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08/12/2017

Novo método de nutrição de mosquitos auxilia manejo de Aedes

Glória Galembeck (Projeto Eliminar a Dengue / Fiocruz)


Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desenvolveram uma dieta artificial para Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que são os mosquitos utilizados pelo projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, coordenado pela Fiocruz. A adoção da nova técnica, em substituição ao sangue humano na alimentação dos mosquitos, trará mais agilidade ao manejo dos insetos. A iniciativa Eliminar a Dengue constitui uma alternativa natural, segura e autossustentável de combate a dengue, zika e chikungunya, e, por utilizar o próprio mosquito no combate às arboviroses, é um método inovador.

O artigo Development and physiological effects of an artificial diet for Wolbachia-infected Aedes aegypti foi publicado na revista científica online Scientific Reports, que integra o grupo Nature e abrange todas as áreas das Ciências Naturais. Um dos resultados verificados na pesquisa é que a alimentação artificial não interfere na ação da Wolbachia nos mosquitos. “Com a dieta, haverá economia de tempo e recursos porque não precisaremos mais fazer todos os testes que são necessários para identificar possíveis infecções no sangue humano”, observou o pesquisador Luciano Moreira, líder do Eliminar a Dengue: Brasil e um dos coautores do artigo. 

Para se chegar à dieta de que trata o artigo, o primeiro passo foi analisar os componentes do sangue humano necessários para o desenvolvimento da Wolbachia e então produzir uma fórmula que contenha esses elementos. A bactéria precisa do ferro presente nas hemácias e do colesterol presente no plasma do sangue para poder se replicar e permanecer viva dentro do mosquito. Os testes consistiram em verificar a eficiência dos nutrientes usados na fórmula.

Foram realizados mais de 30 experimentos diferentes em um ano e meio de testes até se chegar à composição final. A fórmula utiliza o APS, que é uma solução fisiológica criada para o Aedes, rica em sais minerais, o Alfaré, fonte de proteína proveniente de um leite especial produzido para bebês, o Whey Protein, que é a proteína do soro do leite, sangue bovino e ATP, que é um fagoestimulante (utilizado para atrair os mosquitos a consumir a dieta). “A ideia é, num futuro próximo, chegar em uma alimentação que seja totalmente artificial. Assim, poderemos ter um número esperado de ovos eclodindo”, afirmou o pesquisador.

Na criação de mosquitos no insetário do Rio de Janeiro, o Eliminar a Dengue: Brasil utiliza a fórmula de forma experimental e tem resultados satisfatórios. “Nós conseguimos uma quantidade significativa de eclosões de ovos, quase tão expressiva quanto conseguimos com alimentação com sangue humano”, explicou Moreira.

É possível fazer com que a fêmea do Aedes aegypti produza muitos ovos, dependendo da alimentação fornecida, mas durante o processo de desenvolvimento é necessária uma quantidade elevada de nutrientes também para a evolução da Wolbachia no embrião. Caso esses elementos não estejam na proporção adequada, a viabilidade do ovo do mosquito é comprometida.

Além de Luciano Moreira, integram a coautoria do estudo os seguintes pesquisadores do Grupo Mosquitos Vetores: Endossimbiontes e Interação Patógeno Vetor, do Instituto de Pesquisas René Rachou (Fiocruz Minas): Heverton Leandro Carneiro Dutra, Silvia Lomeu Rodrigues, Simone Brutman Mansur e Sofia Pimenta de Oliveira. 

Sangue humano descartado

Atualmente, os mosquitos do insetário do projeto Eliminar a Dengue: Brasil são alimentados com sangue humano descartado de bancos de sangue parceiros da Fiocruz, por terem se tornado inadequados para utilização em pessoas devido ao tempo de armazenamento. O sangue é importante para a alimentação de mosquitos fêmeas, que necessitam dos seus componentes para produzir ovos.

Antes de o sangue ser utilizado para a alimentação dos mosquitos, a equipe de diagnóstico do projeto realiza uma análise minuciosa do material doado com o intuito de investigar a existência de infecções sanguíneas, como por exemplo, dengue, zika, chikungunya e febre amarela - doenças que não são diagnosticadas pelos bancos de sangue. Essa etapa garante a segurança na alimentação dos mosquitos.

Eliminar a Dengue

O projeto Eliminar a Dengue: Brasil é parte da iniciativa internacional World Mosquito Program (WMP), que tem sede na Austrália e está presente em outros nove países, além do Brasil. Os mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia são criados no insetário e liberados no ambiente. Esses mosquitos possuem capacidade reduzida de transmitir aquelas arboviroses e, aos se reproduzirem com os Aedes aegypti do campo, geram mosquitos com a mesma característica.

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