22/04/2020
Julia Dias (Agência Fiocruz de Notícias)
O novo relatório semanal do sistema InfoGripe, relativo à semana epidemiológica 16, destaca a manutenção da tendência de crescimento das internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Todas as regiões do país seguem na zona de risco e com atividade semanal muito alta para SRAG, com predominância de 73% do novo coronavírus entre os casos que já tiveram um resultado laboratorial positivo. Acesse o relatório aqui.
Imagem: Relatório Infogripe
Para os pesquisadores, as análises, feitas com base nos dados inseridos no Sistema Informatizado de Vigilância Epidemiológica para Gripe (Sivep-gripe) até o dia 21 de abril, indicam a necessidade de manutenção das recomendações de isolamento social para evitar demanda hospitalar acima da capacidade de atendimento. Os dados sugerem a confirmação da desaceleração nas semanas 13 e 14 (22 de março a 4 de abril). Isto é, uma taxa de crescimento menor do que aquelas observadas nas semanas 11 e 12 (de 8 a 21 de março). A taxa de crescimento da semana 10 para 11 e desta para a seguinte foram estimada em 172% e 160%, respectivamente. Entre as semanas 12 e 13, o crescimento estimado foi de 16% e entre a 13 e a 14 de -1% (com intervalo de confiança de -5% a 8%). Entre as últimas semanas (semanas 15 e 16 – de 5 a 18 de abril), os dados parecem indicar o retorno a um crescimento mais forte, mas os pesquisadores indicam cautela nas análises mais recentes.
“Essa redução na velocidade com que os casos crescem entre uma semana e outra deve ser visto como um motivo de alegria. Isto é sinal de que o sacrifício que nós fizemos em termos de isolamento social neste momento está surtindo efeito. Por outro lado, é importante lembrar que esta redução na velocidade de crescimento não significa que parou de crescer. O número de novos casos continuam aumentando de uma semana para outra, mas em ritmo mais lento”, explica o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes.
Imagem: Relatório InfogripeA sobrecarga da rede hospitalar, com algumas unidades e estados já relatando capacidade máxima ou próximo da máxima, é um fator de preocupação. Como a notificação de casos de SRAG é feita a partir da hospitalização, quando os hospitais deixam internar todos os casos, os dados também e, consequentemente, a taxa de crescimento são afetados.
“Já observamos também estados reportando uma taxa preocupante em relação a números de leitos ocupados, acima de 80 ou 90% em alguns casos. Com a taxa de ocupação relatada neste momento, se voltarmos a ter um crescimento acelerado, fatalmente vai acabar faltando leito”, afirma Gomes, que também é pesquisador do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Procc/Fiocruz).
Além disso, o boletim destaca outro fator de cautela em relação à interpretação de dados muito recentes, o atraso entre o tempo dos primeiros sintomas e posterior registro do caso no banco de dados. A síndrome respiratória aguda grave é caracterizada por um conjunto de sintomas como febre, tosse e falta de ar, e é de notificação obrigatória quando leva à internação. A inserção destes dados no sistema, no entanto, depende da infraestrutura de equipes das unidades de saúde.
“Esses fatores nos fazem crer que ainda não é o momento de relaxar o isolamento social, pois corremos o risco de jogar fora o ganho que tivemos na redução da taxa de crescimento e o sacrifício que fizemos até aqui”, resume o pesquisador. Gomes também ressalta a diferença entre o tempo de contágio e agravamento da doença até a internação. “Temos que lembrar que nossas atitudes hoje vão afetar, em termos de novas hospitalizações, daqui a duas ou três semanas. Não é algo que aparece no dia seguinte ou na mesma semana. Se relaxarmos agora, possivelmente iremos retornar ao estágio do final de março em que tínhamos um crescimento semanal com um ritmo extremamente elevado. É isto que precisamos evitar ao máximo”.
Até o dia 21 de abril, já foram reportados 37.294 casos de SRAG no ano, sendo 8.532 com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 11.444 negativos, e ao menos 14.304 aguardando resultado. Dentre os positivos, 9% foram confirmados como Influenza A, 4% Influenza B, 5% vírus sincicial respiratório, e 73% como Sars-CoV-2 (Covid-19).
Os óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que são notificados mesmo quando não há internação, também seguem em patamar extremamente elevado, embora o atraso de notificação esteja dificultando análises nas semanas recentes. Todas as regiões do país encontram-se na zona de risco, além disto, Norte, Nordeste e Sudeste encontram se em atividade semanal muito alta para óbitos por SRAG. O novo coronavírus também apresenta predomínio nos exames positivos entre os óbitos.
Dados abertos
Desde a última semana, o InfoGripe disponibiliza sua base de dados em formato aberto para que gestores públicos e outros grupos de pesquisa possam fazer análises. O conjunto de dados semanais estratificados por faixa etária, sexo, vírus, localidade e região está disponível em formato de tabelas (csv), assim como a série temporal com as estimativas recentes de casos. Também é possível ter acesso a dados por resultados de teste (positivo, negativo ou em análise) e por principais vírus causadores.
InfoGripe
O InfoGripe é uma iniciativa para monitorar e apresentar níveis de alerta para os casos reportados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Os dados são apresentados por estado e por regiões de vigilância para síndromes gripais.
O produto é fruto de uma parceria entre pesquisadores do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Procc/Fiocruz), da Escola de Matemática Aplicada (EMAp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do GT-Influenza da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (GT-Influenza/SVS/MS).