitalar, tal reversão de tendência pode ser reflexo da incapacidade de notificação de novos casos de SRAG por falta de leitos disponíveis para Covid-19. 

Marcelo Gomes alertou que essa situação pode afetar todas as capitais que estejam enfrentando a necessidade de lista de espera para internação. Portanto, o indicativo de queda nos novos casos de SRAG não deve ser utilizado para reavaliação dos protocolos de resposta à epidemia até que a capacidade de atendimento seja reestabelecida.

“A alta taxa de ocupação hospitalar, com unidades reportando leitos de Covid lotados, pode fazer com que o número de casos de SRAG fique subnotificado. Assim, o mesmo quadro na capital de Mato Grosso do Sul aplica-se também ao Rio de Janeiro”, observou o pesquisador.

Boa Vista, que havia apresentado sinal de crescimento no último Boletim, retorna a situação de estabilidade e a análise da evolução da curva de novos casos sugere um cenário de oscilação com amplitude relativamente alta, oscilando entre cerca de 1,5 a 4,5 casos semanais por 100 mil habitantes.

Belo Horizonte e São Luís mantiveram o sinal de interrupção do crescimento, porém ainda sem reverter para novo período de queda. Já São Paulo e Palmas dão indícios de possível início de queda após a retomada de crescimento observada durante o mês de novembro, sinal já apresentado nas capitais Rio de Janeiro e Curitiba no último boletim e mantidas nesta atualização.

Porto Alegre e Recife seguem apresentando sinais de subnotificação ou aumento significativo no atraso de digitação de casos no Sivep-Gripe há algumas semanas, de forma que os indicadores associados a essas capitais não se encontram confiáveis para tomada de decisão.

Diante desse cenário. Marcelo Gomes ressaltou a importância da realização de um esforço para identificação de e sensibilização em relação a esses eventos para retorno à normalidade, tendo em vista que os dados da vigilância de SRAG são reconhecidos como uma das fontes mais importantes para análise de situação e embasamento de ações no país. “Além disso, por representarem parcela importante da população dos respectivos estados, esses eventos impactam também a capacidade de avaliação da situação das macrorregiões que incluem essas capitais, bem como o dado agregado para todo o estado”, explicou o coordenador do InfoGripe.

Alerta para dados de Pernambuco e Rio Grande do Sul:

Registros de SRAG no Sivep-Gripe a partir das capitais Recife e Porto Alegre ainda encontram-se subnotificados ou com aumento significativo no atraso de digitação (inserção no sistema), impactando significativamente as análises da capital, da macrorregião de saúde correspondente, e o agregado estadual. Como já relatado em boletins anteriores, foi identificada diferença significativa entre as notificações de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) no Mato Grosso registradas no sistema nacional Sivep-gripe e os registros apresentados no sistema próprio do estado (disponível aqui). Tal diferença se manteve até a presente atualização.

“Como os dados aqui analisados se referem a notificações de hospitalizações ou óbitos, a superlotação da rede hospitalar, com formação de lista de espera para disponibilização de leitos, pode gerar subnotificação. Isso ocorre toda vez que pacientes que atendem a definição de SRAG deixam de ser notificados por não ser possível realizar a internação do paciente”, observou o pesquisador.

Marcelo Gomes destacou que, diante desse risco de subnotificação, é possível que os casos de SRAG notificados na base Sivep subestimem o total de casos em locais com índice de ocupação de leitos elevado. Portanto, segundo o pesquisador, locais com índice de ocupação de leitos elevado devem deixar os indicadores de SRAG em segundo plano em relação à tomada de decisão até que a ocupação volte a diminuir.

“A presente atualização dos dados indica queda, porém mantendo valores acima do mínimo observado ao final de outubro (cerca de 15 mil novos casos semanais atualmente, contra cerca de 10mil nas últimas semanas de outubro). Como sinalizado nos boletins anteriores, a situação nas regiões e estados do país é bastante heterogênea. Portanto, o dado nacional não é um bom indicador para definição de ações locais”, afirmou o pesquisador.

Estados

Em apenas 9 das 27 unidades federativas observa-se tendência de longo e curto prazo com sinal de queda ou estabilização em todas as respectivas macrorregiões de saúde. Nos demais 18 estados, ao menos uma macrorregião de saúde apresenta sinal de crescimento na tendência de curto ou longo prazo.

Lista de estados nessa situação, com o número de macrorregiões com sinal de crescimento em relação ao total de cada estado: Alagoas (1/2), Amazonas (1/3), Bahia (2/9), Ceará (1/5), Distrito Federal (1/1), Espírito Santo (2/4), Goiás (3/5), Minas Gerais (1/14), Mato Grosso (4/5), Mato Groso do Sul (3/4), Pará (1/4), Paraíba (2/3), Pernambuco (1/4), Rio Grande do Norte (1/2), Rio Grande do Sul (1/7), Sergipe (1/1), São Paulo (6/17) e Tocantins (1/2).

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