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19/01/2010

Mais de 70% dos atendidos por tentativa de suicídio têm transtorno mental

Fernanda Marques


Poucos estudos no Brasil avaliaram a prevalência de transtornos mentais nas tentativas de suicídio, embora estas sejam um sério problema de saúde pública que atinge cada vez mais os jovens. Diante desse quadro, pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) decidiram estimar a prevalência de transtornos mentais nos casos de tentativa de suicídio atendidos em um hospital de emergência público no Rio de Janeiro. No período de um ano, o hospital atendeu 106 desses casos, dos quais 96 foram entrevistados pelos pesquisadores. Os resultados do estudo foram publicados na revista Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.


 Quadro <EM>Homem velho solitário</EM>, de Vincent Van Gogh

Quadro Homem velho solitário, de Vincent Van Gogh


Segundo o artigo, 62,5% dos pacientes eram do sexo feminino, 55,2% tinham entre 25 e 49 anos, 44,8% eram solteiros, 66,7% apresentavam baixo nível educacional e 35,4% tinham emprego formal. Além disso, 51,0% tinham história de tentativas de suicídio anteriores, 44,8% já haviam se submetido a tratamento psiquiátrico ou psicológico, 40,6% utilizavam medicamentos psicoativos regularmente e 35,4% estavam sob o efeito de álcool ou drogas no momento da tentativa. Os pacientes tentaram tirar as próprias vidas, principalmente, por meio da ingestão de medicamentos (39,6%) ou pesticida ‘chumbinho’ (33,3%).


A prevalência de transtornos mentais entre os entrevistados foi de 71,9%. “A taxa total encontrada em nosso estudo é mais próxima da de pesquisas realizadas em países como Israel, Ilhas Fiji e Índia, que apresentaram uma taxa total dos transtornos mentais que variaram de 53% a 64%. Os estudos conduzidos em países europeus e americanos encontraram taxas próximas a 90%”, comparam os autores no artigo. Os transtornos mais prevalentes entre os pacientes do estudo da UFRJ foram: episódio depressivo maior (35,4%), abuso/dependência de substâncias psicoativas (21,9%), transtorno de estresse pós-traumático (20,8%), abuso/dependência de álcool (17,7%) e esquizofrenia (15,6%). Destaca-se, ainda, que 25% dos entrevistados apresentavam dois ou mais transtornos.


Embora os casos de tentativa de suicídio atendidos no hospital do Rio fossem, em sua maioria, mulheres, a prevalência de transtornos mentais foi maior entre os pacientes do sexo masculino. “Uma possível explicação aponta para a hipótese já descrita de que uma síndrome depressiva nos homens seria diferente daquela presente nas mulheres. Essa síndrome se caracterizaria por sintomas psiquiátricos como: baixa tolerância ao estresse, baixo controle do impulso, baixa auto-estima, alcoolismo e suicídios”, dizem os autores no artigo. “Outra possibilidade seria o fato de os homens demorarem a buscar ajuda médica, encontrando-se assim com quadros mais graves de transtornos mentais”, acrescentam.


Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano 2000 houve cerca de 1 milhão de mortes por suicídio, enquanto o número de tentativas de suicídio pode ser até 20 vezes maior. A estimativa é que a cada 40 segundos uma pessoa morre no mundo em decorrência do suicídio, problema que está entre as três principais causas de morte na população entre 15 e 44 anos. Na mesma faixa etária, as lesões ou traumas decorrentes das tentativas de suicídio são a sexta maior causa de problemas de saúde e incapacitação física. “Além do acesso ao tratamento dos transtornos mentais, são necessárias políticas públicas que enfatizem o controle de meios e respostas sociais à redução do comportamento suicida”, recomendam os pesquisadores.


Publicado em 18/1/2010.

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