O crack é uma droga de rápida absorção que causa impacto instantâneo na saúde global dos usuários e provoca comprometimento clínico e psiquiátrico. Publicado pela Editora Fiocruz, o livro Crianças, Adolescentes e Crack: desafios para o cuidado aborda o consumo da droga por crianças e adolescentes e as consequências que sofrem com o uso da substância por pais ou responsáveis.
Doutor em psiquiatria e coordenador do Programa de Estudos e Assistência ao Uso Indevido de Drogas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Marcelo Santos Cruz destaca, no texto da quarta capa do livro, que “cerca de 50 mil crianças e adolescentes brasileiros têm suas precárias condições de vida agravadas pelo uso regular do crack. Para esses usuários, infância e adolescência, em vez de se caracterizarem por descobertas, aprendizado e preparação para a idade adulta, acabam se transformando em um período de exposição a uma dura realidade que inclui violência, riscos e prejuízos à saúde mental”. E ele acrescenta: “O envolvimento com o tráfico e a repressão policial tornam essas fases ainda mais difíceis”.
O livro reúne dez capítulos e tem por base os resultados de duas pesquisas realizadas em 2011 e 2012 pela Fiocruz: O Desafio da Rede no Atendimento de Crianças e Adolescentes Usuários de Crack e/ou Acolhidas Institucionalmente pelo Uso do Crack dos Pais/Responsáveis e Pesquisa Nacional do Crack. A primeira foi desenvolvida a partir de estudos de caso em sete cidades nas cinco regiões brasileiras: Norte, em Manaus; Centro-Oeste, em Ponta Porã; Nordeste, em Salvador; Sudeste, no Rio de Janeiro e em São Paulo; e Sul, em Porto Alegre e Curitiba. Já a segunda pesquisa foi realizada em 27 capitais do país.
Os autores do livro atuam em diferentes campos do conhecimento e oferecem uma visão interdisciplinar sobre o assunto. Eles buscaram identificar quantos e quem são esses jovens indivíduos e traçar um perfil deles, além de refletir sobre as formas de atenção existentes em algumas cidades brasileiras.
Crack
A produção e comercialização da droga estão associadas a fatores como miséria, exclusão social, delinquência e tráfico de drogas. O crack está estreitamente relacionado com o quadro de desigualdades sociais no país e é um facilitador de exclusão social. O conhecimento formal sobre os efeitos diretos do crack e suas consequências no crescimento e no desenvolvimento humano ainda é escasso.
Alguns autores indicam que o consumo da droga teve início nos Estados Unidos na década de 1980, mas os primeiros trabalhos sobre o assunto só surgiram na década seguinte. Apesar da pequena produção acadêmica sobre o assunto, é possível constatar que, na infância, os problemas do uso do crack ocorrem principalmente em consequência do consumo da droga pelos pais ou responsáveis. Na adolescência, o acesso e o uso pessoal tornam-se mais comuns, especialmente para a população de rua.
Cuidado
Os serviços que compõem a Rede de Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente são desenvolvidos por meio do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, que agrega instituições públicas governamentais e da sociedade civil atuantes na promoção, proteção, defesa e controle dos direitos humanos, nos níveis federal, estadual, municipal e distrital. Este sistema contempla as áreas da saúde, educação, assistência social, trabalho, segurança pública, justiça, planejamento, orçamento, relações exteriores, promoção da igualdade e respeito à diversidade. A atuação em rede destas instituições é capaz de fortalecer laços de proteção e responder com mais eficiência às demandas que surgem. Algumas instituições desta rede foram priorizadas nos estudos de caso apresentados no livro.
Para Simone Gonçalves de Assis, organizadora do livro, o crack é um problema de saúde pública que afeta diversas famílias brasileiras, “até mais pelos impactantes efeitos provocados nos indivíduos e na sociedade, do que necessariamente pelos números alcançados. Nos estudos que aferem prevalência existente no país, o uso do crack tende a atingir algo em torno de 1% da população infantojuvenil em geral, enquanto outros problemas como, por exemplo, o uso de álcool, abrangem proporções muito maiores, aspecto assinalado por profissionais entrevistados em todo o país”.
Organizadora
Simone Gonçalves de Assis é doutora em ciências pela Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz), com pós-doutorado na Cornell University (EUA); coordenadora executiva e pesquisadora do Departamento de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli da Ensp/Fiocruz.