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08/12/2017

Novo documentário da VideoSaúde aborda luta de direitos em conferências de saúde

Graça Portela (Icict/Fiocruz)


No próximo dia 13 de dezembro, em evento conjunto com a Editora Fiocruz, a VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz lançará o dvd O que nos move, do Selo Fiocruz Vídeo, dirigido pela jornalista e documentarista Daniela Muzi. O documentário de 62 minutos traz a participação de três personagens: Eronides, 33 anos, carioca, militante pelos direitos das pessoas com anemia falciforme; Michely, 29 anos, paranaense, ativista pelos direitos da população negra; e Carlivan, 30 anos, maranhense, que luta pelos diretos das pessoas com deficiência – durante a 15ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília no ano de 2015, que foi marcada pela recepção na Câmara dos Deputados, do pedido de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. 

O documentário mostra “as expectativas, tensões, conflitos, olhares e não olhares, falas e momentos de silêncio” dos três delegados, representantes dos usuários na Conferência, além de mostrar a participação deles nas grandes audiências e grupos de trabalho, as conversas durante o almoço, as andanças pelso corredores, a coleta de assinaturas para uma moção, o fim do dia de trabalho.

Doutoranda na área de Comunicação e Saúde do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS) do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), Daniela Muzi explicou ao site do Icict/Fiocruz que a ideia do documentário era “mostrar o árduo trabalho desses guerreiros e guerreiras conhecidos como conselheiros de saúde e assim prestar uma homenagem aos lutam pelo nossos direitos nas Conferências de Saúde”. A seguir, leia a entrevista concedida pela diretora do documentário O que nos move:

Icict/Fiocruz: Como foi o making of do filme?

Daniela Muzi: O filme tem como referência o cinema direto, tradição cinematográfica onde o documentarista acompanha a ação sem influenciar na mesma. Seguimos três delegados representantes dos usuários, um em cada dia da 15ª Conferência. O documentário segue a ordem cronológica dos acontecimentos pelo ponto de vista dos conselheiros de saúde, sem nenhuma entrevista, apenas seguindo o desenrolar da ação. A naturalidade com que os personagens ficam diante da câmera, que os seguia durante todo o dia, é impressionante. 

Icict/Fiocruz: O que moveu você a fazer esse filme?

Daniela Muzi: O filme parte de reflexões do campo da Comunicação & Saúde, do qual sou pesquisadora. A cobertura das conferências nacionais de saúde é geralmente centrada na gravação das plenárias e entrevistas com delegados e autoridades entre uma sessão e outra. Há claro predomínio dos discursos de personalidades do campo da saúde, especialistas, pesquisadores, gestores. Mas quem já participou ou acompanhou um evento como esse sabe que há muita conferência além das plenárias e muitas vozes nem sempre ouvidas. Acreditando que é preciso mudar o foco – das práticas e formas de expressão há muito arraigadas – realizamos um documentário que mostra as expectativas, tensões, conflitos, os olhares, não olhares, as falas e momentos de silêncio para tentar descobrir "O que nos move” em defesa do SUS. A ideia/inspiração surgiu a partir da matéria Muito prazer, delegadas!, escrita pela jornalista da revista Radis, Ana Cláudia Peres. Com uma ideia na cabeça e a "câmera na mão" do Paulo Castiglioni Lara, surge O que nos move.

Icict/Fiocruz: Por que é importante debater o SUS e a saúde na democracia?

Daniela Muzi: O SUS é a maior política pública do país e, como diz na Constituição, "A saúde é um direito de todos". A 15ª Conferência Nacional de Saúde entrou para história, pois além de ter sido uma das conferências mais populares depois da 8ª Conferência, foi marcada pelo aceite do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, logo não foi discutido apenas a saúde da população, tratou-se também da saúde da democracia. Hoje, ao ver a situação do SUS, acredito cada vez mais na ideia defendida por Sergio Arouca e pelo movimento da Reforma Sanitária, "Saúde é democracia, democracia é saúde".

Icict/Fiocruz: Quais as dificuldades e ambiguidades de se cobrir a Conferência Nacional de Saúde?

Daniela Muzi: A dificuldade era escapar da cobertura oficial e institucional do evento sendo uma equipe da VideoSaúde Distribuidora da Fiocruz, pois queríamos fazer um filme sobre os bastidores da Conferência a partir do olhar dos delegados. Para a nossa alegria isso ficou impresso no filme em diversos momentos, seja pelas dificuldades de acesso que nossa equipe teve em determinados momentos, pelas surpresas e revelações.

Icict/Fiocruz: Ao escolher três personagens da luta pelo SUS livre e democrático, você optou por não entrevistá-los, mas mostrar a participação deles na Conferência. Por que essa abordagem?

Daniela Muzi: Um dos desafios do filme foi estabelecer o diálogo com os princípios do SUS em seu fazer e buscar outras formas de expressão mais equânimes, que contribuam para que as vozes menos ouvidas circulem mais. A seleção de personagens representantes de usuários de três diferentes regiões do país e o acompanhamento das suas ações em momentos que vão além dos grupos e plenárias em um formato que não opta pela tradicional entrevista foi o caminho encontrado. Sem um roteiro definido, pudemos acompanhar a ação dos personagens e sermos suscetíveis ao movimento de cada um, o que permitiu à equipe ser menos protagonista e mais coadjuvante nessa narrativa que se apropria da potencialidade da linguagem audiovisual para tratar de um dos princípios mais caros do SUS, a participação social.

Icict/Fiocruz: Há alguma programação especial para divulgar o filme entre os membros que participaram da CNS? 

Daniela Muzi: Tivemos a oportunidade de exibir o trailer estendido para os conselheiros nacionais de saúde na 296ª Reunião Extraordinária do CNS, que aconteceu em agosto deste ano na Fiocruz, e a sessão foi cheia de emoção e afeto. Na ocasião, Ronald dos Santos, presidente do Conselho Nacional de Saúde, se animou em lançá-lo em Brasília. Essa é a nossa expectativa, lançá-lo em parceria com o Conselho e o Canal Saúde, coprodutor do filme. Espero que dê certo.

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