Agência Fiocruz de Notícias

Está disponível para leitura e download a 28ª edição do Radar Saúde Favela, informativo editorado pela Coordenação de Cooperação Social da Fiocruz. A nova edição destaca a temática do direito à vida e maternidade na favela de Acari, Zona Norte do Rio de Janeiro. O número também apresenta debates sobre gestação, psicologia e escuta no cárcere, políticas públicas e a saúde da mulher negra. Acesse a nova edição do Radar Saúde Favela. 

Em Debates, seção que tem como objetivo amplificar vozes e demandas de movimentos sociais, organizações e lideranças de favelas e periferias, o texto Esperançar: gestação, apoio mútuo, direito à vida e maternidade na favela de Acari é assinado por Flavia Casciano, mãe, doula formada pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), educadora perinatal, consultora em lactação e militante no combate à violência e ao racismo no ambiente obstétrico. A autora denuncia a mortalidade materna no território de Acari.  

Segundo dados do Observatório Epidemiológico do Rio (EpRio), entre 2010 e 2019, a maternidade Municipal Mariana Crioula, que era situada no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, localizado no território de Acari, registrou o maior número de óbitos maternos na cidade do Rio de Janeiro, representando quase 20% de todas as mortes no município somente em 2019. No contexto da pandemia de Covid-19, a maternidade foi fechada pois o hospital foi designado exclusivamente para o tratamento da doença. 

O fechamento da maternidade municipal marca o nascimento do projeto Gestarte, fundado em agosto de 2021, no começo da abertura pós pandemia, acolhendo muitas gestantes do território em estado de vulnerabilidade. “Todas as gestantes do grupo que não estavam na primeira gravidez já tinham perdido um ou mais filhos na gestação ou no pós-parto imediato. Ali entendi que o trabalho não era só sobre rede de apoio e acolhimento, mas sobre salvar vidas e ressignificar a maternidade”, destacou Flavia Casciano.  

Em Memória, seção dedicada ao passado de favelas e periferias, a nova edição do Radar Saúde Favela traz a visão da Defensora de Direitos Humanos, Heloísa Helena Costa Berto, Iyalorisá Luizinha de Nanã. O texto São das pernas de uma mulher negra que escorre a estrada da história é um relato sobre ancestralidade, saúde e negligência médica e a falta de atendimento emergencial e ambulatorial adequados. O depoimento também denuncia a culpa que reside nas políticas públicas que regem o sistema de saúde no Brasil. 

“Este sentimento de que nós mulheres negras e pobres andamos sempre em círculos quando se trata de saúde é desesperador. Somos a base da pirâmide social e econômica, vivemos vagando à procura de trabalho e nossas caminhadas são difíceis e repletas de restrições”, relatou.  

Nesta edição, a seção Ensaios apresenta o contexto da psicologia e escuta no cárcere através da experiência profissional como de Helbert de Almeida, psicólogo, arte educador, professor de yoga e ativista dos direitos humanos. Hebert foi estagiário junto ao setor Psicossocial do Complexo Penal Feminino da Mata Escura, localizado em Salvador, Bahia. “Acredito que a fala e a escuta possibilitam que atravessemos algumas angústias de maneira mais humanizada, e promovam o mínimo de dignidade a quem passa pelo cárcere”, afirma Helbert. O autor relata que, durante as escutas, apareciam muitas queixas de violência doméstica na infância, na vida adulta, vulnerabilidade social, abusos sexuais, e sobre o mundo do trabalho e do crime.  

Encerrando a 28ª edição, a seção O que tá pegando apresenta a matéria de cobertura do II Encontro Regional de Pré-Vestibulares Populares do Sudeste, assinada pela jornalista do Portal Favelas, Renata Dutra. O evento foi realizado pelo Fórum de Pré-Vestibulares Populares do Rio de Janeiro, juntamente com o Projeto Tecendo Diálogos, Educafro, Podemos + e a Fundação Oswaldo Cruz, e tinha como objetivo debater as formas de ingresso e permanência no ensino superior, dos alunos de pré-vestibulares dos quatro estados da região sudeste. 

Radar Saúde Favela  

O Radar Saúde Favela é um projeto da Coordenação de Cooperação Social da Presidência da Fiocruz voltado a vigilância popular em saúde nas favelas e periferias dos centros urbanos. O site Radar Saúde Favela, lançado em fevereiro de 2023, reúne as narrativas sobre saúde de moradores, lideranças populares e movimentos sociais. Artigos de opinião, podcast, vídeos e a própria edição da revista (desde agosto de 2020) são alguns dos formatos publicados pelo projeto. Lideranças e comunicadores populares podem enviar sugestões de pauta, matérias e crônicas sobre a saúde em seus territórios a qualquer momento para o e-mail: radarsaudefavela@fiocruz.br.