09/04/2021
Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)
A Fiocruz recebeu nesta sexta-feira (9/4) a visita do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Ele conheceu a fábrica do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), que está produzindo a vacina contra a Covid-19, participou de uma reunião de trabalho com dirigentes da Fundação e foi testemunha de um amplo acordo de cooperação tecnológica firmado entre a Fiocruz e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Queiroga disse que a Fiocruz começará a produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), o que permitirá que a vacina seja 100% brasileira, o que ele classificou como “uma conquista nacional”. Ao lado da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, o ministro reafirmou que a meta do governo é vacinar pelo menos 1 milhão de brasileiros por dia e que conta com Bio-Manguinhos para atingir essa meta. Segundo Nísia, a vacina feita com IFA nacional deverá estar disponível em setembro.
Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga participa de uma reunião de trabalho com dirigentes da Fundação (foto: Peter Ilicciev)
“Um ano atrás, Ministério da Saúde, Fiocruz e Unifesp se juntaram para iniciar esse projeto, que hoje é uma realidade, o de uma vacina produzida no Brasil, por meio da parceria com a Universidade Oxford e a empresa AstraZeneca. Hoje a Fundação está produzindo o imunizante com IFA importado mas em breve fabricará o insumo, o que levará o país a outro patamar e nos dará autonomia nesse campo”, afirmou o ministro. Ele comentou que o Ministério da Saúde (MS) não dispõe de “vara de condão” para resolver todos os problemas, mas que trabalha todos os dias para levar soluções à população.
Queiroga também louvou a atuação da Fiocruz e do Instituto Butantan, os dois laboratórios públicos que têm conseguido levar o imunizante contra a Covid-19 a milhões de brasileiros. “São duas instituições estratégicas do Estado brasileiro, com longa trajetória de benefícios e conquistas e que apostam na ciência para resolver os problemas da saúde pública”.
Em relação a medidas contra a pandemia, o ministro comentou que o governo federal também vai reforçar a importância do uso de máscaras e do distanciamento físico. Mas que a implantação de medidas extremas precisam ser avaliadas com cuidado, sempre tendo em vista a realidade de cada estado ou município. “O que importa é ampliarmos a vacinação, e contamos com Fiocruz e Butantan para essa tarefa”. Queiroga ressaltou que o MS tem mantido conversas, por meio do Ministério de Relações Exteriores, com embaixadores de alguns países para que outras soluções possam ser encontradas.
Em relação a medidas contra a pandemia, o ministro da Saúde comentou que o governo federal também vai reforçar a importância do uso de máscaras e do distanciamento físico (foto: Peter Ilicciev)
Para a presidente da Fiocruz, a vacinação é uma solução para vencer a crise sanitária, aliada a outras medidas, como o uso de máscara, o isolamento físico, a testagem e a confiança no Sistema Único de Saúde. Ela disse que este tempo de pandemia deve ser, para todos, um aprendizado que leve ao reconhecimento da importância da ciência e da tecnologia. “Vamos conseguir entregar, ainda neste mês, 18,8 milhões de doses da vacina e em maio mais 20 milhões. Até julho serão 100,4 milhões de doses”. Nísia aproveitou o momento para elogiar o esforço de todos os trabalhadores, técnicos e pesquisadores da Fiocruz envolvidos no projeto. “Estamos caminhando com firmeza em nossos cronogramas”.
O diretor do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), Maurício Zuma, afirmou que no final de abril haverá uma visita técnica da Anvisa para certificar as instalações da nova planta em que será produzido o IFA nacional. “Acredito que em maio ou mais tardar em junho já teremos começado essa produção. Um lote leva 45 dias para ficar pronto, porque passa por várias certificações e validações. Depois pediremos à Anvisa que conceda uma alteração no registro da vacina, incluindo então o novo local de fabricação do IFA. Não mais a China, mas o Brasil”. Zuma acrescentou que todo esse processo de certificações e validações pode levar meses até a sua conclusão.
A reitora da Unifesp, Soraya Soubhi Smaili, presente ao evento para a assinatura do acordo de cooperação com a Fiocruz, sublinhou que vê com muita satisfação a parceria da Fundação com a antiga Escola Paulista de Medicina, instituição que completará 90 anos em 2022 e que deu origem à universidade. “Nossas instituições já interagem há décadas e agora daremos um passo ainda maior. Ficamos ainda mais próximos devido à vacina de Oxford, agora produzida no Brasil pela Fiocruz e cujos ensaios clínicos de fase 3, no país, foram conduzidos pela Unifesp. E um dos itens da parceria que hoje firmamos é justamente este, o de desenvolver estudos sobre a efetividade das vacinas”.
Reitora da Unifesp, Soraya Soubhi Smaili esteve presente ao evento para a assinatura do acordo de cooperação com a Fiocruz (foto: Peter Ilicciev)
Outros pontos da parceria dizem respeito a pesquisas sobre a Atenção Básica em Saúde, as variantes de preocupação do novo coronavírus e os impactos sobre o SUS, a epidemiologia da Covid-19 em relação às consequências em ambientes escolares e a pesquisa & desenvolvimento na inovação tecnológica e social. “É a pesquisa científica brasileira investigando e dando as respostas que o país precisa. São duas instituições federais produzindo conhecimento”, afirmou Soraya, que está concluindo seu segundo mandato como reitora da Unifesp e fez uma homenagem às 69 universidades federais brasileiras.
Antes da coletiva o ministro Queiroga participou de uma reunião de trabalho na Fiocruz, na qual apresentou parte dos secretários do Ministério da Saúde que compõem sua gestão. Uma das participantes foi a enfermeira Francieli Fantinato, que está à frente da recém-criada Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. Em sua intervenção, a presidente Nísia fez um balanço das ações da Fiocruz na pandemia, em especial sobre o desenvolvimento da vacina Covid-19.
O ministro Queiroga participou de uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira (9/4) na Fiocruz (foto: Peter Ilicciev)
Parte da comitiva do ministro conheceu a Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19 (Unadig), um conjunto de plataformas automatizadas, dotadas de equipamentos que permitiram ampliar o processamento das amostras de pacientes com suspeita da doença. O setor funciona ininterruptamente, 24 horas por dia, sete dias por semana e faz parte da estratégia para aumentar a capacidade de realização de exames diagnósticos moleculares para o Sars-CoV-2 e também do processamento de exames em tempo reduzido. O encontro contou ainda com a participação do secretário municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Daniel Soranz, e de dirigentes da Fiocruz.