O novo relatório semanal do sistema InfoGripe, relativo à semana epidemiológica 17 (19 a 25 de abril), destaca uma tendência de aceleração no crescimento das internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Todas as regiões do país seguem na zona de risco e com atividade semanal muito alta para SRAG, com predominância de 77,5% do novo coronavírus entre os casos que já tiveram um resultado laboratorial positivo.
Segundo o boletim, até o dia 26 de abril, o Brasil teve um total de 44,7 mil notificados. Mas com a previsão de atraso, de acordo com a metodologia desenvolvida pela plataforma, a estimativa é que este total atualizado seja de 62,6 mil, com um intervalo de confiança de 55 mil a 75,4 mil. No caso de óbitos, já foram inseridos no sistema um total de 5,5 mil notificações, o que leva uma estimativa de que o total até a semana 17 seja de 7 mil, com intervalo de confiança de 6,3 mil a 8,4 mil.
Os números oficiais superam os totais de notificações de anos anteriores, como 2019 e 2016. Em 2019, o total de casos foi 39,4 mil, com 3,8 mil óbitos. O ano de 2016 teve 39,8 mil notificações por SRAG, que é caracterizada por internações por sintomas como tosse, febre e dificuldade respiratória, e 4,7 mil óbitos pelos mesmos sintomas. Estes dados são de notificação obrigatória para unidades de saúde, mas historicamente existe uma atraso na inserção de dados, especialmente em momentos de surtos. Para tentar prever este atraso, o InfoGripe desenvolveu um modelo matemático de estimativas.
“Tanto em número de casos, quanto em óbitos por SRAG, mesmo sem levar em conta o atraso de notificação, nós já estamos, em 2020, oficialmente acima dos totais de 2019 e 2016. Isto é particularmente preocupante pois 2016 foi o pior ano desde 2009, quando houve a pandemia de H1N1. Se levarmos em conta as estimativas de atraso, o total de casos até a semana 17 corresponderia a 38% ou 89% a mais do que em todo 2016.”, afirma o coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes.
Outro dado que chama a atenção no novo boletim é a retomada da aceleração dos casos. Após uma explosão de casos muito acima do padrão, observada entre as semanas 11 e 12 (de 8 a 21 de março), o que vinha sendo observado nas últimas semanas era um crescimento em ritmo menor dos casos nas semanas 13 e 14 (22 de março a 4 de abril). Os pesquisadores, no entanto, recomendam cautela na interpretação de dados de semanas recentes em função do atraso de digitação observado.
“O panorama sugere que a desaceleração que foi observada nas semanas 13 e 14, em consequência das medidas de isolamento social, pode ter tido seu efeito diminuído. Os dados mais recentes sugerem uma retomada na aceleração, mas é importante aguardarmos a próxima semana para verificarmos com mais segurança se de fato houve uma retomada da aceleração e realizar análises mais concretas. Esta cautela é importante pelo impacto que o atraso tem nas estimativas de notificação mais recentes”, explica Gomes, ele ressalta ainda que o impacto é maior entre os dados de óbitos e recomenda a utilização das curvas de casos de SRAG para análises de tendência.
O predomínio cada vez maior do novo coronavírus entre os casos e óbitos que tiveram resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório é outro fator de destaque. Do total de 44.780 casos já reportados no ano, 11.315 tiveram resultado laboratorial positivo, destes 6.9% apontaram Influenza A, 3.6% Influenza B, 3.9% vírus sincicial respiratório, e 77.5% Sars-CoV-2 (Covid-19). Outros 15.100 exames tiveram resultados negativos, e ao menos 14802 ainda aguardam resultado. Entre os óbitos, 2452 já tiveram resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 2059 foram negativos, e ao menos 719 aguardam resultado. Dentre os positivos, 92,7% correspondem ao novo coronavírus.
O boletim recomenda, de acordo com o panorama apresentado pelo sistema, “a necessidade de manutenção das recomendações de isolamento social para evitar demanda hospitalar acima da capacidade de atendimento”. A saturação da rede hospitalar, já relatada por alguns estados, também pode afetar os dados e a taxa de crescimento dos casos notificados nas próximas semanas, uma vez que as notificações dependem de hospitalização.
Dados abertos
O InfoGripe também disponibiliza sua base de dados em formato aberto para que gestores públicos e outros grupos de pesquisa possam fazer análises. O conjunto de dados semanais estratificados por faixa etária, sexo, vírus, localidade e região está disponível em formato de tabelas (csv), assim como a série temporal com as estimativas recentes de casos. Também é possível ter acesso a dados por resultados de teste (positivo, negativo ou em análise) e por principais vírus causadores.
InfoGripe
O InfoGripe é uma iniciativa para monitorar e apresentar níveis de alerta para os casos reportados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). Os dados são apresentados por estado e por regiões de vigilância para síndromes gripais.
O produto é fruto de uma parceria entre pesquisadores do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Procc/Fiocruz), da Escola de Matemática Aplicada (EMAp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do GT-Influenza da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (GT-Influenza/SVS/MS).