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23/02/2015

Leptospirose


O que é a doença?

A leptospirose é uma doença bacteriana causada por bactérias do gênero Leptospira spp. que afeta seres humanos e animais, frequentemente transmitida pelo contato com água infectada pela urina de ratos e outros animais (bois, porcos, cavalos, cabras, ovelhas e cães também podem adoecer e, eventualmente, transmitir a leptospirose ao homem).

Trata-se de uma zoonose de grande importância social e econômica, por apresentar elevada incidência em determinadas áreas, alto custo hospitalar e perdas de dias de trabalho, como também por sua letalidade, que pode chegar a 40%, nos casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados. As inundações propiciam a disseminação e a persistência do agente causal no ambiente, facilitando a ocorrência de surtos.

Agentes causadores

Durante as enchentes, a urina dos ratos, presente nos esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama. Qualquer pessoa que tiver contato prolongado com a água ou a lama pode infectar-se. As leptospiras penetram no corpo pela pele, principalmente por arranhões ou ferimentos, e também com a pele íntegra, imersa por longos períodos na água ou lama contaminada. O contato com esgotos, lagoas, rios e terrenos baldios também podem propiciar a infecção.

Outras modalidades de transmissão possíveis, porém com menor frequência, são contato com sangue, tecidos e órgãos de animais infectados, transmissão acidental em laboratórios e ingestão de água ou alimentos contaminados.

Sintomas

A leptospirose humana apresenta manifestações clínicas muito variáveis, com diferentes graus de severidade. As manifestações clínicas variam desde formas assintomáticas e subclínicas até quadros clínicos graves associados a manifestações fulminantes. A fase precoce da doença é caracterizada pela instalação abrupta de febre, comumente acompanhada de dor de cabeça e dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas. Podem também ocorrer vômitos, diarréia e tosse. Em aproximadamente 15% dos pacientes, a leptospirose progride para a fase tardia da doença, que é associada a manifestações mais graves como pele e olhos amarelados, sangramento e alterações urinárias, podendo haver necessidade de internação hospitalar. O período de incubação da doença pode variar de 1 a 30 dias, normalmente ocorrendo entre 7 a 14 dias após à exposição a situações de risco.

Diagnóstico e Tratamento

Os casos leves da doença são tratados em ambulatório, já os casos mais graves podem levar à internação. A antibioticoterapia está indicada em qualquer período da doença, mas sua eficácia parece ser maior na 1ª semana do início dos sintomas. A reação de Jarisch-Herxheimer, caracterizada pelo início súbito de febre, calafrios, dores de cabeça e no corpo e erupção cutânea, embora seja relatada em pacientes com leptospirose, é uma condição rara e que não deve inibir o uso de antibióticos.

De grande relevância no atendimento dos casos moderados e graves, as medidas terapêuticas de suporte devem ser iniciadas precocemente com o objetivo de evitar complicações e óbito, principalmente as complicações renais. O acompanhamento do volume urinário e da função renal são fundamentais para se indicar a instalação de diálise peritoneal precoce, o que reduz o dano aos rins e a letalidade da doença.

Prevenção

Não existe uma vacina para uso humano contra a leptospirose no Brasil. A vacinação de animais domésticos e de produção (cães, bovinos e suínos), disponível em serviços particulares, evita que estes adoeçam e transmitam a doença por aqueles sorovares que a vacina protege, ficando a critério do proprietário, vacinar ou não o animal, sendo válida como estratégia de proteção individual.

Deve-se evitar ambientes que possam estar contaminados por urina de ratos e outros animais, bem como entrar em contato com água, lama de enchentes ou rios e lagos suspeitos. Pessoas que trabalham na limpeza de lama, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha (ou sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés). Ao viajar, sugere-se procurar informações sobre a ocorrência de leptospirose na região que vai visitar.

Medidas ligadas ao meio ambiente como obras de saneamento básico (drenagem de águas paradas suspeitas de contaminação, rede de coleta e abastecimento de água, construção e manutenção de galerias de esgoto e águas pluviais, coleta e tratamento de lixo e esgotos, desassoreamento, limpeza e canalização de córregos), melhorias nas habitações humanas e o controle de roedores reduzem também o risco à doença.

Panorama geral da doença no Brasil

No Brasil, a leptospirose é uma doença endêmica, tornando-se epidêmica em períodos chuvosos, principalmente nas capitais e áreas metropolitanas, devido às enchentes associadas à aglomeração populacional de baixa renda, às condições inadequadas de saneamento e à alta infestação de roedores infectados. Algumas profissões facilitam o contato com as leptospiras, como trabalhadores em limpeza e desentupimento de esgotos, garis, catadores de lixo, agricultores, veterinários, tratadores de animais, pescadores, militares e bombeiros, dentre outros. Contudo, a maior parte dos casos ainda ocorre entre pessoas que habitam ou trabalham em locais com infraestrutura sanitária inadequada e expostos à urina de roedores.

Existem registros de leptospirose em todas as unidades da federação, com um maior número de casos nas regiões sul e sudeste. A doença apresenta uma letalidade média de 9%. Entre os casos confirmados, o sexo masculino com faixa etária entre 20 e 49 anos estão entre os mais atingidos, embora não exista uma predisposição de gênero ou de idade para contrair a infecção. Quanto às características do local provável de infecção (LPI), a maioria ocorre em área urbana, e em ambientes domiciliares.

O papel da Fiocruz

O Laboratório de Zoonoses Bacterianas do Instituto Oswaldo Cruz (Labzoo/IOC/Fiocruz) abriga o Serviço de Referência Nacional para Leptospirose em parceria com diversas instituições no Brasil e no exterior e, desde 2008, tornou-se o quarto Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde em Leptospirose no mundo, atuando especialmente na América Latina e Caribe.

O laboratório dedica-se ao estudo da biologia, patologia, patogênese, epidemiologia, ecologia e diversos outros aspectos da leptospirose e de outras zoonoses relacionadas a bactérias dos gêneros Campylobacter, Yersinia e Listeria. Realiza, entre suas atividades, a caracterização fenotípica e genotípica de cepas clínicas (humanas e animais), alimentares e ambientais, avaliando a incidência desses grupos de bactérias na população, a presença e expressão de genes de virulência e de resistência a antimicrobianos, além de realizar análise filogenética das cepas.

Texto revisado pelo pesquisadora:
Ilana Teruszkin Balassiano, do Laboratório de Zoonoses Bacterianas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)

Outras fontes:

Ministério da Saúde

Organização Mundial da Saúde (OMS)

Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz)

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