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31/01/2017

Memórias destaca diagnóstico de leishmaniose visceral em cães

Maíra Menezes (IOC/Fiocruz)


Considerando os desafios para o diagnóstico da leishmaniose visceral canina nos locais com carência de recursos para a realização de testes laboratoriais, pesquisadores desenvolveram um método baseado na avaliação dos sinais clínicos apresentados pelos animais. A ideia é estabelecer uma metodologia sem custo que possa ajudar os veterinários a identificar a doença de forma confiável. O estudo realizado por cientistas do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia), Universidade Federal do Piauí (UFPI), Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Investigação em Imunologia é um dos destaques da edição de janeiro da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, que pode ser acessada gratuitamente online.

O diagnóstico dos cães é importante na medida em que o ciclo da forma humana da doença envolve esses animais. O método tem como base a avaliação da presença, ausência ou intensidade de 14 sinais clínicos da leishmaniose visceral canina, incluindo manifestações sistêmicas, de pele e oculares. Cada sinal ganha uma pontuação, gerando uma nota final, que varia entre 0 e 19. Analisando as pontuações observadas em 56 animais com diagnóstico laboratorial confirmado da doença e outros 129 com resultado negativo para o agravo, os pesquisadores identificaram que notas a partir de 6 podem ser consideradas para indicar o diagnóstico da leishmaniose visceral canina. Segundo os cientistas, testes envolvendo um número ainda maior de animais devem contribuir para confirmar a sensibilidade e especificidade do método. Considerando a grande dificuldade para realizar testes sorológicos e de cultura em muitas áreas endêmicas, a ferramenta pode se tornar uma aliada importante de veterinários. Leia o artigo.

Com auxílio da genética

Entre os dez estudos publicados na revista Memórias está também uma análise sobre o potencial dos avanços no campo da genética para a busca de novos inseticidas. No artigo de revisão, pesquisadores da Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos, lembram que a resistência aos inseticidas se tornou um problema crescente em função do uso indiscriminado dos produtos, da baixa diversidade de mecanismos de ação e da carência de novos compostos em desenvolvimento. Nos últimos anos, porém, os avanços tecnológicos e a redução de custos permitiram o sequenciamento dos genomas de diversas espécies transmissoras de doenças, abrindo portas para novas descobertas.

Segundo os cientistas, apenas no banco de dados VectorBase, há informações sobre 60 vetores, incluindo 28 espécies de mosquitos dos gêneros Aedes, transmissores da dengue, zika e chikungunya; Anopheles, responsáveis pela transmissão da malária; e Culex, envolvidos na propagação da febre do Oeste do Nilo e outras doenças. Análise desses e outros dados tem permitido identificar moléculas importantes para a biologia dos insetos, que podem ser alvo da ação de novos inseticidas. Entre as possibilidades já detectadas, o artigo destaca um grupo de moléculas conhecido como receptores acoplados à proteína G, que tem sido investigado em pesquisas recentes, sendo apontado como um alvo promissor na busca por novos compostos. Confira o estudo.

Infecção pelo Trypanosoma cruzi

A prevalência da infecção pelo Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas, entre imigrantes bolivianos que vivem em São Paulo é o tema de outra pesquisa destacada no periódico. A investigação contou com a participação de 633 voluntários frequentadores de unidades básicas de saúde de São Paulo. A prevalência do agravo foi de 4,4%, número um pouco menor do que o observado para a população boliviana em geral, que fica em 6,8%. Os casos foram mais frequentes entre as pessoas que tinham trabalhado em atividades rurais na Bolívia, conheciam o vetor da doença e possuíam parentes com a infecção. Considerando a taxa encontrada, os cientistas estimaram que a doença pode afetar entre oito mil e 18 mil imigrantes no estado.

Para os cientistas, a menor prevalência do agravo no grupo investigado pode estar relacionada ao perfil dos imigrantes, que, em maioria, são jovens e saudáveis. Além disso, grande parte tem origem no departamento de La Paz, região da Bolívia com menores índices de infecção. Os pesquisadores destacam que o impacto dos números registrados sobre o total de pacientes com a doença de Chagas crônica no Brasil – estimado em 1,2 milhão – é pequeno. No entanto, considerando que, na maioria das vezes, os casos foram detectados em imigrantes jovens, a informação deve servir de alerta para que os centros de saúde brasileiros possam atuar no diagnóstico do agravo e na prevenção da transmissão vertical, que pode ocorrer durante a gestação. O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo, Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e Faculdade de Ciências Medicas da Santa Casa de São Paulo. Acesse a pesquisa.

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