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12/09/2014

Mulheres e crack: artigo reafirma as diferenças de gênero

Graça Portela /Ascom Icict


Acaba de ser publicado mais um trabalho que aborda a questão das mulheres no uso do crack. Desta vez, foi um artigo de Neilane Bertoni, do Laboratório de Informação em Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica (Icict/Fiocruz), intitulado Exploring sex differences in drug use, health and service use characteristics among young urban crack users in Brazil, que está disponível desde 28 de agosto no International Journal for Equity in Health, periódico da prestigiosa Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos. O artigo apresenta o detalhamento da pesquisa que foi feita em Salvador e no Rio de Janeiro, publicado em setembro de 2013 pelo International Journal of Drug Policy. Chama atenção no artigo de Neilane Bertoni a informação de que há diferenças marcantes entre homens e mulheres no uso do crack. Por exemplo, enquanto na população brasileira o uso do tabaco está em queda, dentre os usuários de crack os números são elevados, sendo que dentre as mulheres 88,6% fumam contra 78,2% dos homens pesquisados.

As diferenças por gênero chamam atenção, pois demonstram a acentuada vulnerabilidade da mulher nas questões que envolvem a adicção ao crack

 

No Rio e em Salvador, conforme mostra o artigo de Bertoni, em relação à prática sexual, 62,9% das usuárias de crack não utilizam camisinha, contra 60,5% dos homens. A troca de sexo por crack é praticada por 28,6% das mulheres; já entre os homens é de 4%. Embora a maioria das mulheres tenha feito testes para HIV e hepatites C e B, 18,9% apresentaram sorologia positiva contra 4,1% dos homens. Para hepatite B e C, respectivamente para mulheres, os resultados foram 28,1% e 90,6%. Já para os homens, os resultados foram 13,9% e 81,2%. As diferenças por gênero chamam atenção, pois demonstram a acentuada vulnerabilidade da mulher nas questões que envolvem a adicção ao crack, que podem interferir de modo relevante em sua saúde sexual e reprodutiva, além de apresentar consequências adversas em relação à morbimortalidade materno-fetal e infantil.

Neilane Bertoni já havia feito uma análise sobre a situação das mulheres, com os dados da Pesquisa Nacional sobre o Uso de Crack, em entrevista ao site do Icict. Segundo ela, “as mulheres fazem uso mais intenso da droga em relação aos homens, a média foi de seis anos de uso para as mulheres e sete anos para os homens. O consumo médio por dia para as mulheres é de 21 pedras de crack e para os homens é de 13 pedras.” A pesquisadora também ressalta que “quase metade delas reportaram já terem sofrido violência sexual pelo menos uma vez na vida, o que é um quadro bastante chocante. Dentro dessa população de excluídos, essas mulheres seriam as excluídas dentre os excluídos. Elas são ainda mais vulneráveis”.

O artigo publicado no International Journal for Equity in Health teve também como co-autores Chantal Burnett e Benedkikt Fischer (Centre for Applied Research in Mental Health and Addiction, Faculty of Health Sciences), Simon Fraser (University/Canada and Social & Epidemiological Research, Centre for Addiction and Mental Health/Canada), Marcelo Santos Cruz e Erotildes Leal (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Tarcísio Andrade (Universidade Federal da Bahia) e Francisco Inácio Bastos (Lis/Icict/Fiocruz).

Leia aqui o artigo Exploring sex differences in drug use, health and service use characteristics among young urban crack users in Brazil.

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