A Fiocruz Pernambuco iniciou o recrutamento de pessoas para participar da fase III dos testes da vacina da dengue, produzida pelo Butantan, no estado. O trabalho está sendo realizado no Engenho do Meio, na zona Oeste do Recife. Uma equipe formada por enfermeira e pesquisadora está visitando casas em áreas do bairro escolhidas por sorteio, das 17h às 21h, horário no qual todos os membros das famílias estão em casa. Na visita, os moradores recebem informações sobre os testes e são convidados a participar. A proposta é recrutar 1.200 pessoas.
“Todas as vacinas que chegaram ao mercado precisaram antes ser testadas em humanos para verificar se elas davam o resultado esperado. Então é muito importante a colaboração das pessoas, que elas queiram participar dessa fase de teste”, explica a pesquisadora da Fiocruz Pernambuco Cynthia Braga, que está coordenando o recrutamento. “Aceitando é agendado um exame físico e entrevista com o candidato. Apto a fazer parte do teste, ele é vacinado e acompanhado por cinco anos”, completa Cynthia.
Podem participar dos testes pessoas saudáveis, que tiveram ou não dengue, com idade entre 2 a 59 anos. Durante o período do estudo, os participantes serão acompanhados por uma equipe de saúde para verificar a duração da proteção oferecida pela vacina, que é feita de vírus vivo enfraquecido e protege contra os quatro tipos do vírus dengue. Primeiro serão vacinadas pessoas com idade entre 18 e 59 anos, em seguida os que têm entre 7 e 17 e por último os de 2 a 6 anos.
Do total de participantes, 2/3 receberão a vacina e 1/3, placebo, uma substância com as mesmas características da vacina, mas sem efeito. A finalidade é descobrir, a partir de exames, se quem tomou a vacina ficou protegido e quem tomou o placebo contraiu ou não a doença. Os participantes serão transportados para a Fiocruz Pernambuco e de lá para casa de carro e receberão atestado médico para cada dia que precisarem vir ao Centro de Pesquisas.
Essa terceira etapa de testes clínicos da vacina envolverá o total de 17 mil voluntários e tem por objetivo comprovar a eficácia da vacina. Os testes já estão em andamento em Manaus (AM), Boa Vista (RR), Porto Velho (RO), em três centros no Estado de São Paulo (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto e Santa Casa de Misericórdia de São Paulo), em Fortaleza (CE), Aracaju (SE), além de Porto Alegre (RS), Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT).
Histórico
Em 2008, o Instituto Butantan firmou parceria de colaboração com os Institutos Nacionais da Saúde dos Estados Unidos (em inglês National Institutes of Health, NIH), passando a desenvolver, no Brasil, uma vacina similar a uma das estudadas pelo instituto americano, composta pelos quatro tipos de vírus da dengue. Um dos grandes avanços do Butantan no desenvolvimento da vacina foi a formulação liofilizada (em pó), que garante a estabilidade necessária para manter os vírus vivos em temperaturas não tão frias, permitindo seu armazenamento em sistemas de refrigeração comum, como geladeiras, além de aumentar o período de validade da vacina para um ano.
Nas etapas anteriores, a vacina foi testada em 900 pessoas: 600 na primeira fase de testes clínicos, realizada nos Estados Unidos pelo NIH, e 300 na segunda etapa, realizada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (através do Hospital das Clínicas e do Instituto da Criança) e com o Instituto Adolfo Lutz.
Ter a vacina desenvolvida e produzida por um produtor público nacional é uma vantagem competitiva para o Brasil, pois garante a disponibilidade do produto, permitindo a autossuficiência produtiva, além de garantir preços mais acessíveis.
Confira cidades e centros de pesquisa que estão recrutando voluntários: