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26/11/2021

Números comprovam os efeitos amplamente positivos da vacinação

Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)


A vacinação faz efeito e traz bons resultados. Após dez meses do início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil, em 17 janeiro de 2021, os números de óbitos e hospitalizações causados pela doença vem apresentando uma expressiva queda nas últimas semanas, assim como o número de leitos de UTI ocupados. Segundo os pesquisadores que acompanham a trajetória da Covid-19 no país, esses bons indicadores recentes se devem aos efeitos da ampliação da vacinação, combinada à adoção e à manutenção das medidas não farmacológicas. O Brasil, que tem atualmente cerca de 60% da sua população com o esquema vacinal completo (as duas doses ou a dose única), superando até mesmo o índice dos Estados Unidos, é um forte exemplo de que a vacinação em massa vem cumprindo as metas desejadas. Pesquisas em diversos estados mostram que a vacinação tem reduzido de forma consistente os números de casos e óbitos por Covid-19. Os gráficos do Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz são claros ao mostrar que a queda de óbitos acompanha o crescimento da cobertura vacinal da população.

Segundo o coordenador do Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz, o pesquisador Carlos Machado, “os avanços no processo de vacinação, com sua ampliação e aceleração, vêm surtindo importantes efeitos na redução do impacto da pandemia. As vacinas têm como objetivo reduzir os casos graves e críticos, internações e óbitos, e estão cumprindo esse papel de maneira bastante satisfatória”.

Machado ilustra sua declaração com números e fatos: “aproximadamente em maio, quando tínhamos 10% da população vacinada, conseguimos diminuir a média diária de óbitos de cerca de 3 mil para 2 mil. Em julho, com 20% da população vacinada, foi possível reduzir ainda mais esse número, chegando a uma média de cerca de 1 mil por dia. Em setembro, com 40% de vacinados, alcançamos uma média de 500 óbitos diários. E em novembro, já com 60% de brasileiros vacinados, a média de óbitos diários está em cerca de 250”.

Para Machado, “esses resultados indicam os importantes efeitos do processo da vacinação. Continuando com os avanços e chegando a 80% de vacinados, o Brasil conseguiria reduzir ainda mais os casos críticos, graves, internações e óbitos. As vacinas não têm como objetivo fundamental e principal bloquear a transmissão, ainda que contribuam para isso. Mas têm como objetivo central diminuir esses casos críticos, graves e óbitos. E elas estão conseguindo fazer isso”.

Como sublinha Machado, embora as vacinas não consigam fazer o bloqueio completo da transmissão do vírus Sars-CoV-2, o principal objetivo dos imunizantes é o de redução do impacto da Covid-19, produzindo menos casos graves, internações e óbitos. E isso tem acontecido, como mostram os indicadores. A média móvel de óbitos por Covid-19 no Brasil registrou em outubro uma queda de 87,3% em comparação com o pico da pandemia, devido à vacinação. Em 19 de abril de 2021 o país registrou a maior média móvel de mortes em decorrência da Covid-19: cerca de 3 mil óbitos diários. Em 17 de novembro, com milhões de brasileiros já vacinados com as duas doses ou doses únicas, esse número baixou para 260. 

Na semana epidemiológica de 8 a 15 de novembro, apenas um estado (Rondônia) estava na zona de alerta intermediário de ocupação de leitos de UTI Covid-19 para adultos no SUS. As outras 26 unidades da Federação estavam fora da zona de alerta. Entre as capitais, apenas duas (Porto Velho e Porto Alegre) se encontravam na zona de alerta intermediário, enquanto as demais estava fora da zona de alerta. São avanços obtidos com a vacinação.

Em Botucatu, município paulista no qual está sendo conduzido um estudo de efetividade com a vacina produzida pela Fiocruz, houve uma queda de 97,8% no número de internações por Covid-19 no período de 2 de junho (duas semanas após a primeira dose) a 14 de novembro. Toda a população adulta, entre 18 e 60 anos, recebeu a primeira dose do imunizante em maio, quando a maioria das cidades ainda estava vacinando idosos. O município completou a vacinação dessa faixa em 14 de agosto e há 28 dias (até 17 de novembro) a cidade não tem mortes por Covid-19. O estudo é uma parceria entre a prefeitura, o Ministério da Saúde, o Governo Federal, a Unesp, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, a Fundação Gates e a Fiocruz.

Dados da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul mostram que em 20 de outubro, com 93,3% da população adulta vacinada com pelo menos uma dose, o estado registrou uma queda expressiva nos óbitos por Covid-19. Em 18 de março deste ano chegaram a ser registradas 341 mortes. Desde setembro, em função do avanço da vacinação no Rio Grande do Sul, a variação média diária de óbitos está em cerca de 20.

Um gráfico produzido pela Secretaria de Saúde gaúcha mostra como a campanha de imunização tem salvado vidas. Uma data emblemática é 1º de março de 2021, ligada ao maior número de mortes por Covid-19 no Rio Grande do Sul. Entre as pessoas que apresentaram os primeiros sintomas da doença naquela data, 669 viriam a falecer nos dias e semanas seguintes. A data também ilustra como a vacinação tornou possível a virada contra a pandemia.

Naquele dia, 4,5% dos gaúchos com mais de 18 anos completavam 15 dias desde a primeira dose contra Covid-19, prazo para que a vacina começasse a fazer efeito. E apenas 0,2% tinham completado o mesmo prazo desde a segunda dose, que garante a imunização completa. Pouco menos de dois meses depois, em 28 de abril, 23,1% da população adulta já estava protegida com a primeira dose. O número de pessoas com a segunda dose também subiu, atingindo os 5,9%. Como resultado, houve 78 óbitos de pessoas que apresentaram os primeiros sintomas naquela data.

Outro momento que comprova o efeito da vacina sobre as mortes por Covid-19 é 7 de julho. Com 51,7% de imunizados entre a população adulta e pouco mais de uma em cada cinco pessoas com a segunda dose (20,8%), o recuo no número de mortes era ainda maior. Os 36 óbitos ligados àquela data são menos da metade dos registrados em abril.
Uma queda que se tornou ainda mais aguda em 2 de setembro. Naquele momento, 84,4% da população adulta havia sido imunizada, há pelo menos 15 dias, com a primeira dose, e 41,3% já contavam com a proteção das duas doses. Em consequência, houve 21 óbitos entre as pessoas que iniciaram sintomas na data.

Em outro ponto do país, no Ceará, um gráfico desenvolvido pela Secretaria de Saúde do estado também comprova a eficácia da vacina. Foram cruzados os números de casos e óbitos confirmados por Covid-19 no Ceará em cada uma das semanas epidemiológicas de 2020 e 2021. Os números mostram que o primeiro semestre deste ano é quando há o pico mais substancial da pandemia, com maior número de óbitos e casos.

No segundo semestre, mesmo com mais variantes de preocupação circulando no estado, menos restrições de isolamento social e com a retomada das atividades econômicas e de lazer, os indicadores caíram para níveis mais baixos do que os observados em 2020 – entre os meses de julho e novembro. O motivo, de acordo com a Secretaria, é a vacinação de mais de 6,6 milhões de cearenses com a primeira dose e 5,3 milhões com imunização completa (segunda dose ou dose única).

Em números percentuais, cerca de 86% da população vacinável (a partir de 12 anos) receberam uma dose do imunizante contra a Covid-19, enquanto mais de 70% deste grupo recebeu duas doses ou dose única. Comparando com a população geral do estado, esses números de imunização correspondem a 71,3% (D1) e 57,6% (D2 + DU), respectivamente.

Com a análise do gráfico percebe-se que 2021 teve curvas elevadas mais extensas com óbitos e casos de Covid-19, o que se reflete em números contundentes. Foram 591.481 casos neste ano (até a Semana Epidemiológica 44) ante 352.522 no total do ano passado. Em relação aos óbitos, 2021 registrou 13.627 até o fim de outubro, enquanto em todo o ano de 2020 foram registradas 10.961 mortes pela doença no Ceará.

No momento em que a campanha de vacinação contra a doença foi universalizada, em maio, após as fases de grupos prioritários, a velocidade da imunização foi impulsionada, garantindo um controle maior da pandemia no estado. Os dados do gráfico mostram, por exemplo, que, no momento mais controlado do segundo semestre de 2020, os casos estavam em 4.311 por semana; em 2021, esse número caiu para 554 casos. A mesma diminuição é observada nos óbitos. A semana mais controlada do segundo semestre do ano passado teve 59 mortes. Na deste ano, somente 4.

De acordo com a edição de 17 de novembro do Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz, a taxa de letalidade da doença no Brasil vem caindo, se situando atualmente na faixa de 2,3%. Apesar de ainda poder ser considerada elevada em relação aos padrões internacionais, a tendência comprova a efetividade da campanha de vacinação, que tem por um dos seus objetivos reduzir a gravidade da doença entre os vacinados, evitando internações e óbitos.

A tendência de manutenção desses indicadores, como mostram as análises técnicas, demonstra que a campanha de vacinação está atingindo essa meta. O número de doses aplicadas na população brasileira se aproxima de 300 milhões, dos quais a Fiocruz, por meio de parceria com a Universidade de Oxford e AstraZeneca, produziu uma parcela bastante significativa.

Os pesquisadores da Fiocruz reforçam que, para que esses bons números possam ser ampliados, é fundamental orientar a população para completar os esquemas vacinais com as segundas doses e as doses de reforço e também implementar novas estratégias para alcançar pessoas em localizações mais remotas do país e aquelas que ainda são resistentes à vacina. As autoridades precisam investir todos os esforços para disponibilizar a vacina para todos, esclarecer à população sobre os benefícios comprovados e acelerar o ritmo da imunização da população. 

A vacinação, como defendem os pesquisadores, é a estratégia mais poderosa que existe na luta contra a pandemia. E os ganhos que o Brasil tem alcançado com a ampliação e aceleração da vacinação vêm permitindo que várias atividades sejam retomadas. No entanto, como a vacinação não bloqueia completamente a transmissão da doença, persiste a necessidade de vigilância e alerta permanente, considerando os cenários que envolvem a circulação de variantes de preocupação, que podem ser mais transmissíveis ou de maior letalidade, além da possível perda de imunidade com o tempo decorrido das primeiras doses, o que exige o reforço, principalmente em idosos e portadores de doenças crônicas. Portanto, é forçoso alertar que ainda não se chegou ao momento de abandonar todos os protocolos sanitários com os quais a população passou a conviver desde o início da pandemia.

O Boletim Observatório Covid-19 Fiocruz recomenda repetidamente, a cada edição semanal, que medidas como o uso de máscaras em locais fechados e locais abertos com aglomeração, preservação de distanciamento físico e higiene constantes das mãos permanecem sendo de grande relevância, até porque os pesquisadores afirmam que será preciso conviver com o Sars-CoV-2 e suas variantes ainda por algum tempo. Além disso, para que o controle da pandemia seja ainda mais eficaz, é de grande relevância ampliar a vacinação, para que o Brasil chegue a um patamar ainda maior de pessoas com esquema vacinal completo. O ideal é que a cobertura vacinal alcance o patamar de pelo menos 80% da população vacinada.

Os Centros para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos recomendam a vacinação como estratégia para conter a pandemia, mesmo para os que já se infectaram. Segundo o CDC, “pesquisas ainda não mostraram por quanto tempo você está protegido depois de se recuperar da Covid-19” e “a vacinação ajuda a te proteger mesmo que você já tenha tido a doença” .

É importante ressaltar, como afirmam os pesquisadores da Fiocruz, que a vacinação é uma responsabilidade individual e coletiva, que deve ser apoiada e viabilizada por órgãos de governo e por empresas, de forma que o aumento da cobertura vacinal possa proteger toda a população. E é fundamental que o país continue avançando no processo de vacinação, o que demanda incluir estratégias de grande importância, como a exigência da comprovação de vacinação (o chamado “passaporte de vacina”) nos ambientes de trabalho, como destacado na Nota Técnica do GT Covid-19 nº 05/2021 do Ministério Público do Trabalho.

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