A Fiocruz sediou, na última quarta-feira (1º/11), uma reunião com uma comissão de 15 deputados da União Europeia (UE) em seu campus em Manguinhos, no Rio de Janeiro. Estiveram em pauta assuntos como o acordo comercial entre a UE e o Mercado Comum do Sul (Mercosul), a importância do investimento público em ciência e tecnologia e cooperação internacional em saúde. Durante o evento, o coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fiocruz (Cris/Fiocruz), Paulo Buss, manifestou sua esperança de que o tratado realmente assuma, como um de seus centros, as questões da ciência e tecnologia, e da formação de recursos humanos. Segundo ele, “o mundo ficará muito melhor se a UE e o Mercosul se aproximarem e forem solidários no campo da saúde”.
Fiocruz sediou reunião com 15 deputados da UE em Manguinhos, no Rio de Janeiro (foto: Pedro Linger)
De acordo com o pesquisador, esta aproximação, todavia, necessariamente envolverá o setor público: na reflexão, Buss afirmou que “quando pensamos na globalização, temos pensar em processos win-win, mas não podemos esquecer que o Estado tem a legitimação da população para exercer autoridade de saúde no território. Não podemos abrir mão do papel do estado e dos governos na saúde das populações; não será a mão invisível do mercado quem resolverá isso, mas sim instituições públicas”.
Paulo Buss expressou ainda duas mensagens principais: em primeiro lugar, um pedido para que “o parlamento europeu mantenha o apoio em momento de crise muito severa, no qual a ciência brasileira vem sofrendo muito. Esperamos que a UE possa ajudar instituições brasileiras de saúde”. Seu segundo ponto foi um chamado para a comunidade europeia estar “aberta ao trabalho conjunto com instituições na Ásia, na África e na América Latina que, embora não estejam na Europa, necessitam agudamente de ajuda da UE e de instituições como a Fiocruz. Tivemos o caso do ebola e temos várias questões como a fome e distribuição colocadas como grandes desafios à comunidade internacional e precisamos estar à altura do desafio”.
Ao representar a Presidência da Fiocruz, o vice-presidente de Pesquisa e Coleções Biológicas, Rodrigo Correa-Oliveira, apontou que a Fiocruz já tem diversos acordos de cooperação com a União Europeia, incluindo três programas dedicados ao estudo do vírus zika - dentre eles, um estudo de coorte, atualmente em andamento, considerado fundamental para a compreensão da doença. Outra iniciativa mencionada por Correa-Oliveira foi o programa H2020, que pode levar pesquisadores brasileiros para períodos de pesquisa no continente europeu. O vice-presidente também ressaltou que as pesquisas desenvolvidas pela Fundação são sempre ligadas a saúde humana, conduzida de modo que o “conhecimento gerado dentro da Fiocruz possa ser traduzido em processos, protótipos e inovações que beneficiem a saúde da população”.
Dentre os deputados europeus, Fernando Ruas, de Portugal, que presidiu a delegação no Brasil, reforçou a importância da cooperação em saúde. “É uma área fundamental, não apenas porque sempre houve problemas a serem resolvidos, não apenas porque populações são maiores, mas também porque as populações são globais conforme a globalização avança”. Ruas afirmou também que um bom acordo de associação entre a UE e o Mercosul “não será apenas comercial. Se há problemas de empoderamento termos de patentes, de como financiar pesquisa ou como passar da fase de investigação para mercados públicos, teremos que pensar nisso e desenvolver soluções. Teremos que tirar o melhor para todos”.
Lambert Van Nistelrooij, deputado dos Países Baixos, afirmou partir "do caráter público desta Fundação”. Segundo ele, em um programa futuro da União Europeia haverá “um chamado global para apoiar instituições como essa”. Van Nistelrooij também parabenizou os cientistas brasileiros pelo trabalho relacionado ao vírus zika, que, segundo ele, chegou a ameaçar seu país, devido à relação próxima com as Antilhas.
Presidente da delegação europeia no Mercosul, Francisco Assis fez defesa do tratado comercial entre os organismos internacionais. Segundo ele, o acordo “não é unicamente comercial, mas visa a criação de um espaço comum nos mais diversos domínios, incluindo a inovação e organizações tecnológicas. A criação de um espaço comum de investigação científica é muito importante e não pode ser desenvolvida como se a zona mais desenvolvida fosse dar apoio a zona menos desenvolvida. Visitei todos países do Mercosul e conheci zonas de investigação científica muito avançada, da qual também nos beneficiaremos”. Assis destacou também que os “cientistas portugueses por exemplo são profundos defensores do aprofundamento da União Europeia, porque querem participar em um espaço conjunto e comum de investigação científica. Eles ganham muito com a cooperação em seus laboratórios”.