Início do conteúdo

08/04/2015

O HPV e o câncer de colo de útero

Fábio Russomano*


A infecção pelo HPV é a doença sexualmente transmissível (DST) mais comum em nosso meio. Estima-se que 8 entre 10 pessoas têm contato com o HPV. Como é muito comum, a maioria se contamina logo ao início da vida sexual. Não depende de promiscuidade: basta ter tido um parceiro sexual que tenha se contaminado previamente.

Quem recebe esse diagnóstico experimenta decepção, medo e sofrimento.

O HPV é capaz de se manter na profundidade da pele e mucosas numa forma latente, sem produzir doença na maioria das pessoas. Numa minoria, ele pode causar lesões não perceptíveis, mas que podem transmitir o vírus.

Assim, não se justifica condenar seu parceiro simplesmente a partir de algum diagnóstico da presença do HPV. Essa contaminação pode ter ocorrido muito antes de se conhecerem e, dado sua frequência, ambos podem ter sido contaminados.

Há muito preconceito contra pessoas que apresentam DST. Imaginamos que somente pessoas promíscuas tenham essas doenças, mas esse comportamento, apesar de aumentar o risco de contaminações, não é condição para isso. Quando recebemos a informação de sermos portadores do HPV, nos vemos alvo desse preconceito. Todas as pessoas que têm atividade sexual têm risco de ter uma DST ao longo da vida, independente de idade, gênero ou preferências sexuais. Portanto, o melhor é se prevenir usando a camisinha em todas as relações sexuais.

E o câncer?

O câncer do colo do útero depende da presença do HPV, mas ter HPV não significa que a pessoa terá câncer. Da minoria de pessoas que terá alguma manifestação do vírus, muito poucas terão uma lesão que, se não detectada e tratada, poderá progredir até o câncer. Essas representam cerca de 1% de todas as mulheres. A lesão precursora é facilmente identificada pelo “exame preventivo” (ou de Papanicolaou) e pode ser retirada, na maioria das vezes, sem consequências para a mulher.

Outra forma de prevenção do câncer é a vacinação contra o HPV. Incorporada ao Programa Nacional de Imunizações em 2014, é oferecida a meninas entre 11 e 13 anos em escolas e nas unidades básicas de saúde. Essa faixa de idade foi escolhida na tentativa de protegê-las antes de terem iniciado atividade sexual e tido contato com o HPV. Várias evidências mostram grande redução no risco de lesões em meninas e mulheres vacinadas que não tiveram contato prévio com o HPV e ausência de benefício significativo da vacinação nas demais. Todavia, como o produto contém apenas os dois tipos de HPV mais frequentemente relacionados ao câncer, mesmo as meninas vacinadas deverão realizar os exames preventivos a partir dos 25 anos.

Mulher: não perca a oportunidade de se prevenir contra o câncer do colo do útero. Se tiver filhas entre 11 e 13 anos, não deixe de vaciná-las. Se já tiver 25 anos, faça o exame preventivo regularmente. Ele pode ser feito em qualquer unidade básica de saúde, a cada três anos, após dois exames normais com intervalo de um ano.

O maior fator de risco para o câncer do colo não é o HPV, mas a falta do preventivo.

*Fábio Russomano é médico ginecologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz).

Voltar ao topo Voltar